Contra o tempo

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Decidimos deixar a Claire na casa da tia Thana antes de amanhecer, concordamos que seria melhor ela não nos ver partindo. Uma das coisas que o Phat comprou ontem naquela loucura compulsiva dele foi um iPad, ele explicou para a tia Thana como fazer uma chamada de vídeo, assim quando a Claire quiser ela pode nos ligar.

Enquanto ele está dirigindo eu pego o meu iPad e começo a pesquisar as casas, assim quando chegarmos lá já teremos por onde começar.
- Casa grande ou pequena, Phat?
- Por mim pode ser pequena, mas com um terreno grande para construir, seria um desperdício se um arquiteto e um engenheiro herdeiros de lojas de materiais para construção não construíssem a própria casa.
Eu rio do comentário, mas ele tem razão.
- Em que lugar?
- Perto dos nossos pais, nos crescemos lá e criamos boas lembranças, quero isso para ela também.
- Casa pequena e na região dos nossos pais, mais alguma coisa para eu começar a procurar?
- Eu acho que não.
Partindo disso eu começo a filtrar as opções que vão aparecendo na busca.

Mais ou menos as 9 horas o telefone do Phat que está preso no suporte começa a tocar, ele atende e vemos a Claire ou pelo menos os braços dela que estão por cima da tela. A tia Thana pega o aparelho e afasta, aponta para a tela e fala.
- Olha aqui.
- Papa!
- Oi princesa, acordou agora?
- Sim, papa não tava qui.
Eu vejo a cara do Phat e sei que é melhor intervir. Então eu me aproximo dele para ela me ver.
- Papi!
- Oi querida, lembra que o Papi falou ontem? Lembra quantos dedinhos a Claire tem que contar até a gente voltar?
Ela vai mexendo as mãozinhas até conseguir fazer o sete.
- Isso mesmo, só esses dedinhos e até lá a Claire vai poder ver a gente quando quiser, como agora.
- Tabomm.
- Cadê o urso da Claire?
Ela pega o urso e coloca a tela.
- Já escolheu um nome para ele?
- Não, papa vai da nome.
Eu olho para o Phat, que está sorrindo.
- Você quer encostar para trocar comigo, para eu dirigir?
- Não, está tudo bem, você está fazendo as pesquisas, é melhor nisso do que eu. Ele olha para o celular e diz.
- Papa vai escolher o nome e depois conta para princesa, tudo bem?
Ela acena com a cabeça. Ficamos em silêncio um momento, então eu falo.
- Querida, o papa está dirigindo, então nós vamos ter que desligar, mas mais tarde nos falamos com você de volta, tudo bem?
- Tabomm.
A tia Thana pega o iPad e fala.
- Não se preocupem meninos, ela vai ficar bem. Da tchau para os seus pais Claire.
- Chau Papi, chau papa.
- Tchau.
Nós falamos ao mesmo tempo enquanto acenamos, então eu encerro a chamada. O Phat suspira, mas não fala nada, acho melhor não falar nada também.

Passo horas procurando, as casas que vou achando que se encaixam no que nós queremos eu vou mostrando para ele.  No fim selecionamos seis que ficamos interessados. Ligo para as imobiliárias e agendo visitas para a parte da tarde em duas e as outras quatro amanhã.

Mesmo com o Phat dirigindo rápido chegamos por volta das 15 horas, avisamos para a mãe dele que estávamos a caminho e ela preparou o almoço para nós. Avisamos para a minha mãe também e ficamos de jantar lá. É assim que evitamos ressentimentos e brigas dos dois lados.
Concordamos em não contar sobre a Claire para ninguém, não sabemos como vão receber a notícia, no melhor cenário as nossas mães iriam querer ir para lá correndo para conhecer ela, no pior dos cenários eles poderiam não aceitar e não sei como reagiriamos a isso, não muito bem, provavelmente.

Depois do almoço vamos na primeira casa, não fica longe de onde moramos, mas o Phat não gostou, o terreno parece maior nas fotos e a casa foi construída em uma área que não facilitaria a expansão. A segunda casa eu não gostei, fica em uma rua com muitos comércios, então passam carros o tempo todo, deve ser uma área muito poluída. Descartamos as duas. Espero que tenhamos mais sorte amanhã.
No jantar a minha mãe faz a todas as comidas que nós gostamos. Ela agora se dá muito bem com o Phat, assim como ela antes não gostava dele por causa do pai dele, agora ela o ama porque ele me ama, foi o jeito que ela encontrou para aceitar a situação. O que foi muito melhor do que o pai dele que até hoje age com indiferença. Enquanto ela está nos servindo ela comenta:
- Vocês voltaram antes.
- Só viemos resolver alguns problemas e vamos para o tio Tong ficar lá mais uma semana.
- Que bom, vocês tem que aproveitar mesmo, vocês trabalham demais.
Conversamos sobre coisas aleatórias durante o jantar, comentamos que queremos comprar uma casa e ela fica feliz quando falamos que só vamos comprar se for aqui pela região.

