Ato II - Presente: A festa pt.2

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Narração: Beatriz

Fechei a porta atrás de mim, apoiei as mãos na pia e olhei-me no espelho. A respiração estava ofegante e meu rosto estava coberto por suor. Respirei fundo, contei até 10 e olhei-me novamente. O que acabara de acontecer? E pior, o que eu acabara de fazer?

Por que eu surtei dessa forma? Eu e a Isa já tínhamos nos beijado antes. O que mudara? Bom... acho que o que mudou é que dessa vez, não era na amizade. Ou pelo menos não parecia ser.

Ouvi batidas dessincronizadas e perguntei quem era.

-Sou eu, Bia. Sou eu. - disse.

Abri a porta pesarosa e, por alguns segundos, nos encaramos.

-O que aconteceu, Bia? - ela perguntou.

-Isa. Não finge que você não sabe. Você sabe o que ia acontecer.

-Você não queria? - voltou a perguntar, quase que num sussurro.

-Você sabe que eu queria, Isa. Mas eu 'tô cansada de me iludir. Você ia me beijar e depois o quê? Dizer que beijamos 'pra fortalecer a amizade. Não obrigada. - respondi sincera.

Em um movimento brusco, ela colocou as mãos em meu rosto e uniu meus lábios ao dela. Inicialmente, eu não retribui devido ao choque, mas assim que me recuperei, beijei-a de volta com voracidade.

Nos separamos com a falta de ar e abrimos um sorriso tímido uma para a outra. Essa noite definitivamente não estava se desenrolando como eu esperava.

Para não causar desconfianças, ela saiu alguns minutos antes de mim. Depois de um tempo, saí também tentando disfarçar o sorriso largo que se abria em meu rosto (e falhando miseravelmente, diga-se de passagem). Sabe quando você está tão feliz que nada pode te abalar? Quando você está tão feliz que os músculos da face chegam a doer de tanto que você sorri e não consegue parar. Quando você está tão feliz que nada mais importa. Era assim que eu me sentia. Completa. Deus Beatriz, é tão fácil assim te iludir? A verdade é que não, não é, só ela que consegue fazer isso. Sempre foi e sempre será.

Sentei-me em um sofá com um copo de whisky, energético e gelo de coco na mão, ainda pensando no que acabara de acontecer.

A poltrona pesou e vi que outra pessoa se sentara ao meu lado. Reconheci-a imediatamente.

-Ei Bianca.

-Maninha! Achei que você tivesse morta numa vala de esgoto no centro. Eu hein, nem parece que a gente mora na mesma cidade, não nos vemos há uma eternidade - disse dramática. Minha irmã senhoras e senhores, a Drama Queen. - Que sorriso bobo é esse no rosto, senhorita LeBlanc? Parece que ganhou na loteria!

-Não, infelizmente não. Mas pode-se dizer que aconteceu um bagulho quase tão inesperado quanto.

-Eita! Conta aí a fofoca- pediu, aproximando-se de mim

Hesitei. Eu nem sabia o que tudo aquilo significava, muito menos se era hora de sair contando. Mas... era a minha irmã, pelo amor de Deus! Eu posso contar para ela, né? Se bem que... não é como se fossemos super ultra mega hiper proximas. Até os 5 anos, éramos melhores amigas, mas depois... Não temos a mesma mãe, e quando nosso pai morreu, nosso único vínculo, acabamos nos distanciando. Alguns anos atrás voltamos a nos falar, mas cada um no seu canto. Nos vemos vez ou outra, mas nada que nos permita criar um vínculo verdadeiro.

-Nada não Bi. - ela me encarou cínica e, sem que ela dissesse nada, cedi. Podíamos não ser próximas, mas ela ainda me conhecia como ninguém e sabia perfeitamente quando eu estava mentindo.

Contei-a do ocorrido no banheiro e ela ficou quase mais animada do que eu. Ri de sua empolgação, mas pedi para que diminuísse um pouco o tom. Daqui a pouco a festa inteira já estava sabendo, com tanto escândalo. Amo minha irmã, mas ô mulher exagerada (finjam que não é autocrítica).

-E aí? Você vai fazer o que agora? - Ok. Eu não tinha pensado nessa parte - Beatriz, não me diz que você ainda não sabe! Garota, você tem que reagir. Eu me lembro de você apaixonada nessa garota desde que éramos novas demais para sequer saber o que é paixão. Agora é sua chance e se você desperdiçar ela, maninha, eu te mato!

Aff. Odeio quando ela tem razão.

-Você 'tá certa, eu sei. Mas é melhor eu pensar nisso amanhã. Depois de um copão de whisky, três cervejas, duas taças de champanhe e três doses de vodka, não acho que estou no meu perfeito juízo.

Ela concordou, rindo.

-Não sei como você aguenta tudo isso, Bia. Eu com 1 tacinha de vinho já fico bêbada de dançar pelada na frente de velhinhas - isso foi estranhamente específico.

-Anos de experiências, maninha.

Caímos juntas na gargalhada. Ficamos em silêncio por alguns segundos (um recorde para Bianca) enquanto bebíamos, mas logo ela continuou:

-Bia, eu posso te perguntar uma coisa?

-Claro Bibi. - respondi aberta

-Qual é a desse César? Solteiro...?

Nem se preocupa em esconder a cara de pau hein?

-Ixi Bianca, nem pensa nisso. Ele é todo crente, certinho, enquanto você se pisa numa igreja ela pega fogo na hora.

-Ir a merda você não quer né? Pois saiba que eu sou uma nova mulher. - disse enquanto juntava as mãos em sinal de oração - É sério Bia, eu conversei um pouco com ele e realmente senti uma conexão, além dele ser lindo pra caralho. Só me fala dele, só um pouquinho.

Revirei os olhos.

-Até onde eu sei, ele 'tá solteiro. Terminou com uma mulher alguns meses atrás, relacionamento sério, papo de fechamento. - ela assentiu - Ele é um cara foda Bi, mas entende isso: a palavra mais pesada que ele usa é bosta, merda só quando 'tá no ápice da raiva e você de cada 10 palavras, 11 são palavrões. Não que vocês não possam dar certo, mas com certeza seria um caso de opostos se atraem.

Ela ficou pensativa. Minha irmã e o César... com certeza isso seria inesperado.




Brabuletas - AzzyOnde histórias criam vida. Descubra agora