O começo

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Qual seria a chance de algo dar errado em uma viagem? Quando se trata de duas jovens irresponsáveis, todas.

Pode acontecer de tudo e mais um pouco, principalmente quando você viaja para um país sem saber falar a língua de lá. Mas o brasileiro nunca desiste, "eu sei me virar", "tem tradutor" e o melhor de todos "vai na fé que dá certo". Não gente, não dá. Os problemas começaram no aeroporto. Do Brasil.

Que merda em.

Rimos por horas da nossa lerdeza, mas estávamos em Nova York, nada poderia me deixar puta o bastante para acabar com a minha viagem. Ainda mais pelo preço e o dinheiro que gastei e sei que vou gastar. É aí que a frase só se vive uma vez faz você falir.

Enfim, seria os melhores dias das nossas vidas. Eu e Laura sempre fomos muito grudadas desde criança e essa viagem era só o começo pra gente. Depois de anos planejando finalmente conseguimos fazer A viagem.

Nova York, o sonho de inverno de qualquer pessoa que queria conhecer a neve. Depois de trabalhar muito pra isso eu consegui. Cês tão entendo? Eu consegui viajar para Nova York sozinha aos 19 anos de idade com o MEU dinheiro. Isso é um sonho e tá sendo realizado.

Tentamos fazer o máximo de coisas que conseguimos pelo celular pra não ter que falar inglês, no final não adiantou muito, tivemos que pedir comida no hotel mesmo, porque chegamos muito tarde e alguns lugares já estavam fechados.

Usamos tudo que aprendemos na escola (o que não foi muito) e o que adquirimos ao longo da vida. O que complicou foi o número do quarto, não fazíamos a menor ideia de como se dizia 320, no final a Laura ficou na porta esperando só pra ter a certeza de que eles entenderam.

A noite fria começou com patadas e muito ódio pra ser distribuído. Depois de horas se arrumando saímos para curtir um pouco da nossa noite já que dormimos boa parte do dia.

– E se a gente esbarrasse nas pessoas e pedisse Sorry? - ela me olhou com um sorriso - igual no filme, vamo?

– Bora. Você começa

– Vai você Laura, é mais cara de pau - ela me olhou indignada mas consegui convencê-la.

Foram muitos sorrys e muitas risadas. A gente até correu de um velho, parecíamos duas crianças.

– Chega né? - ela perguntou se virando pra mim - mais um véi que nem aquele que volto sem meu pulmão pra casa, tenho idade pra correr assim mais não.

Eu ri dela e chamei ela de sedentária. Ela riu de mim e faltou me bater porquê eu também sou sedentária. Em fim melhores amigas.

Eu juro que foi sem querer, depois de esbarrar tanto nas pessoas meu ombro já doía e adivinhem? Bati em alguém.

Involuntariamente deixei um perdóname escapar e ouvi um Todo bien que fez meu coração acelerar. Quando levantei a cabeça meu corpo gelou, meu ídolo, meu amor e por um bom tempo a razão do meu viver estava na minha frente. Só faltou um desmaio dramático com a mão na cabeça e um "não estou bem".

CARALHO, PURA QUE ME PARIU.

RICHARD CAMACHO na minha frente, antes fosse só ele, mas NÃO, todos os cinco estavam ali. Sim gente meus meninos juntos.

Laura pulava de alegria e eu surtava por dentro.

– Eu pego - Richard tentou pegar minha garrafa no chão só que fui mais rápida.

– Pode deixar.

Ele olhou a garrafa praticamente vazia e depois me olhou.

– Não se preocupe, eu compro outra pra você - ele parecia um pouco envergonhado por isso.

– Tá tudo bem, não precisa. - agradeci educadamente.

Christopher ria enquanto abraçava Laura que estava aos prantos. Tá, talvez não aos prantos, mas ela chorava com toda certeza o choro mais bonito que ela teve.

Abracei um por um desejando que não fosse um sonho e nem que aquele abraço acabasse. Richard chamava a minha atenção, pelo olhar que me incomodava assim como nas várias fotos, era como se ele olhasse minha alma ou parte de mim que ninguém conhece, o que me faz arrepiar as vezes.

Eles riram, nós rimos e choramos, mas estavamos bastante calmas o que me surpreendeu muito. Eles se desculparam pelo o que aconteceu e Richard insistiu em comprar outra água pra mim, tentei negar mas Laura dizia que sim pelo olhar, então aceitei.

Acabou que a gente ficou no café e eles simplesmente são perfeitos sempre dando atenção pra gente. São uns amores.

Mas o que me intrigou foi a minha forma dura de responder Richard nos primeiros minutos de conversa. Sempre dizendo não de uma forma insensível, ele só queria ser gentil e me dar outra garrafa d'água.

Uma Noite em Nova York Onde histórias criam vida. Descubra agora