5° capítulo

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LALISA

Quando você se tem duas escolhas, com certeza deve escolher a mais fácil e a que te ajudaria em várias circunstâncias.

Menos eu.

Nesse momento eu tento a todo custo levar as cópias do novo livro que a minha nova turma irá começar a ler - ou pelo menos eu tentarei fazer com que lessem. A biblioteca está vazia, ou pelo menos era o que eu achava quando por acidente derrubei os livros e uma mão pequena apareceu para me ajudar.

Não demorei a perceber que a mãozinha era de Jennie, minha nova aluna e a única que apareceu na minha primeira aula dessa escola. Eu estava me dando a chance de dar aulas para crianças e adolescentes e não mais pessoas mais velhas em uma faculdade. Passei em cinco teste e essa foi a escola que eu pensei muito em aceitar ou não me mudar totalmente para cá, já que ela era longe da minha última estadia. Não faz muito tempo que estou aqui, mas por poucos dias já vi que poderei me interessar em muitas coisas e problemas novos.

Ela não olha para mim enquanto pega os livros, mas assim que levanta, percebo suas bochechas cheias vermelhas e o lábio mordido. Ela era fofa nervosa, muito fofa.

— Obrigada. — Eu agradeço, e arrumo o resto das minhas coisas nos braços.

Ela sorri pouco, quase nem mostrando os dentes. Ainda veste o uniforme do colégio mas o casaco está igual minhas coisas dependuradas nos meus braços.

— O que a senhora está fazendo aqui uma hora dessa? — Move uma mexa do cabelo atrás da orelha e sinto meus estômago formigar.

Mas que porra é essa? O que está acontecendo com meu corpo?

Deve ter sido o fato de que Jennie disse algo, sem mais nem menos, só disse. Ela é quieta, tímida e introvertida. Das poucas vezes que vi ela pelos corredores, estava sozinha ouvindo música com fones ou olhando para os pés, com o rostinho quieto, ou até mesmo, triste. Poderia dizer que ela sou eu mais nova.

— Vim imprimir a próxima tarefa de vocês. — Responde, me recompondo.


A garota olha melhor para os livros e bufa, enquanto eu sorrio grande. É claro que ela iria fazer isso.

— Eu ainda nem comecei com o que me pediu...

Então me lembro da lição de casa que passei para ela.

— Tudo bem — Eu digo, me movimentando para a porta, mas ela me segue e fica do meu lado de repente. — você ainda tem mais alguns dias.

— Na verdade eu acho que preciso de meses.

A mesma expressão que eu sempre vejo nela, está novamente no seu rosto.

Tristeza.

— Ei! — Paro e me viro de frente para ela. — Porque essa carinha?

Sério, desde quando eu me importo?

— Ah, não sei — Franze o nariz. — Só que é muito difícil falar sobre mim.

— Sabe, querida, é difícil falar sobre qualquer coisa que não sabemos ou conhecemos. — Eu me custo a fazer um mínimo de carinho em seu couro cabeludo. — Se você não sabe o que escrever sobre você, talvez seja porque ainda precisa se conhecer.

Ela parecia um gatinho enjaulado. Sem expressões, medos, vontades e pecados. Como se a vida dela fosse a mesma desde sempre e ela não sabe como sair disso tudo sem se machucar ou acabar magoando e decepcionando alguém. Talvez os pais?

𝐒𝐇𝐀𝐃𝐎𝐖 | jenlisa (G!P) HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora