No meu tempo de garoto pequeno, eu era muito pobre, pobre de miséria. Eu nasci em um hospital público, lá na Bahia, e então minha mainha me deu meu nome: José. Meu nome é José Ferreira da Silva, ou como meus amigos me chamaram a vida inteira: Zé. Desde a infância, vivia numa área muito pobre, que se assemelhava a uma favela. Mas não era só eu, era eu, meus 10 irmãos, minha mainha e meu painho. Eram tempos difíceis, pai tinha que trabalhar 3 empregos pra conseguir nos sustentar, quase não ficava em casa, com exceção nos feriados, a qual eu me lembro claramente de ele nos contar sobre como caçava onça na mata.
Ah, não podia me esquecer das nossas brincadeiras, era eu, alguns dos meu irmãos, Rodolfo, Rubesvaldo e Zacarias jogando pelada no chão sujo. Me lembro do que nós falamos:
-Furou! -Não furei! -Furou!
-Ai, meu pé! -Deixe de frescura!
-Zé, essa foi roubada! -Roubada é tua roupa!
Quando chegávamos em casa todos sujos de terra, minha mãe já gritava:
-Vocês vão apanhá!
-Não, mainha!
E aí a chinela voava na gente, dava pra ver o roxo de longe. Quando chegamos atrasados pra casa, minha mãe já dizia:
-A essas horas, fis da peste?!
-Fujam!
Porém, ela era nossa mãe, eu amava muito ela, e eu sei que ela gostava de nós todos, inclusive nosso pai sempre tentava presentear ela com alguma coisa que ele achava, tipo uma flor na rua.
Aos meus 18 anos de idade, me vi obrigado a trabalhar para o exterior, especificamente São Paulo, em busca de novas oportunidades, já que meu pai estava começando a ficar debilitado e não podia trabalhar por muito tempo. Então como medida, eu fui trabalhar em São Paulo, enquanto meus irmãos que sobreviveram foram para vários lugares do Brasil. Imagina minha supresa, eu, pessoa que saiu de um lugar pobre, vindo ver São Paulo, um ambiente tão urbanizado e rico que eu fiquei boquiaberto, nunca vi um lugar tão barulhento aliás. Meu primeiro emprego era pedreiro, tinua que construir muitas construções. Lembro-me de não ter conseguido carregar uma saco de cimento de 10 kg, mas era de se esperar, eu era um jovem magricela, meu supervisor dise pra uma vez:
-Não consegue carregar? É um homem ou um rato?!
-Sou homi! Sou homi!
-Isso mesmo! Assim que se faz, novato, foco e dedicação e força!
Depois de anos e me tornando um homem parrudo, facilmente carregava sacos de cimento de 60 kg em cada braço. A minha casa era localizada na periferia de São Paulo, ela era velha e estava caindo aos pedaços, mas com algumas modificações nela, ficou razoável.
O trabalho era barra pesada, tive que carregar muitas coisas em algumas horas, deixava algo em outro e depois tinha que pegar mais algo e deixar lá também, era contínuo assim, era entendiante às vezes, mas o que importava era o dinheiro no final do mês, era o suficiente pra pagar os impostos, a comida, a água e algumas luxúrias básicas que não tinha quando moleque. Eu sei que quando era domingo, eu ia no bar do Seu Quincas tomar umas cervejas com meus colegas, passar um tempo.
E foi em um certo dia que me apaixonei, estava de saída do trabalho, andando pela praça, quando de longe vi uma menina muito bonita pintando num quadro. Ela era de classe alta, sabia só pelo grande vestido que usava. Rapaz, nunca fiquei encarando alguém por muito tempo, mas criei coragem e fui até ela. Fiquei com receio de ir até ela, porque essas garotas daqui são muito esnobes, nunca trabalharam um dia na vida, pelo visto.
Enfim, quando cheguei nela, ela havia parado pra tomar uma água, uma perfeita oportunidade para conversar. Já fui lançando:
-Oi fia, bela arte.
-Obrigada! -ela dá um sorriso tímido.
-Você é artista, né?
-Sim. -ela fica um pouco escondida.
-Mas por que você quis ser artista?
Essa pergunta fez ela ficar surpresa, ela para responder e finalmente diz:
-Bom, eu sempre gostei de desenhar quando criança, e também tinha uma imaginação boa até. E quando eu passeava pelos museus em Paris, eu ficava encantada com as belas artes e...
-Pera, você foi pra França?
-Sim! Tanto que eu sei francês fluentemente! Além de inglês e agora estou aprendendo alemão, só que não sou tão boa nele.
-Oxênte, tu sabe falar essas línguas e eu que não sei falar português direito!Ela começa a gargalhar, mas responde em seguida, tentando não rir:
-Ah, mas você fala direitinho sim.
-Muito obrigado.
-Aliás, você não é daqui, correto?
-Sim, sou da Bahia.
-Ah sim, dá para perceber pelo sotaque.
-Sei, e ei. Não quer continuar contando sua história não?
-Ah sim, sim, sim. Deixe eu continuar.
Ela fala que decidiu ser artista depois de visitar Paris e ver os quadros, tanto que fez uma universidade lá, em que foi ensinada um monte de coisa, nunca ouvi tantas palavras complexas na minha vida. E foi ficando de noite, e infelizmente tive que dizer tchau pra ela, e ela fez o mesmo.
E foi ficando assim nos próximos dias, eu ia na praça e estava ali ela, toda charmosa, toda bonita, o cheiro do perfume dela era tão cheiroso. E teve um dia que, simplesmente, me declarei pra ela, fiz dela a minha namorada, e claro que, sendo eu uma pessoa mais humilde do que a família dela, eles nunca me aprovariam, então tivemos que namorar as escondidas. Sempre tentei ser um cavaleiro, pagando as contas dos lugares e tentando sempre quando possível dar presentes a ela, mas as vezes o dinheiro não ficava em um bom estado, então ela me dava um pouco do dela. E ela, sendo mulher, ia na minha casa cozinhar e até arrumar umas coisas lá, nunca havia comido um tal de "espagueti", muito bom por sinal, acho que era por causa do molho. Com ela, eu pude descobrir o amor, e também a como escrever, já que nunca entrei numa escola e muito menos sabia ler ou sequer escrever. E com o passar do tempo, recebi a notícia dela que estava grávida, fiquei tão animado que saí na rua dizendo:
-Eu vou ser pai! Eu vou ser pai!
Então nascia meu filho, Jeremias, em dezembro, 1 ano depois que conheci ela. A felicidade era tanta que eu chorei pela primeira vez em anos! E bom, acho que vou terminar a história aqui, não acho que isso aqui tem alguma moral da história, acho que fiz só pra contar mesmo a todos que leram. E com um futuro novo se iniciando, digo a todos vocês:
-Fim.
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Minha coleção de livros (Vol. 1)
RandomAVISO: Contém conteúdo 18+ e tópicos sensíveis. Não diga que não foi avisado! Este livro traz vários textos curtos ou longos que fiz ao longo dos anos condensado num único livro. Alguns deles são antigos e, portanto, podem não ter uma boa qualidade...