Despertar

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Quando abri os olhos havia uma imensa claridade em cima de mim. Ouvia vozes, mas estavam distantes. Meu corpo estava muito dolorido, era como se eu tivesse sido atropelada por um ônibus.

- Você está me ouvindo?

Era tudo que eu conseguia distinguir em meio a tanto barulho. Então decidi seguir essa voz, me agarrar a ela como se fosse um bote salva vidas.

- Sim. Onde estou?

- Aconteceu um acidente no meio da noite em seu condomínio, as estruturas não estavam em boas condições e acabou desmoronando tudo. Você teve muita sorte por conseguirmos te salvar, a maioria não conseguiu. Você ficou em coma por 1 mês e acordou agora, como se sente?

- Então tudo foi apenas um sonho?

- Que?

- Nada, eu tive um longo pesadelo.

- Você tem família? Ou amigos que possamos encontrar?

- Não tenho ning...na verdade, tem alguém que eu queria ver. O nome dele é Michael Andrade, ele é do meu trabalho. Peça para irem até a Icon Corp. e perguntar por ele no recursos humanos. Provavelmente vai estar lá.

- Vou informar as autoridades. Enquanto isso tente descansar, você deve sentir tonturas, náuseas, perda de memória...mas isso é temporário, logo voltará ao normal.

- Obrigada.

Eu não consigo acreditar que tudo foi fruto do meu inconsciente. Parecia tão real. Ainda consigo sentir a sensação de ser mordida, mas não consigo olhar o local porque está todo enfaixado com curativos; pelo o que entendi todo o meu braço esquerdo, incluindo o ombro, foi machucado durante o acidente.

E para ser sincera até acho bom, não quero lembrar mais daqueles momentos horríveis. Do cheiro podre, do som que aquelas coisas faziam. Tudo que eu quero é encontrar o Michael, me certificar de pedir desculpas sem ele ouvir, e seguir em frente.

Tá, parece algo idiota de se fazer, mas eu realmente me sinto mal de jogar o corpo dele da varanda, mesmo que não tenha sido real. Consciência pesada pós coma, quem diria.

Comecei a sorrir sozinha, pensando em dar valor a cada momento. Uma pena não ter tv no meu quarto, nunca pensei  que eu sentiria tanto falta disso. E do Twitter? Ah, que saudade.

Ok, talvez eu esteja sentindo falta das coisas erradas, mas é que é muito bom saber que tudo não passou de um delírio e que logo logo eu posso recomeçar. São tantas as possibilidades, acho que vou sair do meu emprego. Quem sabe o que eu poderia fazer.

Fiquei tão aliviada e relaxada que cai em sono profundo, sendo acordada um bom tempo depois pelo médico que me tirou do coma falando:

- Encontramos o Michael. Ele soube que você estava internada e veio representando o pessoal do trabalho. Nem foi preciso irmos até lá. Não é incrível?

Não conseguia esconder minha felicidade, finalmente o ponto final que eu precisava para seguir com minha vida.

- Pode entrar, Michael.

Quando Michael entrou na sala senti meu mundo desabar, era como se meu sangue tivesse virado gelo. Um tremor absurdo começou a espalhar por cada centímetro do meu corpo, o monitor que mostrava os batimentos do meu coração estava apitando em desespero.

Michael caminhou lentamente até mim, deu um beijo na minha bochecha e disse baixinho no meu ouvido:

- Eu falei que iria pegar você também.

Amanhecer do ApocalipseOnde histórias criam vida. Descubra agora