[2] O Amor na Minha Vida

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Mais tarde, após comer as guloseimas da bandeja, eu noto quando as portas cintilam em azul e deslizam para os lados mais uma vez, dando a entender que é Artorus quem se aproxima.

Mas, no instante em que ele chega a luz, sou eu quem sorrio primeiro, antes de ele fazê-lo.

Ambos não nos aguentamos e pulamos num abraço mutuo, tão forte que força até mesmo o meu peito ferido por todos os embates mais duros da semana, contra o seu, esculpido pelo trabalho pesado. Ele esfrega o meu rosto, mas sei que nem ele e nem eu temos coragem para arriscar um beijo, por isso ele beija de forma mais leve a minha bochecha e depois me abraça mais uma vez.

— Você está viva — seu abraço era muito apertado, as vezes até exagerado, só agora entendo o porquê.

— Eu sobrevivi, Raiden. Eu não estou viva... eu apenas sobrevivi — acariciei todo o seu cabelo com cheiro de terra por quanto tempo tive vontade e por quanto tempo achei necessário até nos desgarrar, como uma vaca deixando livre o seu bezerro amado.

— Como se sente? Você está acabada.

Conferi as minhas mãos, atemorizada com a lembrança da morte de Ruina e do meu suspiro quando soltei a estaca contra o seu peito.

— Eu me sinto morta por dentro e por fora — meus olhos congelaram diante dos seus. Ele se sentou e me abraçou, me uniu ao seu corpo. — Mas... bem, me sinto inegavelmente bem porque a minha irmã está salva, você está vivo, minha mãe está bem.

— Você não sabe como foi doloroso ver você partir e não conseguir te alcançar, pelo menos para te desejar boa sorte ou zoar o seu cabelo uma última vez, sem saber se voltaria, mesmo você acreditando nisso fielmente.

Depois de tudo o que vivemos, eu pensei que Raiden acreditasse na minha vitória.

Foi triste, mas quem cria na minha vitória antes? Decidi não fazer caso.

— Acho que o momento mais intenso foi segurar os quatro símbolos. Raiden, você precisava ver, eles esquentaram nas minhas mãos! Mas, além das sensações físicas, foi que eu me vi preenchida por tantos pensamentos, tantas sensações, tantas emoções! E uma delas foi saber que... eu voltaria para casa.

— Mas isso acabou logo em seguida quando você e o seu amigo decidiram fugir pela cidade, não?

— As circunstancias, talvez — dei de ombros. — Eu sabia que seriamos capturados pelos Patrulheiros a qualquer momento, por isso a única coisa que eu queria era fugir, e se não fosse por Artorus eu estaria presa ou morta a essa hora. Como você está? Como estão Milha e Bessy?

— Artorus já deve ter dito que muitas coisas aconteceram, não é? Então... a minha mãe foi assassinada pela patrulha quando tentou impedir que a sua fosse levada.

— O quê? — eu quase pulei da cama. — Raiden... c-como? Artorus mentiu então?

Ele torceu um pouco o lábio.

— Na verdade... não sabemos como a sua mãe está, mas certamente não está morta e fontes da Fundação dizem que ela está com Maxsander, segura na casa dele. Eles deram um nano-dispositivo de monitoração para ela engolir logo que levamos a Taylor para o 4, para que ficasse segura. Só que em cidade pequena as informações voam e logo que descobriram o nosso plano, o Planalto enviou uma centena de Patrulheiros para pegar a sua mãe e todo mundo que estivesse simpatizando com as suas palavras.

Movi a cabeça.

— Não acredito nisso, Raiden. Eu pensei que todos estariam bem e a salvo aqui. Nunca pensei que... — ele agarrou os meus braços quando ameacei toca-lo e então olhou para baixo, pesaroso.

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