2° capítulo

207 20 1
                                    

JENNIE POV

É o primeiro dia de aula e o campus está em polvorosa, os prédios de ripas brancas com todas as janelas escancaradas, os estacionamentos de funcionários lotados. No café da manhã, tomo um chá preto sentada no canto de uma mesa de madeira comprida, com o estômago se revirando demais para comer.

Meus olhos percorrem o refeitório de pé-direito alto como uma catedral, absorvendo os rostos novos e as mudanças nos conhecidos. Reparo em tudo em todo mundo: Em como as duas meninas que dividiram o quarto comigo na noite passada, são exemplos de garotas que preciso ficar longe, pois, nesse momento, elas obviamente estão quase masturbando o capitão do time de basquete por debaixo da mesa do refeitório, ao mesmo tempo. Lembro-me de como dois garotos do segundo ano fizeram bullying comigo em nossa antiga escola, e como minha ex melhor amiga, Keisa, está se esgueirando para os fundos da escola para fazer algo que vai contra as normas.

É ao mesmo tempo sinistra e incontrolável essa minha capacidade de reparar tanto nos outros quando tenho certeza de que ninguém repara em absolutamente nada com relação a mim.

Coço meu joelho esquerdo e prendo as mãos na barra da saia vinho, igual minha gravata. A blusa de manga branca cobria meus braços finos, e a meia, também branca, me esquentava até os joelhos ossudos. Respiro fundo, e finalmente escuto o sinal da primeira aula tocar.

(...)

— Sei que não vão usar, mas preciso que peguem.

Escuto a coordenadora exigir que os alunos pegassem um tipo de alarme, do tamanho de um MP3, mas ele não toca sua música favorita, ela vai apitar com um som ensurdecedor e alertar a todos que você está correndo perigo.

— São as normas da escola. - Alertou.

Os garotos a contra gosto pegam, rindo, indo em direção a sala.

— Para que serve essa merda?

Alguma garota atrás de mim pergunta.

— É um alarme. - A outra explica. — Se você achar que alguém vai te bater, ou, sei lá, te matar, você aperta o botão vermelho.

Eu rio.

Estou rodeada de crianças da classe alta, que andam com vários seguranças na cola delas. Não me assusta perceber que eles não saibam um jeito de sair de algo perigoso quando forem emboscados.

Pego o alarme e entro na sala. Escolho a terceira carteira ao lado das janelas.
A sala não é grande, nem pequena, mas é um lugar que porta no máximo vinte alunos.

Minhas matérias neste semestre são francês avançado, biologia avançada, história mundial nível universitário, geometria e uma eletiva aonde uma psicóloga irá avaliar todos os alunos durante as duas últimas aulas nas terças e sextas. Depois de ver todos os horários na agenda, finalmente a porta se fecha e todos levantam a cabeça para ouvir as palavras da professora e certamente, seu nome e idade, com uma frase motivacional bem grande escrita no quadro, bem acima de "Bem vindos, alunos!" e uma carinha feliz.

Eu não era fã de segundas de manhã, mas gostava de saber que faltavam só mais quatro dias para o sábado, e a calmaria chata do domingo me lembraria que a semana estava começando de novo, e eu teria que aguentar um ano todo assim, pra só depois, poder ir à Cambridge e ficar por lá mesmo durante bons anos.

(...)

— E, então, como foi o primeiro dia?

Vejo mamãe perguntar da tela do meu smartphone, sorridente, com meu pai ao seu lado de olho na televisão.

Não faziam nem vinte quatro horas que há vi, mas ela não achou o bastante somente as mensagens de texto e resolveu me ligar em chamada de vídeo agora a noite. Me mexo na cama, respondendo:

— Bom.

— Ah, vamos lá. - Diz, entusiasmada. — Me conte os detalhes. Você recebeu alguma lembrancinha ou até mesmo elogios sobre seu boletim escolar?

Respiro fundo, guardando o tom sem entusiasmo pra mim, e sorrio falso.

— Eles nos deram um tipo de... "Socorro, jogaram cola no meu cabelo" - Faço as aspas com o dedo da mão esquerda, e logo tiro a franja da testa.

— Como assim?

— É um alarme, mãe. - Explico. — Se você está em perigo, você aciona.

— Oh, sim! Claro, claro. - Balança a cabeça.

Mãe, eu te amo! Mas, por favor, sua filha odeia conversar.

— Tudo bem, querida. - Escuto a voz do meu pai. — Deixe ela descansar. - Pede. — Estou com saudades.

Obrigada.

— Também, pai. - Sorrio fraco.

— Oh, Jennie! - A mulher grita. — Mocinha, nem se atreva a não me atender nos próximos dias, me ouviu bem? - Chacoalhou a cabeça, afirmando. — Certo. Eu te amo, meu amor.

— Também te amo.

E assim, eles desligam.

Jogo o celular debaixo do meu travesseiro, enrolo a coberta no meio das pernas. Eu tenho outras duas colegas de quarto, mas por algum motivo, elas nunca entram pela porta logo depois que a última aula acaba. Talvez estejam repetindo a janta, os conversando pelos corredores, ou até mesmo transando no vestiário masculino. Tudo que eu sei é que quando eu acordo, elas não estão mais aqui, e novamente, eu fico sozinha.

𝐒𝐇𝐀𝐃𝐎𝐖 | jenlisa (G!P) HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora