Quarentena

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Eu fui mordida.

Quanto tempo ainda me restava?

Havia uma decisão a ser feita. Acabar com tudo isso e partir ainda como a pessoa que sou, ou me entregar ao novo mundo e seguir a manada.

Juro que pensei muito na primeira opção, mas não consegui nos piores momentos da depressão, quem dirá agora. A outra opção também não é nada atraente. E se eu cortasse a mão? Nah, acabaria com uma infecção do mesmo jeito.

As horas continuavam passando, e nada de eu decidir o que fazer sobre a situação. Então fiz o que fazia de melhor na minha vida passada: procrastinar. Eu morreria de qualquer forma, então porque forçar uma decisão agora?

Peguei o livro que comecei no dia anterior e resolvi continuar lendo. A mão estava enfaixada e eu não tinha febre, era como um machucado normal.

Mas sabia que meu tempo estava acabando. Minha mente estava em contagem regressiva, procrastinar e fingir que nada estava acontecendo não estava dando certo.

Comecei a suar frio, meu coração disparou como se eu o sentisse na garganta, minha visão ficou embaçada.

Desmaiei.

Quando acordei já era noite. A luz da lua entrava no ambiente iluminando o corpo ignorado do Michael, agora com algumas moscas fazendo presença. Decidi que era hora de fazer algo a respeito, então joguei o corpo da varanda. Acredito que nunca vou esquecer o som que aquilo fez ao tocar o chão.

Limpei tudo e fui tentar dormir. Não conseguia comer nada lembrando do Michael, imaginando como eu ficaria, isso me atormentava. Depois de horas olhando para o teto finalmente tinha conseguido dormir. Mas não foi uma noite tranquila, tive muitos pesadelos e fiquei acordando durante toda a noite.

Quando o sol começou a querer aparecer resolvi que era hora de levantar de vez. Fui até a cozinha preparar algo e notei que a mão não incomodava mais. Fui trocar o curativo e parecia uma ferida normal, totalmente o contrário do machucado de Michael que tinha uma coloração meio arroxeada ao redor.

E se eu fosse imune?

Uma euforia começou a tomar conta de mim. Não havia outra explicação, pelo que aconteceu com o Michael, já era pra eu ter virado um zumbi. A não ser que eu já tenha virado um, e tudo isso que tá acontecendo é apenas na minha mente.

Peguei uma faca que estava próxima, e sem pensar direito no que estava fazendo, cortei a minha mão que tinha sido mordida. Doeu MUITO. E agora eu tinha um novo curativo para fazer, parabéns Alice, você está realmente vivendo em um pesadelo cinematográfico.

Como eu gostaria que a Internet ainda existisse para eu colocar no Google: "como sobreviver a um apocalipse zumbi?".

Certeza que teria um milhão de links com boas dicas. Mas aqui estava eu, trancada em um apartamento, sozinha. Pelo menos tinha água e comida para o resto do mês. Mas, e quando acabasse? Não posso pensar nisso agora, tenho que usar o mantra de um dia de cada vez, vai que não sou imune e viro um zumbi amanhã?

E assim os dias viraram semanas.

As semanas viraram 1 mês.

E a comida tinha acabado.

Amanhecer do ApocalipseOnde histórias criam vida. Descubra agora