Capítulo 02

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- Oi, Natasha - outro estranho a cumprimentou e Steve a observava sorrir educadamente para cada um deles.

Já havia se passado meia hora desde que ele decidiu ajudá-la a distribuir flores pelo cemitério e a garota não havia mentido sobre fazer isso todos os anos. Praticamente todo mundo a cumprimentava, ela sempre parava para falar com quem a chamava e Steve ficava parado admirando a atenção que a ruiva dava para as pessoas.

Aparentemente, ela sabia exatamente como todos precisavam conversar ou apenas de um sorriso gentil para sobreviver aquele dia. Steve ficava cada vez mais intrigado com a colega de escola em quem tinha um crush secreto desde que a conheceu.

Os dois nunca tinham conversado de verdade então a atração que ele sentia por ela era puramente criada pela beleza da ruiva e inteligência. A forma como Natasha também nunca ligava para o que falavam dela ou se preocupava em agradar alguém. Tudo isso somado ao que estava descobrindo ao passar esse tempo ao lado dela contribuía para que Steve Rogers ficasse cada vez mais encantado pela garota.

- Você tem companhia esse ano! - a senhora com quem Natasha conversava acaba trazendo a atenção para Steve - Fico feliz que não esteja sozinha.

- Sim, Steve está me ajudando com as flores - ela responde com o mesmo sorriso gentil - Essa é a Amy, o marido lutou durante a guerra do Vietña.

- Oi - ele cumprimenta a mulher de forma tímida - Sinto muito pela sua perda.

- Ele é bonito - a senhora fala - Seu namorado?

- Não! - Natasha responde rapidamente, nervosa com a súbita mudança de assunto - Só um amigo da escola.

- Por que? Vocês fariam um casal bonito.

Os dois ficaram sem saber como responder aquela afirmação, não tinham intimidade o suficiente para que uma resposta brincalhona surgisse, mal se consideravam amigos quem dirá um casal.

- Bem, nós temos que ir agora. O cemitério é grande, sabe como é... - Natasha acaba respondendo Amy após alguns breves segundos de silêncio.

Steve tentava segurar a risada enquanto a nova amiga, pelo que pôde entender da conversa, praticamente o arrastava para longe da senhora intrometida. Natasha resmungava coisas sem sentido e ele achou melhor não fazer comentários sobre o ocorrido. Continuaram o trabalho com as flores, outras pessoas falaram com ela e quando estavam finalmente terminando, Rogers se deixou vencer pela curiosidade.

- Por que você faz isso? - ele abriu os braços para as flores - Uma resposta honesta dessa vez.

- Eu sempre sou honesta - ela diz com uma careta indignada - Ok, nem sempre.

Ele riu com a confissão sussurrada. Ela escondeu as mãos nos bolsos e abriu um pequeno sorriso ao escutar a risada dele. Gostou do som e suas bochechas coraram um pouco ao perceber que acabara de admitir isso, mesmo que apenas para si.

— Tudo bem, eu respondo sua pergunta se responder a minha. — ela lançou a proposta em tom de desafio.

— Depende.

— De quê? — perguntou curiosa.

— Do que você quer saber. — deu de ombros como se fosse óbvio, ainda com um sorriso nos lábios, resquício da risada de momentos atrás — O que você quer saber?

— Nada disso! É pegar ou largar Steve Rogers, uma resposta honesta por outra.

Ela começou a andar em direção ao carrinho, voltando a empurrá-lo como se a conversa entre eles não estivesse acontecendo. Steve suspirou sabendo que não tinha chances contra a ruiva, se o que tinha ouvido pela escola fosse verdade, a garota tinha uma teimosia que deixaria até Joyce Byers com inveja.

— Está bem — ele deu uma pequena corrida para acompanhá-la — Mas eu vou mudar minha pergunta.

Ele viu o sorriso no canto dos lábios dela, a deixava ainda mais linda na opinião dele. Porém, quem se importa com  o que acha um adolescente levemente apaixonado?

— Nós temos um acordo então. — ela parou de andar brevemente para apertar a mão dele, retomando a caminhada logo em seguida — Quer perguntar ou responder primeiro?

— Perguntar.

O garoto não era que nem a ruiva, o sofrimento antecipado era algo com o que poderia lidar, essa história de arrancar logo o band-aid não servia para ele. Apesar de parecer confiante e destemida, Natasha encontrava-se realmente nervosa, não gostava muito de surpresas e o loiro parecia pensar no que realmente gostaria de saber sobre ela. 

— Vai fazer essa pergunta hoje ou só no memorial day do ano que vem? — ela o provocou — Olha, se precisa se esforçar tanto para pensar em algo é porque talvez não queira saber de verdade.

— Quem você vem visitar? — a pergunta saiu de seus lábios antes que ele ao menos pensasse — Quer dizer...

Percebeu que o brilho brincalhão havia sumido do rosto dela. O acordo era que pudessem perguntar qualquer coisa, mas ele já tinha percebido que aquele era um tema sensível. Ficou revoltado consigo mesmo por ter trago aquilo a tona, eles estavam avançando na conversa, quase deixando de ser completos estranhos e indo para o nível aceitável de colegas. Entretanto, agora Steve sentia como se tivesse estragado tudo.

— Eu perdi meus pais cinco anos atrás, os dois eram soldados e do mesmo batalhão. Todos morreram na missão deles. Eles estavam me adotando na verdade. Por conta da guarda provisória eu podia morar com eles, mas os papéis legais ainda não tinham saído. Então, oficialmente não era filha deles, logo, acabei voltando para o sistema.

— O sistema? — ele perguntou meio embasbacado, de tudo que esperava ouvir aquela resposta com certeza não chegava nem perto — De adoção?

— Sim — ela concordou, ainda sem olhar na direção dele. Os dois só continuavam andando, aparentemente sem rumo — As famílias deles não queriam a responsabilidade de cuidar de uma pré-adolescente, as pessoas são uma droga e dificilmente adotam crianças mais velhas. Então, fiquei no orfanato até o ano passado.

— Você fugiu? — ele com certeza conseguia imaginá-la fugindo. 

— Arrumei um trabalho de garçonete e consegui me emancipar. Venho para o cemitério todos os anos prestar homenagem aos meus pais, porque não importa o que a justiça diga, eles eram minha família e acabo enfeitando os túmulos daqueles que se sentem tao abandonados quanto eu. 

Steve abriu a boca para responder aquelas alegações, para tentar consolá-la, mesmo que um pouco, porém, como sempre Natasha foi mais rápida

 — Sua vez de ser honesto, Rogers.

 — Sua vez de ser honesto, Rogers

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