𝟰

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Algo que de fato tenho que dizer, não gosto de ficar em lugares lotados, cada corpo que se chocava com o meu, mesmo sem querer deixavam marca em minha pele, sentia seus pecados, seus medos, eles queimavam.

E então, eu finalmente o acho, ele estava beijando um homem em um canto, e o cara retribuía com uma intensidade fora do normal. A sombra o consumi por inteiro, ele cambaleia para trás e o homem o segura e o senta na poltrona.

Ele estava grogue pela dor, segurava sua cabeça com as mãos e seu companheiro tira algo do bolso e espatifa o pó branco na mesa, faz pequenas carreiras com um cartão.

Me levanto e caminho até eles, passo reto para não perceberem, volto e me camuflo no meio das pessoas que estavam atrás da poltrona.

— Eu não vou aguentar!— diz em timbre totalmente agonizante.

— Isso vai te ajudar com a dor!— afirma e bate levemente no rosto do homem que gemia de dor.

Ele nem excita e pega a nota enrolada da mão dele, estava tão desesperado em fazer aquilo parar que aceitaria qualquer coisa que oferecessem, mas eu sinto as verdadeiras intenções daquele rapaz, e não são boas.

E eu não o julgo, talvez faria a mesma coisa se estivesse em seu lugar, tudo para se livrar da dor.

Coloco uma de minhas mãos em seu ombro e sussurro algumas palavras, consigo desgrudar a sombra de seu corpo, "não aceite" sussurro e aparentemente e ele leva um choque de realidade após um minuto de vulnerabilidade.

Ele devolve a nota enrolada e sai de perto do pó, relaxa na poltrona enquanto o cara tentava convencê-lo mesmo ele negando várias vezes.

Sinto como se tivesse levado um soco no estômago e me escoro no balcão do bar e aperto minha mão, numa tentativa falha de aliviar a dor.

Pronuncio algumas palavras e coloco a mão em meu pentagrama pendurado em meu peito. A dor se alivia e eu consigo respirar melhor, me sento ali e continuo o observando de longe.

Após eu fazer isso, algo naquele outro homem o faz querer se afastar dele com uma face nada agradável, deixando-o sozinho ali.

Eu perdi as contas de quantas pessoas ele beijou, quantas bebidas fortes virou, quantos cigarros fumou, e quantas pontadas levou.

Agora ele estava sentado, pensativo, fumando um cigarro enquanto seus olhos lagrimejavam. Levanta a manga de sua blusa preta com alguns brilhos, estavam com alguns hematomas, ele os olha com dor e novamente puxa a manga para o lugar.

Uma lágrima solitária escorre em seu rosto, não importa quantas pessoas estejam por perto, você sempre se sentirá sozinho, não conseguirá fugir para sempre de seus problemas.

Vejo que ele percebe meu olhar, eu sentia que ele já estava estranhando eu olhá-lo tanto, principalmente naquele momento.

Desvio meu olhar e começo a dançar com a música, tentando ser o mais espontânea possível, invento passos aleatórios e jogo meu cabelo para trás, olho para sua direção e vejo que ele ainda me olhava.

Ele estava com o dedo em frente de sua boca e o roçava levemente enquanto me observava, o encaro por alguns segundos tentando ao máximo não encarar o que o estava atrás dele.

Meus cabelos grudavam em minha pele suada, respiro fundo e viro com copo de whisky. Sentia a batida na música em minha pele, entrando pelos meus ouvidos e acendendo o ânimo do meu ser.

𝗜𝗡 𝗧𝗛𝗘 𝗢𝗧𝗛𝗘𝗥 𝗪𝗢𝗥𝗗 𝖡𝗂𝗅𝗅 𝖪𝖺𝗎𝗅𝗂𝗍𝗓Onde histórias criam vida. Descubra agora