A ansiedade de viver mais um dia no automático me fez acordar antes do despertador, de novo. Abro o celular e estranhamente estou sem sinal ou wifi, ainda falta 1 hora para que eu comece os meus preparativos para ir trabalhar, mas resolvo levantar mesmo assim. "Vamos Alice, você consegue sobreviver a mais um dia" Como se eu quisesse, respondia a mim mesma.
No banheiro analiso o meu rosto no espelho. Meu cabelo preto, apesar de liso, está todo emaranhado como se gatos tivessem brigado em cima da minha cabeça. Meus olhos, também pretos, encaram a pele pálida do meu rosto cheio de sardas. Faço o que tenho que fazer e vou até a sala.
No caminho encontro um panfleto que o síndico entregou para todos os moradores sobre o perigo que tem acometido a cidade. Tem aparecido muitos casos de canibalismo na televisão, acreditam que seja alguma nova droga ou algo do tipo. Bom, não tenho muito tempo para pensar nisso, as faturas do meu cartão estão vencendo e ainda não tenho dinheiro suficiente para pagar.
Enquanto preparo o café ligo a televisão, nenhum canal está funcionando. Parece que meu aparelho finalmente pediu as contas e vou ter que trocá-lo.
O café fica pronto e decido ver o amanhecer da minha varanda. A rua ainda está escura, mas ruídos podem ser ouvidos, quase como grunhidos ou lamentos. Não dou muita atenção e sigo esperando o sol aparecer. Dizem que 10 minutos de sol pela manhã ajuda a espantar a depressão, vamos ver se funciona mesmo.
O céu começa a tomar um tom alaranjado, as janelas das casas são as primeiras coisas a despontar da escuridão. Formas humanas começam a aparecer, algo não parece certo, mas cada um com seus problemas. Eu já tenho muito com o que lidar.
Ok. Algo realmente não parece certo. As pessoas nas ruas estão se movimentando de um jeito estranho, arrastado. Aliás, o que essa galera toda está fazendo na rua a essa hora? Nossa, como eu queria o Twitter agora pra saber o que tá rolando. Com certeza já teria alguma postagem sobre, mas não tem o que fazer além de esperar a Internet, ou sinal do celular, voltar.
A vizinha que adora limpar a casa enquanto todo mundo tenta dormir está saindo, será se ela viu essa galera?
Que?
As pessoas estão indo atrás dela?
MEU DEUS!
Acho que enlouqueci, estou alucinando, não deve ser real isso que tô vendo. Meu deus, meu deus, meu deus, meu deus....
Meu coração parece que está na boca, não consigo parar de tremer. Olho novamente para a cena sem piscar,
minha vizinha está sendo devorada por aquelas pessoas.
Deve ser alguma droga, tem de ser isso, ou eu realmente enlouqueci. Será se ainda estou dormindo? Isso não pode ser real, não tem como ser real. O que eu faço para saber se estou acordada e lúcida?
Decido sair de casa para falar com a senhorinha que mora ao meu lado. Abro a porta com ressalva, com medo de estar vivendo a realidade em sua forma mais assustadora, e silenciosamente vou me aproximando do meu destino.
Encosto o ouvido na madeira fria da manhã. Silêncio. Bato devagar e de repente algo se joga com violência em minha direção, me dando um susto que me faz gritar. O ruído que as pessoas lá de fora fazem é o mesmo que está dentro do apartamento da vizinha.
Logo começo a ouvir outro som como este se aproximando, corro desesperadamente até o meu apartamento e tranco a porta.
Real ou não, o amanhecer trouxe um pesadelo consigo.
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Amanhecer do Apocalipse
HorrorVer o sol nascer da varanda pode ter mudado o destino de Alice para sempre. O despertador não toca, ainda está escuro, mas o sol logo vai nascer. Da janela que da para a varanda, ruídos como se fossem de animais, invadem o recinto. Alice está desper...