Ato I: Passado pt. 2

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📍São Gonçalo

🗓12 de Junho, 2017

Hoje tinha sido o primeiro dia de aula do ensino médio e não podia ter sido pior. Eu só queria chegar em casa e me jogar na cama. Ah, se eu soubesse...

Quanto mais me aproximava de casa, mais um pressentimento ruim percorria minha espinha. Aquele frio que quer te avisar que algo terrível está prestes a acontecer. Algo me dizia para dar meia volta, mas eu decidi ignorá-la. Péssima escolha.

Destranquei a porta da frente e assim que a chave virou completamente, abrindo-a, aquela voz tornou a se manifestar, dessa vez muito mais presente. Estava quase berrando nas esquinas tortuosas da minha mente, mas agora eu já tinha ido longe demais para voltar.

Caminhei a passos lentos, como em um filme de terror onde os protagonistas cometem o terrível erro de explorar uma casa mal-assombrada.

-Mãe? - chamei, sem resposta.

Será que ela tinha saído?

-Dona Leia? - tornei a chamar, em vão

Irrequieta, resolvi procurá-la no quarto. Girei a maçaneta, e a esse ponto a voz já estava quase ficando rouca de tanto gritar. Reuni toda a coragem que meu ser possuía e escancarei a porta.

Percorri os olhos pelo cômodo e parei na cama, no canto do quarto. E foi ali que vi a cena mais aterrorizante de toda minha vida. Ela estava ali, deitada, mas não estava dormindo. Sua pele tinha um aspecto doentio, quase fantasmagórico, o corpo coberto de vômito e sangue, claramente tinha sofrido inúmeras convulsões recentemente e o braço tinha vários furos característicos de perfurações de seringas de heroína. Ela tinha sofrido uma overdose e não precisava ser especialista para saber que ela não tinha sobrevivido. Seu pulmão já não respirava mais. Seu coração já não batia ou bombeava mais. Suas bochechas já não coravam mais. Ela estava morta, e eu não estava nem um pouco surpresa. Triste, arrasada, destruída, destilada por dentro. Mas nem um pouco surpresa. Desde que meu pai desapareceu, ou melhor, nos abandonou, eu sabia que era apenas uma questão de tempo até que ela também se fosse.

Parecia que todos os sintomas que ela havia tido antes de morrer, eu estava tendo ao contrario. Meu pulmão e meu coração funcionavam cada vez mais rápidos, desesperados por um alívio que eles não não tão cedo. Mas eu não podia desmoronar. Não ali, não agora. Eu tinha de me manter firme, ela precisava de mim.

Eu não podia estar ali quando a polícia e os médicos chegassem, só disso que eu sabia. A última coisa que eu queria naquele momento era ir para um abrigo.

Disquei 190, expliquei para a atendente toda a situação tentando não me perder ou embolar no meio dos meus soluções que insistiam em perdurar.

Assim que a moça disse que a ajuda já estava a caminho e desliguei o telefone, peguei as minhas coisas mais importantes, algumas mudas de roupa e mantimentos básicos, enfiei tudo em uma mochila e fui embora, a procura dela.

Minha vida mudaria bruscamente depois daquele dia, mas pelo menos, teria ela do meu lado.

Ainda vai ter parte 3, aí depois vamos pro presente

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Brabuletas - AzzyOnde histórias criam vida. Descubra agora