Hospital

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- Então? Conseguimos alguma coisa? - O homem mais velho olhou para o rapaz loiro através do vidro.

- Nada. - O Detetive moreno suspirou irritado. - Já tentamos tudo, mas ele não diz uma palavra. Só fica lá com aquela cara de cachorro perdido.

O loiro na sala fechada de interrogatório estava sentado com os braços cruzados em posição defensiva olhando para a mesa à sua frente como se fosse a coisa mais interessante que já tinha visto. Mal podia se olhar no espelho.

- Acha que ele tem um cúmplice? - Lena disse o observando

- Não sei, quer tentar? - Mike, outro Detetive a desafiou com uma expressão sarcástica.

Lena arqueou a sobrancelha e não hesitou ao entrar na sala de interrogatório com uma pasta parda na mão. O loiro nem se quer a olhou, mas sabia que ela estava lá. Para não fazer movimentos bruscos e nem usar intimidação, que não haviam funcionado antes, ela sentou-se na cadeira em frente a ele, deixou a pasta na mesa e cruzou as pernas com um suspiro profundo.

- Kurt Danvers, certo? - Ela perguntou calmamente. - Eu vi algumas das suas matérias nos jornais. Impressionantes e perigosas. - Ela se inclinou puxando a pasta devagar e a abriu. As fotos se revelaram do mesmo jeito que o relatório da polícia, tudo trazido à luz.

Mas a escapada do jornal que ele trabalhava mudou a direção dos seus olhos. Lena o observou chegar para trás e cruzar os braços como se aquele simples papel fosse atacá-lo. Os homens do lado de fora não perdendo nem um segundo da cena desenrolando.

- Olhe pra mim. - Ela pediu com uma voz profunda. Ele franziu o cenho, mas acabou cedendo. - Precisa me contar o que aconteceu. Se não contar pra mim, terá de contar nos tribunais. - Ela estendeu as fotos do casal morto pra perto dele. As imagens o causando arrepios.

- Ninguém vai acreditar em mim. Nem você. - Ele sussurrou.

- Tente.

(...)

A voz profunda ecoando em loop fez sua cabeça doer como se tivesse levado uma martelada. O som do bip parecia um alarme despertador familiar até sentir a dormência no braço. Estava com um intravenoso de soro na veia do braço esquerdo. Como um estalo, isso o despertou. As memórias se misturando de maneira confusa tão incômoda quando os beliscões de elétrodos no peito. Ele mexeu os dedos devagar tentando sentir seus músculos. Parte do seu cérebro só queria se certificar de que nada estava fora do lugar. A ideia acelerou o seu batimento cardíaco o suficiente pra chamar atenção da enfermeira.

- Bem-vindo de volta! - A mulher ruiva sorriu gentilmente. Ele tentou reagir, mas ela segurou sua mão com cuidado. - Fique calmo. Você está no hospital e está seguro. - Ela se afastou e alcançou um copo d'água no gaveteiro ao lado, segurou a cabeça dele com cuidado e foi molhando os lábios dele devagar até que pudesse beber.

No entanto, a agitação do lado de fora chamou a atenção dos dois. Kurt olhou atento enquanto a enfermeira se preocupou com suas suturas com manchas de sangue. Precisavam ser trocadas.

- Detetive Luthor! Seu paciente é testemunha de um assassino e eu quero saber do estado dele imediatamente. - Lena não gritava, mas não dava pra ignorar o murmúrio gelado da irritação latente em sua voz.

- Sinto muito! Mas apenas familiares, essa é a regra! - O cirurgião negou com veemência tentando não se intimidar com o brilho sombrio nos olhos da mulher mais baixa e imponente.

- Sabe que me impedir de ver seu paciente resulta em obstrução da justiça, não sabe? - Ela o desafiou.

- E quem vai me prender? Você? - Ele riu com escárnio que irritou Lena ainda mais. E ela revidaria se uma mão firme não segurasse seu braço.

- Isso não é necessário. Eu sou a irmã dele. - Alex se pronunciou entre os dois. O cirurgião a olhou confuso.

- Você tem um irmão?! Por que eu nunca soube disso?!

- Porque não é da sua conta, Kennedy. - Alex bufou irritada com o homem e abriu a porta do quarto deixando espaço o suficiente pra Detetive entrar. Lena encarou o cirurgião de maneira brutal uma última vez antes de entrar no quarto e fechar a porta na cara dele. As batidas do coração do loiro se agitaram com a chegada.

- Pela reação, vocês se conhecem. - A enfermeira falou inexpressiva. - Vou deixar vocês conversarem, mas nada de bagunça! - Ela avisou seriamente para os três e saiu da sala. Não sem antes piscar para seu paciente.

Lena se aproximou com cuidado. Sua expressão dura revelando um brilho de culpa em seus olhos. Kurt a encarou primeiro e tentou sorrir, mas percebeu que seu maxilar doía. Resultado de entubação.

- V-você está bem? - Ele sussurrou.

- Melhor do que você, com certeza. - Ela mascarou a surpresa da preocupação dele em perguntar. - A Dra. Olsen também, só levou uma bala de raspão. - Ela informou como se pudesse ler os pensamentos dele.

Alex continuava imóvel e séria observando os dois. Lena podia ver um misto de sentimentos e pensamentos atravessando-a como uma tempestade. Ela tinha as mãos nos bolsos da jaqueta e pela postura firme não seria difícil dizer que ela também era uma policial.

- Sinto muito. - Ele olhou para irmã com a mesma expressão de um Golden Retriever deixado na chuva. Ela respirou fundo em resposta.

- Pague sua pena, mas faça isso vivo. - A ruiva disse entre dentes e saiu do quarto.

- Sim, esse é o mais perto que ela consegue dizer que está feliz que você está bem. - Lena disse e sorriu gentilmente pra ele por um momento.

- Quantos dias?

- Quatro, pra ser exata...

A entrada de um novo médico de plantão na sala mudou o ar de tensão.

- Danvers, você está vivo! - O homem disse animado e olhou pra Detetive de pé ao lado dele. - Como vai, Detetive?

- Bem, Dr. Wayne. Obrigada. - Foi sucinta e educada.

- Sente alguma dor? - O homem mais velho voltou sua atenção ao paciente.

- No Maxilar.

- Isso é normal. É resultado das horas de entubação, vai passar antes que perceba. - O médico respondeu despreocupado enquanto levantava o encosto da cama pra examinar. - Você levou uma bala no pâncreas, sua cirurgia foi bem difícil, porém o resultado está melhor do que o esperado. - O médico acendeu a famosa lanterninha nos olhos dele, mas por apenas alguns segundos. - Ainda vou precisar de você aqui em observação por alguns dias. Tem alguém que possa ficar com você?

- Eu vou ficar de olho nele. - Lena respondeu e Kurt quase acreditou que ela havia dito isso de maneira despreocupada.

- Bom. Embora você esteja bem, é melhor não arriscar, seus pontos ainda nem começaram a cicatrizar. Por enquanto, eu recomendo soro, água e alimentação leve. - Dr. Wayne disse olhando o ferimento de maneira superficial. - Se sentir qualquer coisa, não hesite em chamar.

- Obrigado, Doutor.

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