1° capítulo

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JENNIE

Após virar na estrada de duas pistas que nos leva até a universidade, mamãe diz:

— Só tome cuidado.

É o início do meu primeiro e último ano na minha nova escola e o dia de me mudar para o alojamento. Eu e Elisa já estávamos dentro daquele carro a mais de três horas e meu bumbum implorava por ar. No trajeto, mamãe me fez prometer que não beberia nem transaria com qualquer um e que focasse somente nos estudos. Também pediu para eu fazer novos amigos e que não ficasse somente no quarto do alojamento, o que não iria fazer diferença alguma se eu estivesse em casa, já que a maioria do tempo eu ficava trancada no cômodo, jogada na cama só de pijama, meias e engordando.

— Vou tomar mãe. — Fecho os olhos e afundo no banco do carona, desejando que meu corpo pudesse desaparecer ali dentro para eu não precisar ouvi-la usar seus argumentos protetores.

— Você passou o verão inteiro de mau humor. — Diz mamãe. — Está na hora de sacudir a poeira e seguir com a vida.

— Não passei nada. — Resmungo, mas passei sim.

Quando não estava imersa em frente à televisão, estava deitada na rede escutando pelo fone de ouvido músicas perfeitas para me fazer chorar. Mamãe diz que ficar remoendo as coisas não é bom, que sempre vai haver algo para nos chatear e que o segredo de uma vida feliz é não se deixar ser arrastado pela negatividade. Horas passadas me balançando na rede com Paul Anka nos ouvidos me fazem sentir melhor do que feliz.

A escola ficava na cidade vizinha, essa que era um pouco mais planejada e organizada. Passamos pelos pastos, casas luxuosas e caindo aos pedaços, subimos a serra e meu ouvido ficou tampado, deixando-me um pouco irritada, e para ajudar tivemos de passar em uma região com neblina, essa que fazia pelo horário ser muito cedo. Minhas malas estavam no porta malas e meu casaco, junto da minha bolsa de costas, encontravam-se no banco de trás, enquanto eu vestia uma calça jeans e um suéter sem manga na cor vinho. Além do destino ser mais frio que minha cidade, a época do ano era verão, fazendo com que muitos clubes estivessem abertos e vários carrinhos de sorvetes circulassem pelas ruas.

Depois de algum tempo, mamãe entra com o carro pelo acesso principal. A grande placa que dizia o nome da escola estava decorada com balões azuis e vermelhos, a rua do local estava lotada de carros, e pais zanzando para lá e pra cá com seus filhos. Mamãe passa pelo portão principal, maneando o volante com uma mão, enquanto a outra, desprendia o cinto.

— Onde eu viro? — Indagou perdida.
Suspirando, aponto para a direita.

O alojamento era um pouco afastado do local, pelo que percebi quando olhei no mapa. O lugar era grande e quando pisava os pés no campus, já alguns metros atrás do enorme departamento, estavam os vários dormitórios. No ano anterior não dei sorte na loteria de acomodações e acabei ficando com mais duas garotas no quarto. Essas já calouras, e pelo que parecia, era o segundo ano delas por aqui. Descemos do carro e enquanto mamãe pegava as duas malas no porta malas, eu abri a porta de trás pegando meu casaco e minha bolsa de costas. Antes de começarmos a andar, eu disse — Deixe eu te ajudar. — Peguei uma das malas das mãos de mamãe, trancamos o carro e seguimos caminho até os dormitórios.

Por incrível que pareça, o local disponibiliza para os estudantes travesseiros, lençóis e fronhas para as camas. – Esses que eram pegos assim que você passasse na secretaria. O quarto era de porte médio e havia três camas no local, sendo um beliche e a outra de solteiro. Percebi que o beliche já estava sendo ocupado por travesseiros e afins, enquanto a outra cama estava somente com o colchão sem proteção alguma. Duas janelas iluminavam o quarto na parte do dia, um armário de seis porta ocupava o lado esquerdo, junto de um ventilador de teto. Enquanto desfazia as malas, pessoas passavam diante a porta aberta. Gritos e passos apressados eram ouvidos pelos corredores.

Arrumei meus livros nas prateleiras que ali havia, e mamãe terminava de organizar minhas roupas nas gavetas médias do guarda roupa marrom. Depois de algum tempo arrumando tudo, finalmente finalizamos. Escutei a mulher bater as mãos nas pernas, como se tirasse a poeira das palmas envelhecidas. Olhei para a mesma e percebi que seus olhos estavam um pouco vermelhos, só não sabia se era por conta do pó ou pelo fato dos pais já estarem se despedindo dos filhos. Minha dúvida logo foi cessada, quando mamãe vem em minha direção e me abraça apertado.

— Mãe, não consigo respirar. — Falei quase sem ar.

— Ah, me desculpe, querida. — Afastou-se limpando as lagrimas.

— Prometeu que não choraria. — Alertei. — Eu vou ficar bem, hm? — Levei minha destra até seus cabelos, os alisando.

— Você vai para casa no aniversário de seu pai. — Apontou o dedo em minha direção.

— Sim, senhora. — Sorri.

Então ela se vira, e sai, contragosto, me deixando sozinha no meio de camas e poeira fresca.

𝐒𝐇𝐀𝐃𝐎𝐖 | jenlisa (G!P) HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora