[1] Taylor

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Minhas vistas voltavam a clarear lentamente.

Um cheiro característico de remédios invadiu minhas narinas acima de tudo, acima da vontade que tive de saber onde estava.

Um lugar cercado apenas por uma luz de vela, alguns aparelhos médicos, um cateter enfiado no meu nariz, um par de agulhas nas minhas veias e um objeto no meu dedo medindo a minha pulsação.

Eu matei pessoas...

Eu vi pessoas morrerem...

Eu sobrevivi a caçada...

Tomei ar antes de tentar entender o que estava acontecendo, lembrando dos últimos instantes, talvez o motivo que tenha me trazido para esse lugar.

Um clima mórbido, sombrio e gélido cercava meus braços ouriçados.

Tentei me mover, mas a aparelhagem me impediu de ir muito longe, apenas serviu para disparar um pequeno dispositivo no canto da cama, sobre um modulo de madeira, próximo a um antigo aparelho de medição de batimentos. Um som repetitivo, irritante, desnecessário, mas que parece ter acionado alguém, pois a frente, um retângulo luminoso deslizou para o lado e de fora, de um corredor escuro, alguém surgiu junto à luz de uma vela.

— Nova, como se sente? — um homem se aproximou o suficiente para que eu o visse na luz pálida.

Ele era alto, negro, careca e barbudo trajando num terno verde fechado, com camisa e uma gravata preta e um trevo de quatro folhas na lapela. Seus olhos escuros em dúvida reluziam sobre a vela.

— Quem é você? — elevo um pouco o lençol para não me expor.

— Sou Artorus Levianer, fui eu quem a encontrou antes que perdesse a consciência.

— Casey... ele está bem?

Ele balançou a cabeça em negativa.

— Só encontramos você. Sorte foi chegarmos a tempo e despistar a patrulha.

— Há quanto tempo estou aqui?

— Uns três dias. Você bateu forte com a cabeça, ficou em coma devido a uma concussão, estava desidratada, com febre e com a pele infeccionada. Pedimos para concentrar a energia nesse maquinário para ajudá-la a se restaurar o quanto fosse possível. Sinto se parece um pouco antiquado agora, mas foi suficiente para sustenta-la viva no tocante ao estado em que chegou.

— Onde estamos?

Eu olho para o teto que lembra terra batida ou acomodada, raízes cresciam entre os blocos que eram minuciosamente alinhados, como se fossem cubos talhados a mão.

— Vamos explicar tudo a você — ele se sentou aos pés da cama, com curiosidade. — Como reage a dor?

— Fala da emocional... ou da física?

— Da física — ele sorriu um pouco. — A emocional todos já entendemos até mais do que gostaríamos.

— Dor de cabeça — toquei minha têmpora direita. Entretanto, lembrar de dor de cabeça prontamente me lembrou do porque estava sentindo-a. — Taylor! — me levantei apressadamente, segurando seu braço. — Você sabe algo da minha irmã? Da minha mãe?

— Muita coisa aconteceu nesses últimos vinte dias em que esteve fora, senhorita Bainshyer.

— Só me responda o que perguntei.

— Sua irmã está bem, na medida do possível. Após a entrevista individual com Eidor, todos sabíamos que você tinha contraído um grande problema ao fazer insinuações que para o Planalto devem ter soado como clara insurgência. Então soubemos que foi presa e condenada à morte pelo presidente, e esse foi o estopim para que apontássemos o dedo na sua direção e iniciássemos um debate até que chegássemos à seguinte conclusão: você é A Voz, aquela que tem transmitido palavras que se tornaram apócrifas diante do enviesamento proibitivo do Planalto.

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