Aflição

612 51 8
                                    

Eu estou no meio de uma reunião quando recebo uma mensagem, olho e é da Pa, quando leio me levanto tão rápido que a cadeira que eu estava sentado cai. Olho de novo para o celular, mas já não consigo ver mais nada, a minha visão está embaçada.
O meu chefe se aproxima e coloca a mão no meu ombro.
- Pran, você está bem? Aconteceu alguma coisa?
Tento me controlar, tenho que me controlar, eu preciso ir até ele.
- Me desculpem, mas eu tenho que sair.
- Pran, olha pra mim, o que aconteceu? Você precisa de ajuda?
Olho para o meu chefe e vejo que ele realmente parace preocupado. Tento mais uma vez manter o controle.
- O meu namorado sofreu um acidente na Tailândia e está em cirurgia.
Vejo a surpresa no seu olhar, já estou aqui há dois anos, mas ninguém sabia sobre o Phat.
- Me desculpem, mas eu tenho mesmo que sair.
Antes que alguém consiga dizer alguma coisa eu saio correndo. Não posso esperar, preciso ir até ele.

O elevador demora para chegar, quando entro nele pego o celular para ver quando é o próximo vôo, quase não consigo enxergar, porque as lágrimas não param de se acumular.
Só tem um vôo em seis horas, merda. Compro a passagem e vou para o meu apartamento pegar os documentos e algumas roupas.

Enquanto espero o horário do vôo eu resolvo ligar para a Pá para saber o que aconteceu.
- Pran....
Ela começa a chorar e eu começo a ficar desesperado.
- Pá, o que aconteceu? O que está acontecendo? Fala comigo, por favor.
- Me da o telefone Pá. Pran é a Ink.
- Ink, o que está acontecendo? Ele...
- Não, calma. Nós ainda estamos esperando notícias, ele saiu da sala de cirurgia e foi para um quarto, os pais dele estão conversando com os médicos.
- O que... Como... O que aconteceu, Ink?
- Foi um acidente no trabalho, ele estava conferindo o estoque e uma pilha de tábuas caiu em cima dele.
- Quão ruim é a situação?
- Eu realmente não sei dizer Pran.... Espera os médicos estão saindo. Mãe, pai, como ele está?
Escuto o pai dele responder.
- Os médicos disseram que fizeram o que podiam, mas que só quando ele acordar vão poder fazer uma avaliação real dos danos.
Isso não parece bom, que danos?
- Vocês podem ir descansar meninas, nós vamos ficar aqui.
- Pran, está me ouvindo? Pran?
- Estou aqui.
- Você conseguiu ouvir?
- Sim... Ink, o meu vôo só sai em algumas horas, se acontecer alguma coisa me liga, por favor.
- Não vai acontecer nada, mas eu ligo sim. E Pran? Fica calmo!
Eu desligo e volto a arrumar as minhas coisas. Quando chega a hora vou até o aeroporto, mando mais uma mensagem para a Pá, mas sem novidades ainda.

