CAPÍTULO 03

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— Capítulo 03 —O perfume no travesseiro

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Capítulo 03 —
O perfume no travesseiro

***

Hinata

Senti meu corpo pesar depois do banho quente. Geralmente eu estaria surtando por estar no quarto de um cara, mas Naruto parece ser confiável.
E também, o aroma de comida que vem lá de baixo me faz querer ficar.
Me troquei com a roupa dele e sentei na cama, abraçando um travesseiro. O perfume impregnado ali me fez fechar os olhos. O mesmo que vinha das roupas. A camisa de Naruto que eu estava usando era cinza e cobria meu corpo todo feito um vestido.  Era de uma malha gostosa. Por baixo eu estava usando uma bermuda que mal aparecia por conta da camisa enorme.
Cheguei a tampar meu rosto quando não encontrei resposta para a pergunta que rondou minha cabeça naquele momento: O que estou fazendo usando a roupa dele? E abraçando o travesseiro?
— Hinata, posso subir? — A voz dele, mais rouca que o normal, me fez jogar o travesseiro na cama.
— Sim. Eu já me troquei.
Pude ouvir os passos dele na escada e seu cabelo apontar até ele terminar de dar a volta na escada. No meu apartamento a escada é normal, e a parede com vidros fica na cozinha. Diferente da dele que ficava no quarto.
Deve ser um sonho acordar com uma vista dessas. Não que eu queria descobrir…
Me mexi na cama soltando um pigarro.
— O cheiro está muito bom — falei antes dele se sentar ao meu lado na cama.
Cheguei a engolir em seco. Por causa do meu passado, a aproximação de garotos me deixa tensa. Independente se esse garoto for Naruto. Ainda não o conheço tanto assim para ficar relaxada, mesmo que eu o ache confiável.
Só assim, com ele ao meu lado, que eu consegui esquecer do meu incômodo e ver seus olhos claros. Azuis. Lindos.
— O que? — Naruto perguntou depois que demonstrei minha surpresa.
Eu devia estar encarando ele feito uma idiota.
— Seus olhos são azuis — disse encantada com aquela cor de mar. — Bem azuis.
— É. Nunca tinha notado?
— Não. Você sempre usa boné e esse cabelo está sempre tampando — sem pensar direito, eu passei a mão no cabelo dele e fiquei de cara com o quanto Naruto é bonito.
Já tinha me conformado que o sorriso dele desmontava qualquer garota e seu jeito tímido e responsável é extremamente atraente, mas seus olhos…
Senti que meu estômago gelou ao encará-los por tempo demais. Algo aqui dentro se remexeu. Talvez fossem borboletas.
Eu sorri quando soltei seu cabelo dourado e ele voltou a cobrir os olhos como fios rebeldes que eram.
— Deveria cortar. Arrasaria o coração das garotas do colégio.
— Não sou do tipo que arrasa corações — ele deu de ombros. — Na verdade, nunca tive uma namorada.
— Se cortasse o cabelo arranjaria uma bem rapidinho.
Naruto sorriu e exibiu seus dentes retos. Uma covinha se formou do lado direito da sua bochecha me fazendo morder o lábio e desviar os olhos.
De onde saiu esse cara? Lindo, cozinha, é responsável, mora sozinho e ainda por cima tem covinha.
— Mas e você? Tem namorado? — A pergunta dele me fez olhá-lo e sentir o rosto quente. — Está com febre?
Naruto tocou meu rosto cobrindo toda a minha bochecha com sua mão. Seus olhos com cor de mar calmo me avaliaram enquanto eu ficava com o coração cada vez mais acelerado.
— Não está quente — e então ele me soltou, resmungando que eu estava vermelha. — Mas tenho um remédio para dor de cabeça, você quer?
Naruto levantou, mas eu o segurei e me levantei também.
— Não precisa. Eu estou bem. Acho que só… fiquei envergonhada com sua pergunta.
— Ah, foi isso. Deve estar me achando um babaca por perguntar algo assim, não é?
— Por que acharia isso? — cruzei os braços na sua frente.
Reparei que Naruto olhou na direção dos meus braços cruzados e depois para meu rosto. Mas fez isso bem devagar.
— Eu vou te esperar lá embaixo — ele me deu as costas, começando a descer a escada.
Uni as sobrancelhas sem entendê-lo. Depois fui até ele.
Naruto me encarou de novo.
— Que foi isso? — perguntei.
— Isso o quê?
— Estávamos conversando e do nada você me deu as costas e me deixou falando sozinha — tentei não demonstrar grosseria, mas ele mesmo já me disse que não preciso fingir na sua frente. 
— Você fala mesmo o que pensa, não é? — sua pergunta veio junto com um sorriso.
— Não desconversa. Eu fiz algo? — cruzei os braços novamente.
Naruto apontou para mim.
— É por causa disso.
— O quê? — Olhei para mim. — Sua camisa? Você me deu para usar.
— Não. Você, cruzando os braços. É difícil ser respeitoso assim — e então ele voltou a descer as escadas. — Então vou apenas te esperar na cozinha.
Juro que não fui capaz de entendê-lo, até ir para o espelho e cruzar os braços. Estava sem sutiã e meus seios ficavam em evidência e meus mamilos eriçados marcados. Fiquei tão vermelha que caí na cama de rosto no colchão.
— Eu quero morrer!
(...)
Naruto cozinhava bem demais. A cada garfada eu sentia vontade de soltar um palavrão ou bater asas e voar.
Ele fez peixe frito com salada agridoce e torta de legumes. E devo confessar, ele tinha razão. Comida congelada é uma tralha perto de uma comida boa dessas feita na hora.
Abocanhei mais uma garfada de torta sem perceber que ele me observava.
Até ele soltar uma risada baixa.
— O quê? — tinha uma bolota na minha bochecha.
— Você parece que não come há semanas. Estava presa em cativeiro?
Terminei de mastigar o encarando e depois engoli.
— Você é bem metido para um nerd.
— Eu não sou nerd!
— Tem cara de nerd — retruquei levando outra garfada de torta à boca. — E isso aqui é de outro mundo.
— Que bom que gostou. Coma o tanto que quiser.
Tomei goles de refrigerante e bati a latinha vazia na mesa.
— Se continuar assim ficarei mal acostumada e virarei uma rolha de poço.
Naruto então desceu os olhos para os meus braços e deu de ombros.
— Está mesmo magrela demais. Precisa se cuidar mais, comer direito ou vai acabar sumindo de tão fina.
— Acho que é o primeiro cara que diz isso. Geralmente eles falam que estou perfeita e que não preciso mudar nada — percebi que ao fim da frase eu estava perdendo a voz. — Nunca dizem que preciso me cuidar.
Era ruim ser vista assim, como um pedaço de perfeição que não era perfeito.
As garotas sempre elogiavam minha barriga lisa, mas nunca souberam das vezes que passei fome de tanto trabalhar. Ou os rapazes elogiam minha bunda e minhas coxas, sem saber que, mesmo estando em uma escola de riquinhos, eu não desfruto de tal fortuna. Aonde vou, não é um motorista que me leva.
Me viro sozinha e caminho, dia após dia, para sobreviver nessa nova vida que tenho.
Por isso, Naruto dizer tais coisas me deixam feliz. Porque ninguém se preocupa comigo de verdade; além do que minha aparência tem para oferecer.
— Bom, se nunca dizem — ele falou me fazendo elevar os olhos para seu rosto amigável. Ele sorria e exibia sua singela covinha. — então eu digo. Jogue aquelas tralhas fora e comece a gastar dinheiro com comida de verdade!
— Já disse que queimei um miojo uma vez, acha mesmo que dou conta? — nós dois rimos. — Mas se eu pudesse, faria lasanha de berinjela.
— Se tiver paciência, eu posso te ensinar.
— Eu não tenho tempo pra isso — respondi com seriedade, ficando tensa com a aproximação que ele estava sugerindo.
Naruto balançou a cabeça em um OK silencioso e começou a mexer no celular.
Sei que fui rude sem querer e por essa razão, fechei os olhos com força. Ele só estava querendo ajudar. Nem todos são como ele.
— Me desculpe — pedi, atraindo sua atenção. — Fui grossa com você mesmo me oferecendo ajuda para me ensinar.
— Na verdade, eu já me acostumei com você sorrindo apenas quando quer e sendo honesta com o que acha. É uma garota diferente da que eu tanto escuto falar na escola.
— Prefiro que todos pensem que sou ela. A garota perfeita que não tem problemas reais.
— E eu prefiro que continue sendo essa — ele apontou para mim —, uma garota fiel ao que pensa e não tem medo de dizer nada — não tinha como ter certeza, mas senti que meus olhos brilharam naquele momento. — Pelo menos comigo, seja você mesma. Ok?
Naruto sorriu mais, me contagiando.
— Ok.
E no mesmo segundo, eu soltei um espirro.
(...)
— Hinata, adorei seu cabelo — uma garota passou a mão no meu cabelo liso e azulado. — Você usa qual shampoo porque eu quero usar o mesmo.
— Eu também.
— Me conta.
Algumas garotas me rodearam em frente a sala de aula. Eu sabia o que todas elas falavam de mim pelas costas, mas não sou capaz de retirar a minha máscara e mandá-las ir se ferrar.
Então me forcei a sorrir e a entrar na onda.
— Eu uso o mesmo daquela YouTuber famosa, a Yamanaka. Meu cabelo cresceu depois que segui as dicas dela — mantive meu sorriso falso.
Acabei espirrando, mas não sabia se era por causa do resfriado ou porque sou alérgica à forsação de amizade.
Eu não era amiga delas.
Elas não eram minhas amigas.
E eu não sei o que estávamos fazendo.
Honestamente, eu não entendia o porquê delas se obrigarem a falar comigo se pensam que já passei na mão do colégio inteiro e fodo com professores para tirar boas notas.
— Depois posso enviar o link do vídeo que ela ensinou fazer uma máscara facial caseira per-fei-ta! — eu fingia muito bem. — Mando para vocês no grupo. Agora tenho que ir à biblioteca, nos falamos depois.
Nós fingimos dar beijos, mas sem encostar no rosto e mandamos beijos uma para a outra enquanto eu me afastava.
Ao virar o corredor, suspirei de alívio.
E espirrei novamente.
A biblioteca era perto das salas, então subi as breves escadas e entrei me escondendo na primeira fileira de livros. Me encostei e fechei os olhos.
— Me ensina a ficar com o cabelo bonito assim, amiga.
A voz dele me fez sorrir antes de abrir os olhos. Naruto colocou um livro na estante e veio até mim.
— Elas pedem isso, mas na verda—
Parei de falar quando ele colocou a mão no meu rosto exatamente como ontem. Seus olhos estavam tampados com o cabelo e a sombra do boné, mas acho que nunca me esquecerei da cor de mar que me transmite tanta calmaria.
Ele sorriu e se afastou um passo para trás.
— Só quis ver se você estava bem. Suas bochechas estavam vermelhas e queria me  certificar que não era febre.
— Ah... — passei a mão no rosto desviando o olhar.
— Pelo visto foi só a emoção de me ver.
— Cara você é mesmo muito metido — sorri ao dizer isso. — E obrigada por ontem.
— Sem problemas.
Então nos olhamos e o clima ficou estranho. Eu me lembrei da minha blusa marcando e dele vendo tudo e o clima foi piorando quando Naruto começou a sorrir sem graça e coçar a nuca.
— É... eu...
— Vamos logo, perdedor! — um garoto de cabelo preto passou por nós furioso.
Naruto revirou os olhos.
— A gente se vê. Tenho que ajudar meu amigo na TPM dele.
— Quer uma receita de chá para cólica que eu vi em um blog? — debochei imitando meu jeito de falar com as outras meninas.
Ele sorriu largamente antes de puxar a aba do boné contra o rosto e abaixar a cabeça. Ao erguer os olhos para mim, Naruto conseguiu fazer meu coração disparar.
— Se quiser uma companhia para o jantar sabe em qual porta bater.
Naruto saiu pela porta da biblioteca e até onde pude vê-lo, eu o acompanhei com o olhar. Só quando sumiu das minhas vistas eu percebi que ele também foi capaz de me fazer prender a respiração.
Minha mão foi ao peito, apertando o tecido do uniforme.
— Não posso lidar com isso. Não posso me apaixonar.
O problema é que só de olhar pra ele... Só de olhar, meu coração salta.
(...)
Meu dia no trabalho passou rápido.
Cheguei feliz e me mantive feliz, até Chouji dizer que eu estava feliz demais e fez eu me tocar do motivo dessa minha felicidade. Estava me sentindo atraída por Naruto e ele despertava em mim coisas boas que nunca senti antes. Ele é diferente, tem um humor interessante, é tão bonito que me rouba o ar e nem preciso falar do quanto cozinha bem. Nem das covinhas. Elas de verdade me deixam fraca.
Naruto é o tipo de cara que qualquer garota gostaria de conhecer e eu tenho medo de descobrir mais coisas boas dele e, lá na frente, quebrar a cara por ter sido boba e  emocionada.
Tenho medo de conhecer um lado dele que me faça mal. Eu tenho uma cicatriz no ombro que não me deixa esquecer o que um cara é capaz de fazer para conseguir o que quer.
Pensar nisso me fez suspirar e sentir arrepios. Não por causa do vento gélido que corria enquanto eu me aproximava do meu prédio, mas porque meu passado foi o mais cruel dos invernos.
Há um quarteirão de casa, avistei Naruto com um saco de lixo na mão. Ele jogou na lixeira e ia se virar, mas me viu chegando e parou.
Mesmo de longe eu consegui ver seu sorriso direcionado a mim.
Por causa disso eu suspirei profundamente.
— Vou começar a achar que tem cruzado meu caminho de propósito — falei ainda me aproximando e com as mãos no bolso do casaco.
Seu sorriso se manteve nos lábios, mas infelizmente, não consegui ver sua covinha justamente pela falta de luz em frente ao prédio. Ela oscilava no poste. 
— Sabe que eu pensei a mesma coisa.
Dei risada com sua fala.
— Posso te acompanhar até lá em cima em silêncio?
Eu dei risada novamente passando por ele mantendo as mãos no bolso.
— Você nunca fica em silêncio, Naruto.
E eu agradecia por ele estar sempre arrumando um jeito de andar ao meu lado e falar comigo. Por mais pavor que isso me cause, sinto que esse medo diminui cada vez mais enquanto a necessidade de confiar em Naruto apenas aumenta.
— Parece cansada — ele comentou subindo a escada.
— Exausta.
— Se aceitar, eu fiz uma marmita pra você — ele disse virando o rosto para o lado e dando de ombros. — Sabe, é que eu acabei me empolgando na hora de cozinhar.
É disso que eu estou falando. Ele cuida.  Protege.
— Bom, eu jamais negaria depois de ter cuidado de mim ontem.
Então ele me olhou.
— Não pense que foi de coração. Eu sou interesseiro.
— Ah, não me diga?! — eu já estava sorrindo novamente.
— Claro que sou. Quando eu ficar doente, você será obrigada a cuidar de mim. Está em dívida.
Não me aguentei e gargalhei.
— Se eu cozinhasse para você, provavelmente ficaria ainda mais doente. Cairia duro dois dias depois.
Dessa vez foi ele quem riu.
Naruto parou em frente à sua porta e me pediu para esperar. Ao retornar com uma vasilha em mãos, vejo que ele preparou lasanha de berinjela.
Meus lábios abriram levemente.
Ao elevar meus olhos para ele, o encontro olhando inquieto para os lados como se buscasse algo no chão.
Ou estava sem graça de me olhar depois de seu gesto atencioso.
Foi inexplicável o cuidado e carinho que senti naquele segundo.
— Você conseguiu me deixar sem palavras.
Ele sorriu e me encarou, dando de ombros.
— Eu já esperava que isso acontecesse.
Metido!

Metido!

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