PEDAÇO DO CÉU

𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑢𝑙𝑜 𝐼𝑉

Sejam completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns aos outros com amor.
– Efésios 4:2

No intervalo Alê aparece na sala para falar que precisamos adiar a reunião que teríamos no fim da aula, para outro dia, pois vai ter treino de líder de torcida.

-Isso é tão importante assim? -Pergunto, mas assim que me escuto percebo o quanto minha pergunta sooa boba. Alê é um ano mais nova que eu, mas todos da escola já a conhece como se ela estudasse alí a mais tempo, simplesmente porque todas as garotas da escola gostaria de estar em seu lugar. Não só as que não são líderes de torcida, mas também as que são, já que gostariam de ter o seu talento para ginástica, sua elasticidade é incrível e ela só fica atrás da líder Mirela, aquela por quem Alessandra está disposta a fazer tudo para chegar ao seu nível, o que traduzindo seria agradar Mirela de todas as formas, o que também traduzindo, é uma missão impossível.

-Você sabe que a Mirela não vai me perdoar se eu não aparecer. -Ela fala choramingando.

-Promete que só dessa vez?

Ela faz uma cara de sem graça.

-O que foi? -Pergunta Tifani.

-É que eu não sei quantos treinos terão essa semana, estamos nos preparando para arrasar no jogo que vai ter no fim desse mês.

-Ah, Alê. -Reclamo, sem saber o que dizer.

-Você não vem? -Mirela aparece na porta acompanhada de dois caras do tipo de futebol da escola, ela levanta uma sobrancelha em sinal de desafio.

-Olha, vamos fazer o seguinte. -Alê começa falar super rápido - Eu vou pensar em alguma ideia genial e depois marcamos a reunião para eu contar para vocês! Tudo certo? Ok, valeu! -Ela corre antes que alguém diga mais alguma coisa.

Lucas que estava paralisado olhando para minha irmã até o momento, volta a vida:

-Ela vai nos enrolar, você sabe, né?

-Sim. -Digo, triste.

-Fala pra ela que se não marcar essa reunião para essa semana, ela vai ser obrigada a ir para um encontro com o Lucas, ela vai marcar a reunião na hora! -Alfineta, Tifani.

-Ha, há, há, muito engraçado. -Responde Lucas -Você só está dizendo isso porque fica com ciúmes.

Tifani parece levar um susto.

-Eu?... ciúmes de você? Acorda garoto, meus padrões são bem mais altos. -Ela se defende.

Interrompo o próximo ataque de Lucas, entrando na frente dos dois:

-Ei, ei, vamos manter a paz aqui! -Os dois me olham de cara feia. -Podemos aguardar pelo menos a semana de provas.

-Concordo -Fala Lucas. -Já que não podemos manter os grupos da escola abertos nesse período, não tem porque pressionar a Alê, faz tempo que nada funciona, mais duas semanas dá para esperar.

-Tá bem. -Concorda Alê -Mas depois desse prazo, colocamos em prática a minha idéia.

Lucas lhe lança um olhar afiado. Mas não diz nada, sei que lá no fundo ele até que gostou do plano da Tifani. Desde que conheço Lucas, isso é, desde a 4° série, ele é apaixonado por minha irmã, ao ponto de não conseguir dizer nada elaborado para ela. Na presença de Alê, sempre acaba saíndo dele algo como: "Você acha que os alienígenas não dominaram a terra ainda, porquê conseguem enxergar aqui, mas como é a anos luz, então só conseguem ver a milhares de anos atrás quando tinha apenas dinossauros?" E claro que a única alternativa que ela encontra é fugir. Tifani se diverte com suas tentativas de flerte fracassadas, mas desconfio que apesar da insinuação de ciúmes mencionada por Lucas ter sido brincadeira, minha amiga têm sentimentos por ele, que pretende esconder até a morte por puro orgulho.

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Me despeço do Lucas quando passamos por sua rua, depois continuo meu caminho sozinha até em casa que não fica tão longe. Vou cantando baixinho pela rua vazia a música "Ninguém explica Deus":

"Nada é igual ao Seu redor
Tudo se faz no Seu olhar
Todo o universo se formou no Seu falar
Teologia pra explicar
Ou Big Bang pra disfarçar
Pode alguém até duvidar
Sei que há um Deus a me guardar

E eu, tão pequeno e frágil,
querendo Sua atenção
No silêncio encontro resposta certa, então..."

De repente esculto um barulho de alguém andando atrás de mim. Quando me viro para verificar percebi que é ninguém menos que o Jhon Park. Agora essa, será que ele está me seguindo? Penso torcendo para ele não perceber que comecei andar mais rápido. Depois de algumas ruas, começo ficar assustada ao observar que ele aínda está alguns passos atrás de mim. Será que ele quer o que? Brigar comigo por não ter o reconhecido?
Quando finalmente chego em frente a minha casa me dou conta que ele continua a perseguição.

-O que você está fazendo? -Falo alto para ele escutar. - Por que está me seguindo?

Ele simplesmente se vira para a casa em frente a minha e continua seu próprio caminhos, fico parada olhando quando ele abre a porta da casa e para com um sorrisinho de lado, fechando a casa bem devagar, parece que saboreando o testemunho da vergonha que acabei de passar.

E aí pessoal, gostaram?
Confesso que senti um pouco de vergonha alheia escrevendo esse capítulo, não queria ser a Naomi nesse momento kkkkkk