A imagem de um bebê rechonchudo usando apenas um tipo de pano branco cobrindo suas partes íntimas, e carregando um arco e flechas, foi a primeira coisa que percebi quando pisei naquela igreja. A imagem pintada em uma parede no fundo com alguns dizeres em latim embaixo que não fizeram o menor sentido para mim naquele momento.
Aquele bebê gordinho me fez pensar nas sérias consequências caso ele se machucasse com aquelas armas.
Rosas e outras flores adornavam o cômodo do chão ao teto, deixando-me completamente nauseada. Muito cheiros diferentes e doces se enfiavam em meu nariz e meu estômago protestava em ânsia.
Aquilo estava demais, até mesmo para mim, uma grande amante de perfumes. A iluminação da igreja era completamente horrível e era praticamente preciso forçar os olhos para conseguir ver qualquer coisa além do púlpito de madeira escura.
Agradeci à Deus – literalmente falando – que pelo menos eu teria alguma desculpa para dormir durante a cerimônia que uniria minha irmã mais velha ao seu futuro marido para sempre.
Ela chamava aquilo de casamento.
Eu chamava de palhaçada.
"Desculpe, maninha, não consegui ver nada de onde eu estava sentada. A iluminação dessa igreja é podre, sendo bem sincera..." ensaiei em minha cabeça duas vezes antes de olhar para meu lugar reservado na última fileira de cadeiras possível, exatamente como eu havia pedido para minha irmã.
Minhas palmas estavam suando, eu estava suando, porra! A igreja inteira estava suando e fedida! Eles não tinham sequer um diabo de um ar-condicionado ligado nessa joça?
Eu nunca havia estado em um lugar tão úmido e fedorento em minha vida toda.
Meados de Junho e cá estávamos, suando em nossas cadeiras e tentando fazer com que nossas pernas e costas não grudassem no assento de couro. Meu vestido era feito de um tecido muito fino e respirável, mas agora parecia que eu estava usando uma armadura de 50 quilos.
Pesquei o telefone de dentro de minha bolsinha e pude ver a vermelhidão do calor subindo por meu pescoço, se alojando diretamente em minhas bochechas.
Ótimo, agora parece que tomei um tabefe do próprio padre, pensei comigo mesma.
Madison se sentou ao meu lado, e uma olhada para ela foi o que bastou para eu saber que ela estava tão desconfortável quanto eu com o calor.
— Eu vou matar ela. – sussurrei para ela, que era melhor amiga de minha irmã.
— Relaxa, - ela me sussurrou de volta — pelo menos a noivazilla se mandou.
E Madison estava completamente e 100% certa. A versão noivazilla de minha irmã mais velha era quase tão pior quanto a sua versão normal, se é que isso fosse possível. Ela havia tornado a vida de todos a sua volta completamente e irrefutavelmente insuportável. Era como se todos respirássemos errado, andássemos errado, nos vestíssemos iguais palhaços e não combinássemos com todo o dresscode que ela havia fantasiado juntamente com as vozes de sua cabeça.
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Querido Cupido
RomansaAlexis Monteigh é fotógrafa para uma coluna de relacionamentos, e depois de muitos anos trabalhando na indústria, ela sabe que a maioria dos casais são puramente uma fachada. Mas nada é como parece. Eros é um cupido. Ele é o culpado pelo desastre qu...