Não mais em Branco

9.

Penso que aí entramos na condição humana

Considerando que o ser humano é psicossocial biológico, ele está em constante interferência

do outro, de suas lentes do mundo

e isso entra na dinâmica da arte-vida

dupla cuja existência está atrelada, uma não vive sem a outra, formam um casal

(não) tão feliz assim

transitam de mãos dadas

ora pelos dedos das mãos entrelaçados

ora pelos cadarços dos pés amarrados

podem até tentar se separar

mas há um fio sutil que sempre as unirá

Então não, não dá para fazer arte sem viver

como não dá para viver sem a arte

Há algumas pessoas que estão fazendo arte e não sabem

e dizem por aí que a maioria das pessoas está apenas sobrevivendo sem arte nem vida

seja a vida do corpo, a subjetiva, a objetiva, a pessoal, a social, a biológica, quiçá a espiritual...

Complicado segmentar, o contexto é uma necessidade e

se me deixar nesse assunto, desatino

Talvez tu nem quisesses saber as respostas

Seriam as tuas perguntas retóricas?

Quando tu fazes uma pergunta, tu não tens necessariamente uma resposta?

Ou já tem, mas almeja saber a perspectiva de? De outra pessoa, de outro porquê, de outro ponto

de um ser aleatório, que surgiu neste mundo desconhecido e que nele já adentrou perdido

como neste campo virtual

que me remete à questão central: realidade e ficção, onde inicia uma e acaba a outra?

Se toda ficção é criada por um observador, alguém que observa a dor

alguém que pratica observação, que observa a ação

logo, observar leva à fantasia e sentir leva à autobiografia

ao menos é o que eu costumava pensar

Hoje tendo a ver tudo como uma grande mistura

Já desatinei?

Não quero me alongar, desculpe-me

meu desafio de vida é ser clara, objetiva e concisa em meus apontamentos

embora pausas também sejam importantes

O que pensas das pausas, oh, ser humano que não vejo?

Ser humano...

Tu és um ser humano mesmo? Que audácia minha presumir que também sejas

Tu és o que? Feito de que? Ser vivo de matéria viva ou de matéria morta?

Lembrei-me da poesia da Porta, escrita pelo Vinícius de Moraes

Onde tu vives existe poesia?

Conte-me mais sobre sua arte, realidade e ficção aprochegue-se

e venha beber algo comigo