Apego

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Manter o Phat longe da Claire está se tornando uma tarefa cada vez mais difícil, mas está sendo mais difícil ainda afastar ela de nós.
Nós demos entrada no processo de adoção e decidimos pegar o mês de férias para acompanhar o processo de perto, bom esse é o meu motivo, mas o Phat só quer ficar perto dela.
Não contamos para ninguém sobre a adoção, vamos esperar pelo menos até ter certeza que o processo está caminhando bem.

Todos os dias nós vamos até a casa da tia Thana e levamos ela para brincar na praia, fazemos castelos de areia, juntamos conchinhas, ensinamos ela a nadar... o Phat parece uma criança brincando com ela, não sei como ele consegue energia para acompanhar, eu na maioria das vezes só de olhar os dois já me canso. No final do dia quando a levamos de volta ela sempre chora, nos ficamos até a Claire dormir, mas ela só dorme quando está no meu colo e eu canto para ela.
Alguns dias é impossível, porque ela se recusa a dormir, nesses dias a levamos para a casa do tio Tong para dormir com a gente, isso está acontecendo com muita frequência recentemente.

Faz duas semanas que demos entrada no processo, o advogado nos pediu para levar a tia Thana para assinar os documentos de transferência de guarda, ele avisa que a foi aberta uma investigação para tentar localizar o pai, mas não encontraram nada por enquanto. Vejo que o Phat ficou nervoso e abraçou a Claire mais forte, sabemos que se o pai aparecer e quiser ficar com ela não poderemos fazer nada, mas saber disso não facilita as coisas.

Aproveitamos que estamos no centro e decidimos comprar algumas coisas para ela, mas o Phat se empolga e começa a comprar coisas demais, chega uma hora que eu tenho que impedir. Em uma das lojas eu vejo um brinquedo e tenho uma ideia, compro ele, mas deixo separado do resto das coisas que compramos para ela.

Deixamos a tia Thana e a Claire em casa no final do dia e aproveitamos para ir ao bar, ele está muito estressado com toda essa situação e para a conversa que vamos ter eu preciso que ele relaxe um pouco, é algo que eu já venho pensando nos últimos dias.
Eu bebo a minha cerveja, respiro fundo e falo:
- Phat, nós temos que voltar.
Ele me olha como se eu tivesse falado para ele matar alguém.
- Porque? Não! Você concordou com um mês, Pran.
- Eu sei, mas nós temos coisas para fazer em casa.
- mas você prometeu...
- Você entende que se tudo der certo nós não podemos morar com ela na nossa casa? Está na hora de comprar a nossa própria casa, nós temos economia suficiente para pagar uma casa pequena, ou dar de entrada em uma casa um pouco maior, em algum momento durante o processo as assistentes sociais vão para conhecer onde ela vai morar, lembra? Estabilidade emocional, financeira e uma base familiar sólida? Então nós temos que voltar.
Ele olha para mim e suspira, ela sabe que eu tenho razão
- Dois dias.
- Phat!
Ele passa a mão no cabelo.
- Ela não vai conseguir ficar longe Pran.
- Phat, seja racional, mesmo que milagrosamente encontremos a casa no primeiro dia, tem a papelada, a mudança e tudo mais. Com sorte faremos em uma semana.
Ele esfrega a mão no rosto e sei que ele não está feliz.
- Tudo bem, uma semana.
Ele bebe o resto da cerveja e levanta pegar outra. Olho para ele e penso que convencer ele foi a parte fácil. O difícil vem agora.

No outro dia enquanto o Phat está brincando com a Claire eu explico a situação para a tia Thana.
- Uma semana filho?
- Pelo menos isso, talvez mais. Temos que deixar tudo pronto, vamos tentar resolver o mais rápido possível, mas sendo realista, nada do que temos que fazer é rápido.
- Vocês vão contar para ela?
Eu olho para a Claire e só de pensar em deixar ela para trás, quase me faz desistir.
- Vamos, não sei o quanto ela vai entender, mas vamos tentar explicar.
Ela segura a minha mão e aperta.
- Não se preocupe, ela vai ficar bem.
- Não é apenas ela, eu sei que ele não vai ficar bem.
Eu olho para o meu mundo e me sinto culpado por fazer isso com ele. Vejo a Claire correndo na nossa direção.
- Papiiiii!!!!
Ela se aproxima correndo e pula nos meus braços.
- Papi, o papa vai da sovete pa Claire.
Ela começou a chamar o Phat de papa há alguns dias, acho que dois papis era confuso demais para ela.
- Mas a Claire ainda não almoçou, o que o Papi falou de sorvetes?
- papa antes...
- Isso mesmo, então vamos papar para comprar sorvete?
- Vamooooo.

Depois do almoço, compramos sorvetes e vamos com a Claire para a praia. Eu sei que toda a situação já está sendo difícil para o Phat, então resolvo falar com ela eu mesmo.
- Querida, vem aqui com o Papi.
Ela sai do colo do Phat e vem pro meu.
- Querida, o Papi tem uma coisa para contar.
- Pran?
- O Papi e o papa vão ter que viajar por uns dias.
- Claire vai?
- Não querida, a Claire ainda não pode ir junto.
- Mas Claire qué.
- Eu também quero, mas a Claire não pode... mas vão ser só alguns dias. Me dá a mãozinha.
Eu pego as mãos dela eu deixo todos os dedos de uma abertos e dois dedos da outra.
- Tá vendo isso, são só esses dedinhos da Claire, você tira um dedinho por dia, quando chegar nesse o Papi volta.
- Vedade?
- Verdade.
Ela se enrosca em mim e me abraça.
- Não vai demorar querida, eu prometo.
O Phat vem até nós e nos abraça.

Nós passamos na tia Thana e avisamos que vamos levar ela para dormir com a gente e amanhã trazemos ela cedo.
O Phat da banho nela e eu fico arrumando as nossas coisas para amanhã. Então eu vejo o brinquedo que comprei.

Quando estamos prontos para dormir o Phat se deita e coloca a Claire no meio da cama, ela sempre dorme entre nós. Eu me aproximo dela e falo.
- Querida, o Papi comprou um presente para você não ficar sozinha. Aqui.
- Urso!
- Isso mesmo, é um urso, durante o dia ele vai cuidar da Claire e a noite ele vai cantar para a Claire dormir quando o Papi não estiver junto. Aperta o pezinho do urso.
É um daqueles ursos que podemos gravar mensagens, eu me gravei cantando o refrão de Our Song.
- É o Papi!
- Isso mesmo, então quando a Claire quiser dormir e só pedir para o urso cantar.
Ela aperta a pata do urso de novo e sempre que para ela aperta novamente. Faz isso até ficar cansada demais e dormir. O Phat fica observando ela encantado e eu o observo preocupado. Quando chegamos em casa eu vou atrás para saber o que mais eu posso fazer para a adoção sair o quanto antes.

Ele olha para mim e toca o meu rosto.
- Ela é tão parecida com você, tão perfeita.
Eu viro o rosto, beijo a sua mão, me levanto e vou me deitar ao lado dele, hoje eu preciso dele seguro nos meus braços.

Bad Buddy - DepoisOnde histórias criam vida. Descubra agora