Durante o jantar o telefone do Phat toca, ele me olha, pede licença e sai, deve ser a Claire, ela já ligou umas dez vezes hoje, toda hora querendo mostrar alguma coisa. Ele aparece só com a cabeça na porta.
- Pran, você pode vir aqui rapidinho?
Eu peço licença e saio.
- Ela quer falar com você.
Eu me afasto antes de atender e subo para o meu quarto, vejo o Phat vindo junto.
- Oi querida.
- Papi, soninho.
- Cadê o urso da Claire?
- Qui, canta pá Claire Papi.
- Então vai pra cama que o Papi canta pra você dormir.
Eu vejo a tia Thana arrumando ela e colocando o iPad encostado na parede para ela ver. O Phat senta do meu lado e deita no meu ombro e eu começo a cantar, não demora muito ela está dormindo. A tia pega o aparelho e diz.
- Desculpa incomodar meninos.
- Esta tudo bem, pode ligar sempre que ela pedir.
- Eu vou deixar vocês descansarem agora. Até amanhã.
- Boa noite Tia Thana.
Eu viro para o Phat, puxo ele para mim e o abraço. A minha mãe bate na porta e entra.
- Está tudo bem?
- Está sim mãe, nos já estávamos descendo.

No outro dia já começamos as visitas cedo, a primeira casa nós achamos interessante, então deixamos como talvez, a segunda foi muito mal construída, se fôssemos mexer teríamos que derrubar ela e começar do zero, então descartamos. Quando chegamos na terceira casa eu sei que é ela antes mesmo de entrar, Ela tem uma estrutura moderna e provavelmente foi construída para se expandir, eu consigo ver o desenho na minha cabeça do que dá pra fazer com ela. Inconscientemente eu levanto a minha mão enquanto olho para a parte externa dela e começo a desenhar. A corretora nos mostra a parte de dentro, é espaçoso, mas sem exageros. É uma casa de dois andares com três quartos e dois banheiros. Ela mostra também a parte de trás, o terreno é bem espaçoso. Para completar casa fica a menos de cinco minutos de carro da casa dos nossos pais. Eu olho para o Phat e sei que ele está pensando a mesma coisa que eu, é perfeito. Nem consideramos olhar a última casa, pedimos para a corretora enviar a proposta para nós. Mais tarde encaminhamos uma contra proposta com um valor para pagamento a vista, ela fica de conversar com o proprietário, mas está otimista. Pedimos para ela providenciar tudo o quanto antes.
- Você sabe que vamos quebrar depois disso, certo?
- Nós vamos dar um jeito, Phat, vai ser melhor assim. Não precisamos mexer em nada por enquanto, ainda vai sobrar um pouco de dinheiro para cobrir os móveis e uma reforma simples.
No outro dia ela avisa que conseguiu a aprovação dos proprietários e que vai deixar os documentos prontos para assinarmos amanhã. Aproveitamos o dia para começar a empacotar as nossas coisas, decidimos reformar a casa antes de voltar. No  dia seguinte deu tudo certo e já saímos de lá com as nossas chaves. Aproveitamos o resto do dia para comprar os móveis que precisamos, o que vai dar para trazer da nossa casa nos vamos usar, mas ainda tem muita coisa para comprar, principalmente para o quarto da Claire.

No sábado chamamos o Korn e o Wai para nós ajudar na reforma, isso vai agilizar bastante as coisas, eles chegam e logo mais dos nossos amigos vão chegando também. O Korn me olha e diz que imaginou que quanto mais reforços melhor, eu fico muito agradecido. E pensar que eu não gostava desse cara.  No final do dia inacreditavelmente conseguimos cumprir com o que levaria dias para nós dois fazermos sozinhos. Eles foram seguindo o meu projeto e ficou perfeito.
Quando todos vão embora, ficam só o Wai e o Korn para trás, o Wai me olha e pergunta.
- Você vai me contar qual é daquele quarto que vocês não deixaram ninguém entrar?
- É coisa nossa.
- Vai dizer que estão montando um quarto vermelho da dor?
- Não faço ideia do que isso significa Wai.
O Phat se aproxima e fala.
- Pode deixar Wai, eu vou explicar para ele mais tarde. Quando voltarmos nós contaremos a história do quarto.
- Tudo bem, tudo bem, então nós estamos indo também, eu estou quebrado.
- Obrigado pela ajuda e por chamarem o pessoal.

Segunda é o nosso sétimo dia, começamos a correr contra o tempo, nos mudamos de manhã, os móveis começam a chegar a tarde. Dessa vez não chamamos ninguém para ajudar, não tem como explicar porque estamos recebendo tantas coisas de criança. Enquanto o Phat vai montando os móveis eu vou colocando as grades de proteção nas portas e escada e os protetores de tomadas, quinas e gavetas.

Nem acredito quando acabamos, mas está pronto, a nossa casa, exatamente como o meu designer.
Pedimos para entregar o jantar e vamos dormir, amanhã vamos voltar para a Claire.



***** So no mundo dos perfeitos PatPran daria para fazer tudo nesse tempo né?!

Bad Buddy - DepoisOnde histórias criam vida. Descubra agora