Eles haviam saído do cemitério, parados fora do lugar, Natasha acabou indo sentar-se em um banco que tinha ali e Steve a imitou. Mantendo o silencio ao lado dela, ele esperava a pergunta dela, toda sua vida passando diante de seus olhos como o bom ansioso que era.
— Por que está aqui sozinho? — ela finalmente falou.
— A pergunta de um milhão de dólares, senhoras e senhores, mas quem disse que não tenho o costume de vir sozinho? — ele rebateu e sentiu o peso dos olhos verdes sobre si.
A história dele não era nem de longe tão perturbadora quanto a da ruiva ao seu lado. Na verdade, considerando o que ela tinha lhe contado, Steve se sentiu quase que envergonhado em admitir o porquê de ter ido visitar o pai sozinho naquele dia.
— Já vi sua mãe em vários momentos, até os menores, na escola. Vocês parecem próximos e é difícil imaginar ela te deixando sozinho em um dia tão importante.
— Andou me observando, Romanoff?
O sorriso que surgiu em seu rosto foi automático. Estava tão acostumado em ser ele o admirador dela, que ficou surpreso ao perceber que talvez, só talvez, Natasha também pudesse gostar dele, pelo menos um pouquinho.
— Você está mudando de assunto, Rogers — a ruiva respondeu com um sorrisinho no canto dos lábios.
— Minha mãe se casou de novo, já faz alguns anos. Não, meu padastro não é um monstro, nós somos amigos e temos um bom relacionamento. — Steve parou de enrolar e começou a contar sua história.
— Mas? — Natasha o incentivou a continuar falando.
— Mas ela teve um bebê semana passada e não veio comigo hoje. Ninguém veio na verdade, então pela primeira vez me senti deixado de lado na minha própria família. Senti que estavam esquecendo meu pai e me perguntei se não seria mais fácil desse jeito, sem a sombra da perda pairando sobre a gente. Fiquei com raiva por pensar isso e acabei descontando nas pessoas erradas.
Natasha continuou o observando por mais alguns segundos antes de sentar-se mais perto de Steve. Deitou a cabeça sobre seu ombro, juntou a mão dele na sua e assim os dois ficaram em silêncio juntos. Ambos apreciando a liberdade de terem expresso sua dor em voz alta, sentindo alívio pela companhia.
Não eram próximos, mal podiam ser considerados amigos, mas naquele momento eles eram tudo o que o outro precisava.
— Sinto muito — ela sussurrou.
— É só besteira minha, vou ficar bem — ele lhe deu um sorriso que acreditava ser tranquilizante.
— Não é besteira, é importante — Natasha rebateu — Tudo o que sentimos deve ser levado em consideração, até os sentimentos que não conseguimos explicar.
— Como é ser uma adulta quando deveria ser só uma adolescente preocupada em terminar o ensino médio? — ele questiona ainda apertando a mão dela.
— Não é fácil, mas você se acostuma — ela respondeu — Só é solitário na maior parte do tempo, me acostumei com o silêncio e aprendi a gostar dele.
Aquele pequeno contato entre suas mãos mantinha-o ali na conversa, impedindo que saísse divagando por todas as coisas horríveis que havia dito para a mãe e o padrasto. Entretanto, Steve queria passar um pouco de conforto para ela também, queria lhe mostrar que Natasha não precisava ser tão sozinha.
Porém, ele só conseguia imaginar como era a vida que ela tinha levado... que ainda levava. Romanoff não deveria ter que se preocupar em se sustentar, mas sim em escolher qual faculdade iria. Ela era brilhante, ele sabia disso, os professores deles também, e aquilo não seria o suficiente considerando o todo.
— Eu me sinto um idiota por ter discutido com minha mãe.
— Por que sou uma órfã? — ela questiona com um sorriso debochado — É melhor que não seja por isso.
— Porque ela é incrível e não foi justa a forma como disse que estava seguindo em frente, como se isso fosse algo ruim. O que não é.
— Seres humanos são complicados, Rogers. Tenho certeza que sua mãe sabe como você se arrepende do que falou, mas também sabe que hoje é um dia difícil. Provavelmente ainda é complicado para ela também.
— Quantos conselhos consegue dar em um único dia? — ele a empurrou com o ombro fazendo com que o sorriso dela aumente. — Sério, estamos juntos durante um dia e você já está quase colocando minha vida nos eixos.
— Isso não é verdade, só estou espalhando minha sabedoria adquirida nas ruas, para colocar sua vida nos eixos precisaria de muita terapia e não sou psicóloga. — ela levantou do banco e estendeu a mão para ajudá-lo a fazer o mesmo — E mesmo que fosse, nunca seria a sua.
— Por que, não sou tão terrível assim?
Ele voltou a carregar o carrinho de mão, agora vazio, na direção em que ela seguia. Podia jurar que as bochechas dela estavam mais rosadas que o normal, mudança que Steve atribuiu ao tempo que haviam passado em baixo do sol.
— Você é terrivelmente lento, isso sim. — ela rebateu e não tocou mais no assunto, deixando o colega completamente confuso.
Natasha Romanoff não era uma pessoa de muitos amigos. Ela tinha um com quem realmente contava, que aparecia do nada com pizza em sua casa sempre que as gorjetas do mês haviam sido ruins. Mesmo assim, até para Clint Barton ler a garota era algo difícil, atividade que ele foi desenvolvendo melhor com os anos de amizade.
Tinha três coisas que Barton, como única pessoa que realmente conhecia e enxergava a ruiva como ela era, podia afirmar com certeza sobre sua melhor amiga:
1) ela gostava dos momentos sozinha tanto quanto gostava de se ver cercada por pessoas de vez em quando.
2) amava ouvir os outros, observá-los, acolher e cuidar das pessoas de uma forma que não fizeram com ela.
E 3) Natasha Romanoff era completamente apaixonada por Steve Rogers desde o momento em que o conhecera na aula de história durante o ano anterior.
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Um Dia Memorável
FanfictionO jovem Steve Rogers se encontra pela primeira vez indo visitar o túmulo do pai sozinho durante o Memorial Day, entretanto ele não esperava no meio de sua dor encontrar apoio na ruiva que conhecia da escola e por quem era secretamente apaixonado.