Ao atravessar a porta dupla, a linha direta de diálogo cessou e todos os olhares recaíram sobre sua elegante figura, afiados e famintos dispostos a dissecá-la como abutres que rondeiam a vítima procurando a oportunidade para abatê-la. Sem se intimidar com a repudia de alguns e a ignomínia de outros em caráter ser uma mulher a participar da reunião, Elizabeth se encaminhou graciosamente até o assento designado a ela, como representante de seu pai no conselho, que debateria acerca do novo candidato a primeiro ministro que agitava a cidade em prol de um objetivo; com o espírito de incertezas e o temor crescente que a revolução ocasionou, criando um cenário obscuro, as pessoas buscavam um salvador para direcioná-las.
Arthur Gray reunia todas as características de um líder nato; carismático, bonito, exalava confiança e falsa empatia. Ele atiçava a fúria dentro da população e a conduzia em uma valsa na qual dominava com maestria, um verdadeiro gênio na arte da fabricação e manipulação. Não precisou muito para interpretar a faceta oculta, mas o que a assombrou fora a força magnética que ele exercia, a maneira como todos os presentes orbitavam ao redor daquele desconhecido, nem mesma ela, com sua excelente capacidade intuitiva, se viu imune ao efeito colateral de compartilharem o ambiente.
Seus instintos se retorciam sempre que ele direcionava sua atenção a ela — uma sensação de vazio que a devorou por dentro. Não querendo demonstrar fraqueza, Elizabeth se manteve atenta aos discursos elogiosos que destacavam a dedicação de Arthur em alimentar a simpatia das pessoas, um mérito que Eliza não reconheceu como um bom aspecto moral. Conheceu muitos tolos com essa descrição, mas nunca um tão influente a ponto de ser acolhido pelos membros da associação no qual seu pai participava — não tão ativamente.
— Talvez a Srta. Borton possa lhe proporcionar uma perspectiva mais ampla sobre isso, Sir Gray. — um dos homens, um que Eliza recordou se chamar Rudolph, comentou sem desdém, crente de que inseri-la na conversação pudesse agregar alguma novidade. Costumavam falar que, por ser mulher, traria uma visão mais emocional para as reuniões, o que nem sempre seria um problema, contudo, ela nunca fora de transparecer vulnerabilidades diante de meros estranhos. Tinha disciplina e sabia dosar seu temperamento.
Saindo de sua bolha, Elizabeth piscou, perplexa.
— A Srta. Elizabeth tem investigado muitos dos casos amplamente noticiados pela imprensa. Vocês se darão muito bem, afinal ambos tem um senso de justiça muito apurado.
— É um prazer conhecê-la, Srta. Borton. — Arthur saudou com um sorriso ameno.
— O prazer é meu, Sir Gray. — respondeu com cortesia.
— Sabe, Sir Gray, dizem que uma forma de cativar ainda mais é se o senhor tivesse um modelo ideal de família. — um dos homens jocosamente lançou, mirando Elizabeth. — Casar com uma dama de renome poderia elevá-lo ainda mais na admiração pública.
— Certamente — outro concordou com a linha de raciocínio.
— Um homem de família é muito mais estimado, tem mais firmeza. — prosseguiu mais convencido. — Infelizmente um homem solteiro como o senhor pode atrair olhares de desconfiança se não estiver bem respaldado.
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FanficPor trás do mal inominável há uma história oculta, a verdade contada da jornada daquele que posteriormente se chamaria "Jack, o Estripador". Todo arquivo secreto contém informações proibidas, e, atuando como uma agente ativa na narrativa diabólica d...