Condicional

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Kurt suspirou enquanto tamborilava os dedos na mesa de madeira maciça. Do tipo que o fez lembrar da mesa da sala da sua chefe. Ao seu lado direito estava Lena como sua acompanhante oficial e a esquerda o oficial da condicional, um homem mexicano de olhos amendoados que parecia muito entediado. A sua frente e diretamente do outro lado da mesa estava a promotoria. Sonia Paxton a promotora ruiva que o olhava com sarcasmo vez o outra. Todos esperavam a chegada do Juiz que ainda não se tinha notícias, de acordo com a secretária do lado de fora da sala. Havia uma certa tensão enquanto a promotora lia as novas informações do caso. Na verdade, cada vez que ela lia algumas coisas olhava atentamente para o loiro. Como se o analisasse. Kelly Olsen, a gentil psicóloga também estava lá, sentada no banco das testemunhas. Seu sorriso leve e a falta de julgamento natural em sua expressão o ajudava a não se sentir tão réu.

- O Juiz Carlton está em sessão. - O guarda anunciou abrindo a porta para o homem baixo com o manto preto em seu corpo. Todos ficaram imediatamente de pé.

- Bom dia. - O Juiz se sentou sendo acompanhado pelo resto da sala. - Ah, Senhor Danvers. Ouvir falar do senhor, o que tem a dizer?

- Meu cliente cometeu um erro, mas está impecavelmente cumprindo sua sentença. - A advogada, Analise Keating disse confiante.

- Sentença essa que foi concedida pelo tribunal desde condado. - A Promotora retrucou.

- E que meu cliente está cumprindo com êxito e sem objeções ou privilégios. - A Dra Keating defendeu desafiando a Promotora

- Por quê? Prisão domiciliar deixou de ser regalia?! - A Promotora Paxton zombou um riso de escárnio.

- É um direito! E foi conquistado por bom comportamento que, por sinal, está citado nos altos desde então. - Enfatizou a advogada ainda mais confiante do leve descontrole da promotoria.

- Só porque ele não se envolveu em uma briga na prisão não faz dele inocente. - A Dra Paxton tentou conter sua irritação com a tranquilidade da outra.

- Mas sabemos que só o fato dele nunca ter ido parar em uma solitária, muda muito a perspectiva dos fatos. Principalmente, falando sobre o caráter do meu cliente.

- Tudo bem. Ordem! - O Juiz interferiu antes que a discussão tomasse maiores proporções. - Por mais que eu concorde que não seja mais que a obrigação do réu, também não posso ser condescendente afinal. O réu ganhou direito livre de ter sua prisão amenizada para domiciliar. - O Juiz se recostou na cadeira encarando o loiro que o encarou de volta inexpressivo. Um truque que aprendeu na prisão pra controlar o nervosismo e/ou medo. - Não vejo razão para que ele não receba condicional.

- Com licença, Meretíssimo. Mas dada a natureza violenta dos assassinatos premeditados pelo réu. O sistema não tem nenhuma garantia de que podemos confiar nele. - A Acusação protestou encarando Kurt com raiva.

- Meu cliente cometeu um erro e vem pagando por isso desde então de maneira limpa. Isso com certeza quer dizer alguma coisa. - Debochou a Defesa. O Juiz encarou os presentes na sala e pensou por um minuto antes de prosseguir.

- Dra Olsen! - Ele chamou e a mulher se levantou em apresentação. - Tem sido o acompanhamento psicológico dele. O que tem a dizer sobre isso?

- O Sr Danvers tem sido bastante receptivo ao acompanhamento nunca evitando uma consulta. - Ela começou se aproximando da mesa em frente ao juiz. - Também não foi visto nele nenhum traço de distúrbio ou confusão mental.

- Certo. - O Juiz refletiu. - Senhor Danvers. - Chamou a atenção do loiro.

- Sim, Meretíssimo.

- Vou lhe dar o direito a condicional, mas um deslize e você vai voltar pra prisão, entendido? - O Juiz o encarou duramente.

- Sim, senhor. - Kurt respondeu com a mesma seriedade.

- Arranje um emprego também. O Estado não vai ficar gastando com você a vida inteira. - O Juiz disfarçou sua reclamação com uma recomendação. Kurt concordou silenciosamente. - Caso encerrado. - Ele bateu o martelo e se levantou fazendo todos os presentes a fazer o mesmo.

(...)

- Então, qual é o próximo passo agora? - A Dra Olsen disse com um leve sorriso em seu rosto quando saíram para a calçada do Fórum. A imprensa estava ali fazendo perguntas que ambos ignoraram.

- Ouviu o juíz. Arranje um emprego! - Kurt brincou imitando a voz do mais velho. Kelly riu. - Tentar viver uma vida normal. Se é que é possível. - Deu de ombros com as mãos nos bolsos. A imprensa mudou o curso assim que a promotora surgiu na porta.

- Bem, não vai ser fácil, mas vamos fazer isso juntos. - Ela tocou no ombro dele em um gesto amigável e tranquilizante. Lena revirou os olhos atrás deles.

- Não sabia que o Estado pagava você pra fazer amizade com criminosos. - O veneno na voz da detetive foi óbvio e estragou o humor dos dois no mesmo minuto.

- Não é. Assim como não é trabalho da polícia julgar uma pessoa por seus erros. - Kelly respondeu no mesmo nível e as duas se encararam. Kurt pôde sentir a tensão no ar.

No entanto, isso não foi a única coisa quando no minuto seguinte uma dor aguda atravessou o lado esquerdo do seu rosto. Ele se sentiu tonto por um segundo e foi acudido pela psicóloga ao seu lado.

- Hey, vai com calma! - Lena pegou a mulher pelo braço a afastando dos dois e já segurando a sua arma no coldre. Pronta pra qualquer coisa.

- OU O QUÊ??? VAI ME PRENDER? VAI ME MATAR, DETETIVE? - A cirurgiã ruiva gritou com raiva chamando atenção de quem estivesse presente na rua. - É ASSIM? ELE DESTRÓI UMA FAMÍLIA E VAI FICAR IMPUNE???

- Eu gosto disso tanto quanto você. Mas a lei é a lei. E você pode ser presa por agressão, é isso que quer?! - Lena confrontou Alex duramente. - Nada disso vai trazer seus pais de volta. - A imprensa parecia ser aglomerar ao redor deles como se fosse um ringue de luta. Kurt se levantou sozinho e olhou para a mulher que chamava de irmã mais velha sem palavras.

Então o tempo acelerou ainda mais rápido e ele viu tudo lentamente quando um carro preto saiu do estacionamento em alta velocidade e um homem com uma metralhadora surgiu da janela atirando em todo mundo. Lena se jogou por cima dos três empurrando Alex pro chão da escada. A imprensa e quem quer que passasse na rua fugia aos gritos. Os policiais do tribunal reagiram atirando no carro pra imobilizar entrando na frente do pequeno grupo, mas o homem gastou o segundo pente de bala quase a esmo. Kurt ficou zonzo e deslizou sentado na escada. A dor no maxilar foi esquecida. E um líquido quente escorreu em suas mãos. Sangue.

AprisionadosOnde histórias criam vida. Descubra agora