O Início

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Livro Um- Água

     Meu nome é Antoinette Topaz, mas pode me chamar de Toni. Tenho dezenove anos, sou negra, dos cabelos lisos e tenho algumas trancinhas no cabelo. Sou baixa, mas não tão baixa quanto uma criança, só que baixinha.
     Eu nasci na Tribo da Água do Sul, onde são raros os dominadores de água. O que acontece há muito tempo, mas houve um tempo em que pensávamos que isso poderia mudar, quando a Avatar Korra estava por aqui, mas as coisas não foram tão bem assim para nós.
     Eu sou uma das raras pessoas a dominar a água, hoje em dia. Na verdade, só existe eu de dominadora da água aqui, assim como no tempo do Avatar Aang. E eu me vejo muito na grande guerreira Katara.
     Meus pais morreram quando eu era muito jovem em um ataque da Nação do Fogo, assim como a mãe da Katara, um dia, morreu. Então, tive que ajudar a cuidar do meu irmão mais velho, que não sabia fazer nenhuma comida. Na verdade, ele não sabia fazer nada, pois não tinha vontade de aprender.
     Ele se chama Kevin e é um rapaz branco, pois somos filhos de pais diferentes, mas temos a mesma mãe. Eu cuidei dele até ele saber se virar sozinho, pois ele tinha uma certa preguiça de fazer os afazeres domésticos, sendo mais voltado para a guerra, diferente de mim, que sempre fui mais caseira e não dada à guerra.
     Kevin nasceu com sexo feminino, mas se sentiu menino desde cedo. Ele teve certa dificuldade para encontrar seu lugar na Nação da Água, mesmo que em nossa tribo não existam os preconceitos sobre gênero. Na nossa tribo, o mais importante é você lutar por todos.
     Só que não vou mentir, aqui a mente é fechada quanto a relacionamento amoroso. Para ser guerreiro, você pode ser de outro sexo, mas para construir uma família, não é bem assim. E olha que foi aqui que viveu a Avatar Korra, que se casou com um mulher e foi feliz a vida toda. Nunca vou entender como voltamos tanto no tempo.
     Hoje, meu irmão faz expedições contra a Nação do Fogo. Ele é um excelente guerreiro. E quando falo isso, não é para dar uma de nossa, que grande ele é, mas ele é tão bom que conseguiu a grandiosa espada que pertencia ao grande guerreiro Soka, irmão de Katara e a usa nas expedições. Somente os guerreiros mais honrosos conseguiram segurar nessa espada após a morte de Soka.
     Nosso irmão mais novo, o Apollo, vive comigo e está com aquela esperança de partir na próxima jornada, assim que Kevin vier nos visitar. Apollo é um menino negro, assim como eu. Ele ainda está treinando para ser um guerreiro e eu cuido dele desde que nossos pais morreram e ele era muito pequeno.
     Mas pra dizer a verdade, meu irmão mais novo não é muito bom em ser guerreiro. Por isso, acho que demorará um tempo grande até ele ir com Kevin lutar contra a Nação do Fogo. Isso se não for! Às vezes ele acaba encontrando outros caminhos. Talvez, o destino dele não seja ir com o Kevin. Eu não sei. Eu só sinto que não é pra ele ir pra batalha com o Kevin. Ele não é bom nisso.
     Bom... Eu estou treinando para ser a grande líder da minha tribo, assim que minha avó morrer. Minha avó sempre contou para mim sobre os tempos de paz na esperança de que eu consiga o que ela não conseguiu, que é pôr o fim a essas guerras que vêm e vão, e que nunca chegam ao fim.
     Ela nunca teve o poder da dobra da água, então nunca pôde fazer nada por nossa nação. Mas ela foi e é uma grande líder para o nosso povo. Ela nos comanda e nos treina, como só uma grande líder seria capaz de fazer. E a minha missão será substituir essa liderança usando meus poderes, pois essa é a minha vida.
     A Nação do Fogo sempre foi a mais forte nação do mundo. A Tribo do Ar está quase dizimada novamente, mesmo após ela retornar nos tempos de Korra, e o Reino da Terra luta bravamente, assim como fez antes, pois eles são assim, guerreiros natos que resistem aos desmandos da Nação do Fogo.
     A Tribo da Água é dividida em duas partes. A do sul, que é onde eu vivo, está quase dizimada, assim como a Tribo do Ar, e a do norte luta bravamente, pois é a mais forte e possui bastante guerreiros dobradores de água. Além de que eles souberam fazer algo que aqui não se aprendeu, mesmo após quase ser dizimada nos tempos de Katara e Soka. Eles aprenderam a se defender, mas nossos guerreiros não aprenderam e tudo ruiu de novo no primeiro sopro de fogo.
     Ainda restam alguns dominadores do ar escondidos vivendo como pessoas comuns, escondendo seus poderes de dominação para não serem achados e mortos. Eles são assim como eu, que tenho que esconder minha condição de dominadora, pois se a Nação do Fogo descobrir vai me capturar e me matar, assim como vai matar qualquer dominador que entre em seu caminho.
     Eu ainda não disse, mas as tribos da água ficam onde há água. Ou seja, ficamos onde há o oceano. Ficamos onde ficam as geleiras, pois temos acesso à água em forma líquida e sólida. Isso facilita na hora de fazermos nossas moradias, onde às vezes fazemos iglus.
     Aqui não temos iglus, na verdade, porque não temos dobradores para fazer as casas de gelo, ou melhor, não podemos deixar eles saberem que fazemos iglus feitos pela dominação. Então, fazemos tendas especiais de pele como moradias, assim como eram feitas nos tempos primitivos.
     Ao que se sabe, no norte, há muralhas enormes feitas para a proteção da tribo deles. Muralhas muito grossas e muito fortes, resistentes ao fogo da Nação do Fogo. Aqui onde moro, não existe isso, pois a nossa cultura sempre foi de abertura, diferente do norte que sempre foi desconfiado e sempre deixou a muralha lá, desde os tempos primitivos.
     Se eu fosse uma poderosa dominadora de água, poderia erguer as muralhas, ou tentar fazer uma muralha, mas eu não sou. E a verdade é que, nem mesmo quando haviam tantos dominadores aqui houve o tempo, pois o ataque da Nação do Fogo foi na calada da noite. O que se diz, é que o ataque foi de surpresa e todos os dominadores foram mortos no ato da invasão para que não se sobrasse ninguém.
     Eu sonho em, um dia, sair daqui e ir até o norte para aprender a dominação com eles e voltar para casa como uma grande e verdadeira líder. Mas sair daqui, como você vai descobrir, não é nada fácil. Só os guerreiros saem. Muitas vezes, eles nunca mais voltam.
     E, para ser honesta, uma parte deles não volta porque aqui não tem como viver. É um lugar pequeno e sem acesso a quase nada. Eles preferem ficar onde dá para se viver melhor e estão certos, no ponto de vista deles. Sabe, é como se eles se libertassem do fim do mundo.
     Eu não sei se eu me culparia por isso, se estivesse no lugar deles. As pessoas têm o direito de querer o melhor para elas. Mas, ao contrário deles, eu sei que sairia para voltar um dia e transformar tudo isso num lugar bem foda para se viver. Até os da tribo do norte iam querer vir para cá. É o que eu queria fazer. De verdade! É o que eu sonho em fazer pelo meu povo.
     E sobre a guerra que vivemos... Todas as guerras sempre foram lutadas pelos Avatares. O Avatar não pode escolher um lado, ele tem que manter a paz nas quatro nações, cuidando das quatro nações. Consegue me entender? É o dever dele manter a paz em todos os lugares e combater quem tenta fazer a guerra.
     Bom, o Avatar sempre nasce em uma das nações e representa sempre essa nação. Quando o ciclo dele acaba, renasce em outra nação e então está sempre em uma noção diferente, assim por séculos e séculos.
     Ele nasce no ar, depois vai para a água, depois para a terra e depois para o fogo, sempre nesse ciclo. Assim, ele mantém o equilíbrio e a alma dele sempre aprende mais e mais com cada nação. Pois a alma do Avatar nasceu para isso.
