Vazio

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"Deus estava na sala quando o homem disse à mulher: "Eu te amo tanto. Enrole suas pernas em volta de mim. Puxe-me para dentro, puxe-me para dentro, puxe-me para dentro." Às vezes, quando ele colocava o mamilo na boca, ela sussurrava: "Oh, meu Deus." Isso também é uma forma de adoração."

-Ele está aqui. -Eu não vi o carro dele, nem a luz do nosso apartamento acessa, mas eu tenho certeza disso. É como se eu conseguisse sentir sua presença mesmo que há metros de distância. Pelo menos isso ainda não foi embora.

As lágrimas da crise mais cedo ainda cobrem meu rosto, mas estou mais calma agora.

-É bom estar. Agora vamos, eu vou te ajudar a subir.

Alessia tira seu cinto e abre a porta do motorista, pego seu braço a impedindo de sair do carro.

-Não, Eu estou bem. Deixa que eu vou sozinha.

-Ta doida? Olha seu estado S/n, eu não vou...

  

-Estou falando sério. -A corto. -Não quero chegar carregada em casa. Eu não estou tão mal assim.

Eu estou mal, mas ela não precisa saber o quanto.

Alessia me encara por alguns segundos antes de ceder e voltar a fechar a porta do seu lado.

-Tudo bem, mas eu vou ficar bem aqui, e se precisar durante toda a noite. Só para ter certeza de que você vai ficar bem.

-Vai para casa. Eu já te dei muito trabalho hoje. Eu vou ficar bem, prometo.

Ficamos em silêncio por alguns segundos antes dela voltar a falar.

-Sabe. Se você quiser ajuda para esconder o corpo dele eu posso te ajudar.

Rio em meio a bagunça de lágrimas com seu comentário.

-Qualquer coisa te aviso.

Eu abro a porta do carro e tiro meu cinto. Alessia pega minha mão antes de me deixar descer.

-S/n. Eu... -Seus olhos me dizem o que eu já sei. Sempre tivemos uma conexão doida onde as vezes nem é necessário o uso de palavras.

-Eu sei. Eu te ligo quando conseguir.

Assisto ela assentir antes de descer do carro e ir em direção ao portão do prédio. Olho para trás por uma última vez antes de entrar no recinto.

Minha agitação é tamanha que consigo sentir meu corpo todo tremer enquanto espero o elevador chegar até a cobertura. Tento imaginar meus passos seguintes, mas minha cabeça está tão confusa que não consigo manter um raciocínio por mais de poucos segundos.

Me olho no espelho do elevador e não consigo me reconhecer através do reflexo, as bolsas abaixo de meus olhos são ainda mais marcadas pela maquiagem borrada. Só essa percepção já me faz querer voltar a chorar. Nunca pensei que fosse chegar a esse ponto, nunca pensei que fosse doer tanto assim.

Tiro a chave da bolsa assim que as portas do elevador se abrem e revelam a entrada da minha casa. Minhas mãos tremem um pouco e tenho certa dificuldade em colocar a chave no lugar, mas consigo abrir e fechar a porta sem causar muito barulho. O apartamento está escuro, não acendo a luz para não ser percebida, tiro meus saltos e dou poucos passos até bater com força na mesa de apoio que fica perto da porta de entrada. O som ecoa por todo o apartamento, cortando o silêncio da madrugada. Solto um suspiro frustrado e sinto a dor aguda no meu quadril pelo impacto. Fico imóvel por um momento, esperando para ver se fui notada.

Que merda eu estou fazendo? Por que eu não quero ser percebida por ele? Por que eu me sinto como se tivesse que esconder o estado em que estou agora? Não é como se ele não soubesse a forma em que me deixou.

Don't hurt youselfOnde histórias criam vida. Descubra agora