O Homem com o Espírito Corrompido

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O cinza melancólico que reinava sob a antiga Londres não era uma atração infrequente; a cidade estava sempre cercada por grossas camadas de nuvens e um clima incessante de frio que encorajava o uso, quase que diário, de guarda-chuva e casacos para...

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O cinza melancólico que reinava sob a antiga Londres não era uma atração infrequente; a cidade estava sempre cercada por grossas camadas de nuvens e um clima incessante de frio que encorajava o uso, quase que diário, de guarda-chuva e casacos para frio. Nem mesmo a névoa fina que tremulava acima do chão ao passarem, soprada dos arredores e que se acumulavam no centro do cemitério, seria incomum nessa época do ano. A umidade do ar e o vento gélido pinicava na pele exposta e agradeceu mentalmente por ter se precavido com agasalhos extras ciente de que a baixa temperatura não daria trégua. Estremeceu sutilmente com o buquê em mãos, abraçando-o contra si instintivamente, resguardando-o da inclemente lufada que recebeu ao se embrenhar mais no lugar.

Atravessou um revelo irregular na terra enlameada e escorregou com um passo em falso, seu corpo se desnivelou para o lado em uma precipitação desastrosa que fora prontamente detida por um agarro delicado que a firmou de volta antes que despencasse em uma queda dolorosa. Fitou o dono da mão enluvada que a amparou e meneou a cabeça em um agradecimento solene, feliz de tê-lo ali para ser uma âncora no qual poderia contar junto de Margareth. Ter que lidar com esse dia sozinha teria sido mais árduo mesmo que a ferida maior, a aceitação da morte, já estivesse cicatrizada.

Com o fôlego renovado, Elizabeth se deslocou até a túmulo de sua mãe e sua irmãzinha em uma área destinada a famílias de renome, encarando a escultura de mármore minuciosamente esculpidas em base da aparência de sua mãe que se assemelhava a uma versão dela angelical e adormecida em um sono eterno portando em seus braços um bebê bem pequeno. A imagem em si trazia recordações agridoces.

Sem nada a dizer, se ajoelhou e depositou as flores sobre a lápide e orou conforme manda o protocolo, pensando se sua mãe ouviria seu clamor. Margareth fez o mesmo, agindo mais emocional, com algumas lágrimas deslizando pelas bochechas dela enquanto entrelaçava os dedos com fervor mais devoto. As duas se entreolharam como se a conexão que possuíam lhes permitisse sintonizar de uma forma que ninguém pudesse romper e uniram as mãos em contemplação.

Jack se resignou, respeitosamente, a observá-las em seu ritual familiar de homenagem ao parente falecido — duas irmãs que se encontravam diante do descanso final da mãe. Arregalou ligeiramente os olhos ao testemunhar, em uma neblina colorida que emanava, as duas cores se amalgamaram entrando na mesma frequência, um pulsar de dois corações que batiam no mesmo ritmo. Não era estranho, com a percepção, entender a dimensão do afeto de ambas.

Elizabeth foi a primeira a se recompor, virando-se para Jack com um vago sorriso. Margareth repetiu o ato, porém, diferente de Eliza, chorava sem ter vergonha do aspecto lacrimoso. Não havia muito a ser dito e não podia ser indiferente a necessidade tácita de apoio das duas, então, estendeu os braços para recebê-las, sentindo-as se encolherem involuntariamente sob seu contato em um abraço sincero.

Margareth se afastou sutilmente após alguns minutos e acenou com a cabeça.

— Eu vou na frente. — avisou mais recomposta. — Obrigada por nos acompanhar, senhor Smith. E Ellie, te vejo daqui a pouco.

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