     Mas hoje, o Avatar é do fogo. Não sabemos que rumo essa guerra vai tomar quando o Avatar decidir se luta por todas as nações unidas ou se ajuda o Reino do Fogo a conquistar todo o mundo de uma vez por todas. Só sabemos que ele está no limite do tempo para decidir, pois já passou dezessete anos e ele ainda não decidiu. Não sabemos nem se ele é homem ou mulher, pois a Nação do Fogo não contou o que ele é.
     O limite é dezoito anos, que é quando ele vai fazer daqui uns dias... Estamos no limite do tempo para saber qual será nosso destino. Nosso destino está nas mãos dele. Espero que ele escolha lutar por nós, senão só existirá apenas uma nação e apenas o fogo restará.
     Sabemos que ele ainda não escolheu seu lugar, pois o rumo da guerra permanece o mesmo há muitos anos. Só ele poderá pender a balança para um lado ou para o outro. Só ele terá o poder de unir, de novo, ou de destruir de vez o mundo em que vivemos.
     E nós nunca soubemos se ele é homem ou mulher, assim como aposto que eles nunca contaram a história do nosso mundo para o avatar decidir sozinho por quem ele vai lutar. Espero que ele não tenha a mente comandada pelo Eei do Fogo. Espero que ele saiba escolher o melhor caminho pra lutar quando amanhã chegar.

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     Estou caminhando pelas geleiras à procura de peixes junto com meu irmão, Apollo. Ele não gosta muito de me ver dominando água, então eu evito fazer isso perto dele, já que eu não sou tão boa e molho ele todas as vezes. Ele sempre fica muito bravo, mas eu não tenho culpa. Só não tenho como aprender direito.     ― Olha, peguei um! Trás a cesta! ― Ele me mostra o peixe preso na lança.
     ― Estou indo. ― Me levanto de onde eu estou com minha lança e vou até ele, segurando a cesta.
     ― Conseguiu pegar algum? ― Ele me olha com desdém, pois sabe que eu sou péssima em pescar.
     ― Não peguei e você sabe disso, mas se preferir eu faço uso da minha dominação de água. ― Dou de ombros.
     ― Não precisa, eu pesco por nós dois. Sou o homem da casa. ― Ele estufa o peito e me olha de cima.
     ― Vai começar a ser machista de novo, Apollo? Um idiota machista? Já passamos das eras, seu idiota! Você sabe que odeio isso! ― Eu começo a me irritar muito e perder o controle, o que faz as geleiras começarem a chacoalhar.
     ― Pare com isso, olha lá! Ela está caindo na água! ― Ele aponta para a menina de cabelos ruivos que está desabando de cima da mais alta geleira bem em frente onde estamos.
     ― Vamos lá! ― Nós corremos com toda velocidade possível para salvar ela de se afogar dentro da água gelada.
     ― Eu pulo dentro da água e você me ajuda a subir com ela para o barco. Pega o barco que eu já vou pular e trazer ela. Fica atenta! ― Ele pula dentro da água e eu pego nosso barco, rumando para o mais próximo de onde ele mergulhou e ainda não subiu. Ele então, sobe com ela.
     ― Vem, eu te ajudo! ― Pego embaixo dos braços dela e a puxo para dentro do barco. Depois, puxo Apollo.
     ― Quem será que é ela? É maluca de estar aqui sozinha nesse frio e com essas roupas. ― Apollo olha para ela em tom de espanto.
     ― Não sei, mas é melhor a gente levar ela daqui antes que a Nação do Fogo encontre ela. Pode ser uma fugitiva, tanto que tá com a roupa deles. A gente precisa esconder ela até saber mais sobre ela e decidir o que vamos fazer depois. ― Olho pra ele com preocupação, nunca é bom sinal alguém aparecer vestido com uma roupa da Nação do Fogo assim do nada. Não por aqui!
     ― Tem razão, vamos lá! ― Apollo aponta o barco rumo à nossa tribo.

Daylight (REPOSTAGEM MELHORADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora