Ato II - Presente: Dias de Luta, Dias de Luta

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Narração: Beatriz

Acordei com a cabeça latejando e uma dor terrível no corpo. Sentia como se alguém estivesse me dado uma surra com uma marreta. O pior? Eu nem lembro de ter sequer bebido.

Tentei me levantar para pegar um remédio para dor, mas percebi um peso em cima de meu peito. Olhei para o lado e vi Isa dormindo profundamente. Oxe? O que ela está fazendo aqui?

Sussurrei suavemente para que ela acordasse sem se assustar e vi seus olhos abrirem lentamente, ainda sonolentos.

-Bom dia, Bela. 'Tá fazendo o que aqui?

Ela esfregou os olhos e respondeu atropelando as palavras:

-Bom dia... você não lembra de ontem não.

Balancei a cabeça em negação. Ela soltou uma risadinha e me assustei. Puta. Que. Pariu. O que aconteceu ontem?

Fomos até a cozinha e ela fez um café enquanto eu dormia sentada na mesa. Enquanto bebericava o café e mordiscava um pão dormido, ela começou a me contar toda a saga de ontem. Meu Jesus, que humilhação.

-Mais alguma coisa que comprometa minha dignidade?

-Então... Quando a gente 'tava no carro...

Ela nem precisou completar. Um flash passou pela minha mente e lembrei do momento que dei a entender que eu a amava.

-Isa, eu 'tava bêbada. Ignora aquilo. Por favor. - disse, quase como uma súplica.

Ela assentiu. Ficamos em silêncio o resto da manhã.

1 SEMANA DEPOIS

Já faz alguns dias que eu e a Isa não nos vemos ou sequer trocamos mensagens. Sempre que penso em fazer isso, a memória do que aconteceu naquele dia volta a minha mente e eu perco a coragem. E, para ser justa comigo mesma, ela tampouco me procurou. Será que eu estraguei tudo, inclusive nossa amizade com aquele maldito olhar?

E, como nada é ruim o suficiente que não possa melhorar, o clima no grupo de teatro está péssimo. O Tiago ainda está bravo comigo e não quer nem olhar na minha cara e a ex dele descobriu que estávamos saindo e também está brava comigo. Nota mental: nunca mais se envolver com colegas do trabalho. Como vovó dizia, não se come a carne onde se ganha o pão.

Estou tentando ser profissional e ignorar isso tudo, mas eles não estão facilitando.

Nessa manhã, acordei já atrasada então tive que correr para o teatro. Estamos trabalhando em uma peça escrita por um roteirista chileno que me interessou muito. Espero que não seja um fracasso.

Me arrumei correndo, vestindo apenas uma calça leggin e uma blusa do Charlie Brown Jr para ficar confortável. Calcei meu Nike, peguei minha mochila e fui correndo até o ponto de ônibus. Mal posso esperar pelo dia que eu ficar rica e acabar com esse inferno que é andar de transporte público. Ah Jesus Cristo, por que eu não nasci herdeira hein?

Assim que cheguei, pedi desculpa ao diretor que apenas me advertiu. Graças a Deus o diretor atual é compreensivo e simpático, o anterior era o capeta em pessoa. O Leo é um querido e sempre está disposto a nos ajudar.

Fizemos alguns exercícios de aquecimento e ensaiamos a manhã inteira. Às 13h, Léo nos deu um intervalo para almoço e disse que voltaríamos ao trabalho por voltar de 14h30min. Estava me preparando para ir até o self-service aqui na esquina (não é grande coisa, mas dá para o gasto e, o mais importante, é barato) quando ouvi a voz do diretor me chamando.

-Pois não? - respondi

-Eu queria conversar algumas coisas com você, Bia. - encorajei-o a continuar - eu percebi que nos últimos dias você tem estado... estranha. Não só você, parece que o grupo está fora de sintonia. O Tiago e a Melissa parecem não estar muito felizes com você. Isso não pode acontecer, a peça estreia daqui um mês e precisamos estar todos em harmonia. Por isso, peço que me conte o que está acontecendo para que possamos resolver o mais rápido possível. Quero te ajudar.

Suspirei. Como confiava nele, contei-o que aconteceu.

-Bia, com todo respeito, por que em nome de tudo que é mais sagrado você começou a sair com o Tiago. Nada contra ele, mas vocês não tem NADA a ver. Fora o fato que eu já percebi o jeito que você olha pra aquela amiga sua.

Arregalei os olhos? Como ele...

-Por favor né Beatriz! Até um cego consegue notar a tensão entre vocês!

-Eu não sei o que fazer Léo. Não quero magoar nem o Tiago nem a Melissa ficando com alguém que não amo na mesma intensidade, mas eu 'tô cansada de esperar que a Isabela reaja e confesse todo seu amor por mim. Já fiz isso tempo demais, eu tenho que viver.

-Eu entendo, meu anjo, mas enquanto você estiver se sentindo assim por ela, se relacionar romanticamente com outra pessoa só vai machucar ambos. Não estou dizendo para você parar de viver. Você é jovem, vá dar uns pegas e ter lances de uma ou duas noites. Mas acho que não é certo se enganar e enganar outras pessoas.

Ele tem razão. Por que ele tem sempre razão hein? Será que quando a gente começa a ficar com cabelo branco a sabedoria vem naturalmente? Acho que não. Se fosse assim não teria um monte de velho na frente do quartel cantando hino para pneu. O Leo é um bom homem, por isso que sabe tanto das coisas.

Agradeci-o pela conversa e chamei-o para me acompanhar no almoço, mas ele disse que seu esposo havia lhe preparado uma marmita e comeria ali mesmo.

Comi um bom prato de arroz, feijão, carne e salada. Ainda tinha uns 40min, então fiquei enrolando na mesa enquanto chupava um picolé de limão de sobremesa. Ouvi o som de notificação e chequei meu celular

_Conversa com Xaxá_

Salve pretinha
Hoje tem resenha na casa do RD
Bora? Eu dou carona se tu quiser

Ei índio
Daora, a Azzy vai tá lá?

Acho q sim
Pq?

Nois ta se estranhando tlgd?
Fico meio pá de encontrar com ela

O Bia, vcs vão se acertar
Vai ser foda, deixa de ir não

Tá bom xaxá, tá bom.

Passo aí as 21, flw?

Ok, até praga

Me ama menos vai

_Conversa off_

Bom, parece que eu tenho uma festa para ir.

Brabuletas - AzzyOnde histórias criam vida. Descubra agora