"Eu acho tão difícil
Quando eu sei no meu coração
Estou decepcionando você todo dia
Decepcionando você todo dia
Por que eu continuo fugindo?"Agosto
"Abro a porta primeiro. Sei que o apartamento está limpo mas mesmo assim sinto medo dela ver alguma coisa. Para mim o cheiro de sangue misturado com água sanitária continua impregnado em cada fresta desse lugar. Quero poder sair daqui, pegar todas as memórias boas desse lugar e ir para outro local para chamar de lar. E deixar aqui a pior coisa que aconteceu em nossas vidas.Ela vem atrás de mim. Em passos lentos, ainda em choque.
Nunca vi S/n nesse estado. Não parece mais ela, parece uma casca triste dela. Eu não devo estar diferente, sei disso, mas tento fingir para ela que estou bem. Talvez se eu mostrar que estou confiante de que tudo vai se resolver e dar certo, talvez ela acredite e também comece a pensar assim.
-Você quer que eu arrume a cama para você deitar?
Coloco a mochila no chão enquanto tranco a porta da casa. Assisto ela caminhando até a cozinha e vou atrás dela. Nesse momento a última coisa que eu quero é que ela fique sozinha, ou se sinta sozinha.
Ela não diz nada. Só caminha até a pia e se serve de um copo de água.
Ela não olha para mim. A última vez em que ela olhou para mim ela estava cercada de sangue gritando por mim no banheiro da nossa suíte. É essa a última imagem que tenho de seus olhos nos meus, recheados de pânico e implorando por alguma providência.
-Você tentou lavar? -Tem tanta dor em sua voz que me faz querer voltar a chorar.
Só então percebo seu olhar direcionado para a lavanderia, ela olha para o balde cheio do líquido que agora adotou um tom rosa. Através da água é possível ver os tecidos que estão lá dentro.
São as roupas que ela estava usando naquele momento.
Arrependimento bate em mim assim que noto sua percepção.
-Você não deveria ter visto isso. Eu ia jogar fora mas não deu tempo.
-Você tentou lavar?
Ela me pergunta novamente com indignação. Me coloco em sua frente mas mesmo assim seu olhar não sai do maldito balde.
-Eu não sabia o que fazer. Acho que estava em choque. Fiquei horas esfregando achando que serviria de alguma coisa. Me desculpa.
Ela assente mas o movimento é tão sútil que é quase imperceptível.
Ela demora a voltar a falar.
-Eu não entendo. Ele era tão pequeno. E todo aquele sangue... -Seus olhos finalmente saem do balde e encontram os meus. Ela parece exausta, melancólica como nunca, tudo o que eu quero é poder ajudar mas eu sei que não tem como nesse momento. -Como foi possível?
Fecho minhas mãos em seus braços delicadamente, tento mover ela para longe da cozinha e ela aceita, não acho que ela conseguiria lutar contra qualquer coisa agora. S/n se senta no sofá, seus olhos se desviam dos meus no caminho e novamente começa uma contagem em minha mente para ver quanto tempo vou passar imperceptível por ela.
Eu me sento em sua frente, tento pensar em qualquer coisa para dizer e amenizar nossa dor.
-Eu sei que tudo isso parece que nunca vai ter fim, S/n. Mas nós vamos superar, vamos conseguir passar por isso.
O riso que sai de seus lábios é fraco e sem humor. Eu paro de falar quando escuto o som saindo de seus lábios.
-Para Lewis. -Ela ainda não me olha. -Primeiro para de agir como se você soubesse o que vai acontecer. Segundo, para de falar "nós" como se você tivesse passado por metade do que eu passei.

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Don't hurt youself
FanfictionSeis anos e meio. Setenta e oito meses. Foi esse o tempo em que o eterno para sempre de Lewis e S/N durou. O amor é uma dádiva, mas quando não é acompanhado pela pureza da fidelidade, ele se torna apenas palavras e isso S/N aprendeu da forma mais do...