Prólogo

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Sem transparecer apreensão, a mulher tentou não pensar nas probabilidades de um resultado negativo

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Sem transparecer apreensão, a mulher tentou não pensar nas probabilidades de um resultado negativo. A vitória anterior renovou as esperanças da humanidade em sobreviver do martelo opressor do juízo final dos deuses, porém eles ainda detinham a vantagem. O coração dela acelerou ao vislumbrar a reprodução fiel de Londres do século XIX, ciente de que a única pessoa que poderia se associar com ela, dentre todos da lista de lutadores, não seria outro senão “Jack, o Estripador”.

Por um segundo, pensou com qual objetivo Brunhilde teria em colocá-lo contra Hércules, confiava na proficiência de Jack e que ele faria um excelente trabalho dentro da cúpula projetada especialmente pra ele, ainda assim, também temia o pior. Enquanto aguardava o desenlace, sua mente vagou para terrenos áridos de recordações, uma em especial fora quando conheceu o homem.

Em uma outra vida.

Os tons pastéis conferiam ao salão nuances desbotados como um quadro que, um dia, fora pintado com cores vibrante e que não possuíam mais a vivacidade de outrora. Se pudesse descrever com certeza as tonalidades contrastantes da composição do lugar, cinza seria a predominante, uma variação do mais claro ao mais escuro, porém nunca chegando ao preto.

Os casais dançando com tal euforia apaixonada pareciam figuras diáfanas que se moviam conforme a influência da brisa, lentos e ritmados como manda o protocolo. Observou, monótona, outros indivíduos presos em conversas frívolas sobre riqueza e novos patrimônios regozijando-se em prazeres mundanos que poderiam acabar no mais tolo deslize.

Elizabeth fechou os olhos, esperando não chamar atenção desnecessária para si e decidindo ficar mais reservada em sua própria companhia. Nunca desfrutou de bailes apinhados sequer viu uma finalidade em ter reuniões numerosas assim, mas se existia uma única alma viva que a encorajasse a superar sua aversão por multidões e atenuar a extenuante atividade de socializar certamente era Margareth Bennet e o brilho da noite se reservava exclusivamente a ela, filha do Conde Bennet e sua melhor amiga, cuja presença iluminava qualquer ambiente acinzentado.

Margareth a convenceu a participar do baile de celebração a seu pai, um dos fatores que contribuiu para sua instância ali se devia ao grande respeito que nutria pelo conde, afirmando que a negação poderia entristecê-lo. Contudo, havia somente um problema maior que impedia que desligasse brevemente o desconforto: os burburinhos. Apesar de não serem altos o suficiente para lhe despertar dor, ainda a incomodavam. Tantas mentes pulsando forte prontas para devorar uma mais débil afim de influenciá-la.

Desde que se recorda, tinha uma habilidade complexa que permitia ler os pensamentos de quem estivesse próximo além de pequenas peripécias, causando transtornos e a restringindo seu grupo de amizades a apenas Margareth que sabia sobre essa condição. Embora tivesse controle de como e quando ativar, lugares muito cheios com uma pressão psicológica maior abalavam um pouco sua fortaleza mental, algo que nunca comunicou a Meg.

De súbito, tudo se calou — um silêncio reconfortante que a tomou por completo. Um resplendor cerúleo a fitou sem esmorecer, um encantador azul que notou primeiro, antes do vermelho a alcançar.

O enigmático senhor possuía olhos de cores diferentes, uma beleza rara que nunca teve o prazer de testemunhar.

Não.

O homem em toda imponência e mistério que criava tal impressão.

O mundo, antes gravado em tons pastéis aguados e sem graça, se tingiram de novas cores vivazes.

— Ellie, não é muito educado encarar um desconhecido. — Margaret alertou ao se aproximar.

Arquejou com a advertência, corando com a ínfima possibilidade do homem lhe flagrar.

— É a primeira vez que te vejo interessada em alguém. — brincou, tentando dar outro foco a situação. — Só que nunca imaginei que fosse dessa forma. Devo parabenizá-la?

— O que?

— Está mesmo nas nuvens pelo visto, é pior do que pensei. — deu uma discreta risadinha. — Quer que vos apresente?

— Não. Não é necessário. — anuiu constrangida.

— Ele é um amigo do meu pai. — Margareth comentou olhando na direção do homem de compleições mais apáticas, com um sorriso tímido, que atuava com bastante cortesia em relação ao seu pai. — Confesso que acho ele um pouco assustador.

— Assustador?

— Sim. — entrelaçou o braço com o de Elizabeth. — É até difícil definir, talvez seja por ser bem alto ou pelas sombras sutis que tem no olhar dele. De qualquer forma, se ele faz seu tipo, devo me conformar que minha amiga goste de cavalheiros excêntricos. — Margareth a guiou para perto dos dois homens ignorando o vermelho que decorava a face de Elizabeth. — Papai.

— Oh, senhor Smith, aqui está Margareth — disse com orgulho paternal. — E esta jovem dama é a senhorita Borton, amiga de minha filha.

— É um prazer conhecê-la, senhorita. — o homem fez um gesto respeitoso de cumprimento, fazendo Elizabeth sorrir.

— O prazer é meu, senhor.

Na época não sabia que seu interesse a levaria, seguindo os passos dele, a uma mortal dança de espadas e que ao conhecê-lo sua vida estaria na ponta da faca do infame “Jack, o Estripador”.

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