1954, 10 de Março. Massachusetts - EUA. Elizabeth Grant.
- E aquela sua amiga lá, a que tinha sumido? - Tirei os sapatos, cansada de andar com aquelas coisa para cima e para baixo.
Ela me olhou, após sentar-se em sua cama (provavelmente, achando estranho eu finalmente puxar assunto) e sorriu de lado, dando de ombros.
- Está se recuperando. - Me joguei para trás, exausta, ouvindo ela falar - Ela foi resgatada por um guarda naquele dia, mas já havia sido... - Suspirou - Violentada. Então ela precisa de alguns dias em observação da psicóloga e tal...
- Hm... - Foi tudo o que respondi, até que o silêncio pairou.
Como vou ter que passar o resto da minha vida de menoridade aqui, vou precisar de aliados. Gostei da forma de Lotus se expressar na aula, confesso. Não esperava que aquela futura freirinha seria tão inteligente, à ponto de enxergar as falhas da sociedade.
- É necessário essa palhaçada, mesmo? - Tirei a boina vermelho vinho da minha cabeça e levantei-a, esperando que ela visse - Odeio isso!
- Nem me fale. Já fui suspensa de várias aulas por causa dessa praga. - O tédio em sua voz era notável.
Sorri, me agradando com aquela menina. Tudo que eu precisava agora era uma aliada com o mesmo grau de tédio que eu.
- Eu odeio tudo aqui, se eu pudesse, fugiria para ir beber com os meus amigos! - Comentei.
Lotus não disse nada, apenas ouvi alguns barulhos e um risinho nasalado. Levantei a cabeça e vi que ela já estava de pé, de costas para mim, mexendo em alguma coisa em uma caixinha em cima da escrivaninha.
- Já, já você acostuma! - Dava para ver suas bochechas esticadas, sorrindo - Eu também odiava isso quando cheguei, mas aprendi a controlar...
- Acho difícil... - A olhei de lado, desconfiada.
- Quem sabe você não ache diversão? - Sugeriu, dando de ombros.
- Em rezar o terço sei lá quantas vezes? Não, prefiro dormir. - Passei a mão nos cabelos - Sabe, eu pensei que você fosse mais um desses seguidores... Coloquei até na cabeça a imagem de você sendo freira, um dia...
Então, ela gargalhou. Mas foi tão alto, que se uma das irmãs supervisoras estivesse checando o corredor, ela entraria e nos dava uma punição.
- O que você tem, sua louca? - Senti vontade de rir também, mas me controlei.
- Eu prefiro ser arrogante, do que uma seguidora! Me recuso baixar a guarda para os militares, meu pais, sociedade... - Ela tirou a blusa e foi em direção ao banheiro - Por isso estou presa nesse inferno.