04: aquela que se chama Camelia

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SE BENJAMIN HEARTLOCK ERA UM ASSASSINO, ERA POR TER ENCOBERTO UM ASSASSINO. Ou melhor dizendo, uma assassina.

O rapaz amava demais sua família para deixá-la ruir daquela maneira. Se soubessem que o verdadeiro assassino era na verdade uma das gêmeas, sua família iria desmoronar. Pior do que já estavam, ficariam. As três meninas eram queridas, incorruptíveis, flores em um jardim impecável. Uma delas ser o monstro que matou Camelia quebraria bem mais o coração de seus pais do que Ben ser conservador ao ponto de tornar-se maníaco.

A loucura advinda do cuidado poderia ser facilmente absorvida pelos pais, compreendida e somada ao luto com que precisariam lidar. Agora a loucura advinda do ciúme... isso poderia enfiar a todos em um frenesi sem fim.

Ben sempre fora o irmão mais velho exemplar para as três flores. Sempre um confidente, desde o princípio apoiara a paixão de Camelia por Dionísio. Sempre, mesmo que soubesse da paixão que outra irmã carregava no peito pelo mesmo rapaz - infelizmente, não correspondida.

Por isso, naquela noite, uma irmã atraiu a outra até a cabana esquecida e, agindo pela loucura da descoberta que precisaria assistir Dionísio ser de outra, tentou convencê-la por dias a abandonar o amado... Tudo o que Ben confessou ter feito, fora realmente feito pela irmã do meio, a primeira das gêmeas a vir ao mundo. A tão audaciosa e maliciosa, apesar de tímida, Maggat. Os cabelos encontrados com Camelia eram de Maggat, arrancados aos puxões por Camelia ao tentar fugir. O pedaço de carne com o qual Camelia se engasgava no fim também vinha de Maggat.

Ao perceber o que tinha feito, ainda suja de terra e descabelada, Maggat correu até a casa e clamou para o irmão. Benjamin lembrava de tudo como se tivesse acontecido naquele mesmo dia.

Sua irmã mais nova o encontrou na estufa, sujo de terra e enfiado em um canteiro. Estava feliz, pensando em como Camelia agiria quando encontrasse aquele lugar cheio de flores em de alguns meses. Seria seu presente para ela.

Maggat adentrou a estufa respirando por golfadas roucas e caiu de joelhos perto do irmão, o rosto sujo marcado por lágrimas, olhos arregalados e mãos trêmulas. Benjamin nem teve tempo de assimilar o que estava vendo antes que ela começasse a falar.

- Eu matei ela. Bennie, eu matei ela. Eu matei ela. E-eu não queria. Eu juro. Bennie, me ajuda!

Houve poucos momentos na vida que Benjamin se sentiu deslocado de seu próprio corpo, o primeiro foi quando notou que talvez não seguiria os passos do pai em assumir a fábrica, o último foi quando uma figura desconexa com a voz de sua irmã mais nova caiu de joelhos na sua frente e disse que tinha matado alguém.

- Benjamin, me ajuda! - Maggat agarrou o irmão pela camisa e o sacudiu soluçando. O rapaz despertou do torpor ao notar o sangue que escorria do braço da irmã. Como seu primo, Gregory, Benjamin cursaria medicina em breve, então, ver aquele ferimento lhe despertou para a realidade, aquela em que ele pretendia dedicar a ajudar e cuidar dos outros.

- Seu braço - entoou, arrancando as luvas de jardinagem para puxar o braço de Maggat para mais perto da luz da tarde a fim de ver o ferimento com clareza. - O que fez isso? Onde você estava?

- Benjamin, vem comigo. - Maggat agarrou o irmão pela camisa e o puxou para longe dali. Os dois correram pela floresta rapidamente, deixando para trás animais confusos e silenciados. A floresta raramente ficava quieta daquele jeito, o que deixou o rapaz inquieto.

- O que está fazendo, Maggie?

A menina parou de correr e olhou o irmão com angústia enquanto ofegava. Benjamin continuava confuso, até ela o empurrar na direção de algo. Ao baixar o olhar, Benjamin pensou estar sonhando. Era comum ter pesadelos, desde criança o menino sonhava com absurdos aterrorizantes, muitas vezes ficava paralisado no meio da noite por causa deles. Aquele era apenas mais um daqueles momentos. Sua irmã não estava ali no chão, coberta de sujeira, descabelada e com sangue manchando seus lábios.

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