Saio do aeroporto pego um táxi direto para o hospital, procuro o quarto dele, as duas estão do lado de fora, a Pá está dormindo encostada no ombro da Ink. A Ink chama ela, quando ela me vê vem correndo e me abraça chorando.
- Pran, ele só tem que acordar, porque ele não acorda?
- Vai ficar tudo bem, eu nunca conheci ninguém mais forte e mais teimoso que ele. Ele vai ficar bem, eu tenho certeza.
Não sei se falo isso para convencer ela ou a mim mesmo, mas eu decidi me manter firme até o fim por ele.
- Ele está no quarto, quer entrar?
- Não vai ter problema?
- Eu tenho certeza que a única pessoa que ele iria querer ao lado dele é você, talvez seja só isso que ele precisa para acordar.
Eu não digo nada, mas sigo ela até o quarto, quando entro congelo na porta. Ele está ligado a um monte de aparelhos, o rosto está todo machucado e tem um braço imobilizado, o restante do corpo está coberto.
Eu me aproximo lentamente, a Pá está na minha frente falando alguma coisa mais eu não consigo ouvir.
Chego ao lado da cama e olho para ele, tão calmo dormindo, mas ao mesmo tempo tão frágil. Passo a mão pelo seu rosto, me aproximo e beijo a sua boca.
- Oi, meu amor, eu voltei. Hora de acordar.
Sinto uma mão tocando o meu ombro e lembro que não estou sozinho, me viro e vejo a Ink que trouxe uma cadeira para mim, atrás dela estão os pais dele que me olham surpresos.
- Mãe, pai, nós podemos ficar aqui, porque vocês não aproveitam para descansar?
Eles ainda me olham, a mãe dele pega o marido pelo braço e começa a puxar ele. Faço um cumprimento quando estão saindo e me sento.
Não sei há quantas horas estou aqui, o tempo parece se arrastar, as meninas ficaram algum tempo comigo e depois saíram para comer, voltaram e trouxeram um lanche, mas eu não quis, elas entraram e saíram algumas vezes, mais tarde os pais dele voltaram e ficaram sentados no sofá, depois foram embora. Voltaram no outro dia, duas vezes, falaram com os médicos, mas eles não tinham nada novo para dizer.
Eu não consegui sair do lado dele, fiquei ali sentado só observando ele dormir, como eu sentia falta disso, de observar ele dormindo nos meus braços. Começo a me lembrar da época em que alugamos a nossa casa e fomos morar juntos, depois que terminamos ele começou a dormir no meu quarto no dormitório todos os dias, mas ter o nossa própria casa era diferente, era real e definitivo, então ter ele dormindo nos meus braços sempre parecia.... perfeito.
Lembro que era o último ano da faculdade, ainda estávamos fingindo para os nossos colegas que não nos dávamos bem, então com todo o trabalho como seniores e projetos finais, só nos encontrávamos a noite. Naquela época nosso professor nos chamou para conversar e pediu para assumirmos o projeto de expansão dos pontos de ônibus por todo o campus, como foi uma criação nossa, ele achava justo que nós fossemos os responsáveis.
Colocar as duas faculdades para trabalhar juntas novamente? Não sabia se daria certo, mas eu queria fazer isso com ele, assim nós ficaríamos mais tempo juntos e essa era a nossa criação, sempre foi muito importante para nós.
Era um projeto muito grande, eram vários pontos de ônibus. Passávamos dia e noite juntos. A primeira coisa que fizemos foi tentar conseguir patrocínio novamente, conseguimos dessa vez 60% e tivemos que fazer alguns eventos para conseguir o restante do valor. Foi divertido, porque começamos a competir para ver qual faculdade arrecadaria mais. Tivemos muitas brigas e desentendimentos, era engraçado porque eu e o Pat, o Wai e o Korn tínhamos que manter a história de que não nos dávamos bem, enquanto evitavamos que as brigas ficassem fora de controle.
O projeto durou o ano inteiro, mas ainda não estava finalizado, no final do ano eu consegui o estágio em Singapura e começaria após a formatura, então o Pat ficou responsável pelo projeto, mesmo depois de nos formarmos ele continuou tralhando nisso, pois ainda tinha muita coisa para ser feita.

Não sei que horas eu dormi, mas acordo sentindo alguém passando a mão pelo meu cabelo. Sem abrir os olhos eu percebo que estou deitado na barriga dele.
- Bom dia! Você está acordado?
Eu não posso acreditar quando escuto a voz dele, abro os olhos e ele está ali, sorrindo para mim.
- Phat? Phat! Graças a Deus!
Eu levanto e beijo ele e começo a chorar, não chorei nenhuma vez depois que peguei o vôo em Singapura, tinha decidido que seria forte por ele.
- Ei, está tudo bem, eu estou bem.
- Você... Você não acordava. Seu desgraçado como você pode fazer isso comigo? Eu morri por dentro mil vezes nos últimos dois dias.
Continuo chorando e parece que nunca mais vou conseguir parar, ele me puxa para o seu peito e me abraça com o braço bom, fica falando que está tudo bem, que vai ficar tudo bem. Tento me acalmar e olho para ele.
- Nunca mais faça isso comigo, você é a minha vida, como eu viveria sem você?
Ele passa a mão pelo meu rosto limpando as lágrimas.
- Prometo que nada mais vai acontecer. Está tudo bem agora. Você vai ficar?
- Eu nunca mais vou a lugar nenhum sem você, seu idiota.
Eu olho para ele, para a minha vida, o meu lugar seguro, o meu mundo, aquele sem o qual eu não conseguiria viver e decido.
- Phat? Quer casar comigo?

Our Skyy Bad Buddy Onde histórias criam vida. Descubra agora