[CAPÍTULO 01]

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ISADORA DE MORAES

Dias atuais

Desde o dia que coloquei os meus olhos em Felipe pela primeira vez, que eu me tornei a pessoa que eu mais julgava: escritora de romance.

Aos quinze anos, me tornei conhecedora de qual hobby minha paixão pelas palavras me faria seguir. Na verdade, eu sempre soube, porém, nunca consegui finalizar os meus projetos e, só quando conheci Felipe, entendi o porquê. Faltava, ao menos nos meus livros, o que eu mais repudiava no livro dos outros: história de amor.

Irônico, não? É quase como o opressor se tornando o oprimido. E tudo porque eu havia finalmente me apaixonado. Eu, que não compreendia porque meus pais conseguiram ficar tantos anos juntos uma vez que são totalmente diferentes — muito diferentes mesmo —, agora anseio em ter um terço do que eles têm.

Só há um único problema: o homem que eu quero passar toda a minha vida junto, quer viver toda a sua vida ao lado de outra pessoa. E não qualquer pessoa. Felipe Castro dos Anjos, o meu amor adolescente, se apaixonou pela minha melhor amiga, e prima, no mesmo dia em que me apaixonei por ele.

Então, eu não escrevo qualquer livro de romance. Escrevo romances sofridos, romances de amores que têm tudo para dar certo, mas dá tudo errado. Assim como me ocorreu.

Na minha cabeça, Felipe e eu somos perfeitos um para o outro. Mas somente eu acho isso. Toda a minha família concorda que Maria e ele são o casal perfeito. Até mesmo melhores que Clara e Vinicius, que nunca se separaram desde que ficaram juntos. São casados desde que Clara completou vinte anos. Hoje, como eu, Maria e Joice, ela tem vinte e cinco.

Não sei o que fiz de tão errado nessa vida para ter me apaixonado logo por um homem que nunca poderei ter, mas deve ter sido algo terrível para receber um castigo tão grande. Por muitas noites, chorei por não conseguir entender. Como posso gostar tanto de alguém que mal toquei? Afinal, nunca tive muitas oportunidades para tal coisa. Felipe quis Maria assim que a viu, e eu tive que assistir ao homem que eu queria lutando para conquistar outra mulher. Pior, eu ajudei o homem que eu amo a conquistar Maria, quando notei que ela também estava interessada.

Então, por dez anos eu sufoquei, e ainda sufoco, um amor que nunca quis ter, mas estou destinada a sentir. E assistir, dia após dia, a esse amor me machucar.

Esse é um dos motivos para eu acreditar em carma. Apenas algo assim é capaz de explicar uma vida tão fodida quanto a minha. Amo um homem que não me ama, me esforcei igual uma filha da puta para ter um currículo perfeito e hoje trabalho como operadora de caixa. E eu sei que estou longe de ser perfeita, mas tento ser o melhor que posso para as pessoas e só tomo no cu.

Portanto, o que me resta é acreditar que em alguma reencarnação eu fui uma diaba e agora estou pagando pelos meus pecados de outra vida.

Bocejo, mas me mantenho firme na minha tarefa de conseguir escrever pelo menos mais trezentas palavras para finalizar a meta do dia. Se eu não me desafiar, não consigo escrever, principalmente porque parece que não tenho tempo para mais nada desde que peguei o turno da noite no meu trabalho. Estou cobrindo as férias de outra funcionária e ainda falta uma quinzena para ela retornar.

— Vamos lá, Isadora. Foco! Você só precisa detalhar melhor essa cena de amor à primeira vista e poderá ir dormir. Não é como se você não soubesse como é... — Resmungo enquanto tento fazer exatamente isso.

Falar sozinha é um hábito feio que peguei conforme minha introversão começou atrapalhar minha vida social. Hoje sou muito melhor me comunicando com as pessoas, apesar de ainda ser um tanto tímida, porém, o hábito permaneceu. O que é constrangedor em alguns casos.

A Chama Que Arde Entre Nós |DEGUSTAÇÃO|Onde histórias criam vida. Descubra agora