Capítulo Dezoito: Almas

28 4 0
                                    

*Ponto de vista de Celine*

Caí de joelhos no chão e chorei quando Cael olhou para mim. Ele olhou ao redor e para seu corpo no leito, estreitando seus olhos. 

"O que está acontecendo?" Ele perguntou suavemente. 

"Eu sinto muito, Cael!" Eu estava chorando enquanto colocava minhas mão sobre o rosto e fechava os olhos com força. Talvez se eu não o visse, tentaria fazer que meu cérebro ache que isso não é real. Isso foi tudo culpa minha, ele foi capturado e torturado por minha causa e o acidente de carro também foi minha culpa. Não consegui salvá-lo a tempo. 

"Celine... por que estou fora do meu corpo?" Ele perguntou, sua voz soando baixo. 

Movi minhas mãos e enxuguei as lágrimas dos meus olhos, me levantando do chão e caminhando até Cael, eu precisava ajudá-lo agora. 

"Cael... você está morto. Você morreu por minha causa." Eu disse a ele e ele franziu a testa.

 "Ele não está morto, Celine." Eu ouvi e me virei para ver Leif de pé ali ao lado da minha mãe. Eles estavam entrando no quarto e fechando a porta atrás deles, eu fiz uma careta confusa sobre o que ele estava falando. 

"Ele não está morto? Gente, é o fantasma dele bem na nossa frente. Claro que ele está morto." Eu disse, mas minha mãe balançou a cabeça. 

"A alma dele está desvinculada de seu corpo, Celine. O corpo está vivo, mas a alma foi desconectada por causa de todo o trauma." Ela disse e eu fiz uma careta. 

"Como podemos ajudá-lo?"

Leif deu um passo à frente e foi até Cael, estendendo a mão. Eles se cumprimentaram e meus olhos se arregalaram. Eu também fiquei com um pouco de inveja. Era injusto que Cael pudesse tocá-lo e eu não. Balancei a cabeça para mim mesma. Não era hora de pensar com um coração invejoso.

"Sou Leif... e vou ajudá-lo a voltar ao seu corpo."

"Isso pode não ser possível..." Minha mãe disse. 

"Por que não?" Eu perguntei balançando a cabeça para ela.

Ela franziu a testa "Porque o corpo dele pode estar muito danificado para aceitar sua alma enfraquecida. Você precisa ser uma alma forte para voltar a um corpo e não precisa ser apenas forte, você precisa de pelo menos três guias espirituais para ajudar com o processo."

Leif se virou para ela e Cael coçou a cabeça "Como você sabe tanto sobre isso?" Ele perguntou a ela e ela sorriu. 

"Eu posso não usar meus dons com muita frequência, mas não se engane sobre isso, eu ainda os tenho. Então é isso que vamos fazer.

-

Coloquei a última vela no chão e olhei para minha mãe. Ela estava colocando a figura de uma divindade na mesa do hospital. Quando as enfermeiras nos encontraram pela primeira vez, arrumando tudo, elas entraram em pânico e nos disseram para sair, mas quando eu expliquei que eu era a 'namorada' dele e o que estávamos fazendo era da nossa religião, elas saíram do quarto. Os pais de Cael estavam em Nevada no fim de semana, então eles não poderiam chegar aqui até amanhã à noite e Catherine e seu namorado também estavam fora da cidade, então tínhamos muito tempo antes que alguém viesse aqui. Esperançosamente, os pais voltariam para ver o filho deles vivo e bem. 

Quando olhei para cima, vi Cael e Leif conversando e sorri, sabia que Leif estava feliz por ter alguém para conversar além de mim. 

"Certo. Estamos prontos. Só tenho que esperar sua tia Cristina chegar aqui e então podemos começar." Minha mãe disse. 

"Desde quando a tia Cristina é clarividente?" Eu perguntei e minha mãe me deu um de seus sorrisos secretos. 

"Muito antes de você nascer, querida. Na verdade, nos conhecemos em uma conferência quando eu ainda trabalhava para a minha primeira empresa. Nós duas não conhecíamos ninguém lá e na última noite houve um suicídio no hotel. Nós nos encontramos e as coisas simplesmente aconteceram com nós duas. Nós podíamos ouvir o cara nos contando porquê ele tinha feito isso. Mas isso é outra história. De qualquer forma, acabamos nos tornando melhores amigas e ela se tornou sua tia, ela não usa os dons com muita frequência. Apenas em momentos de grande necessidade. E falando no diabo!" Eu ouvi e me virei para ver tia Cristina parada na porta do quarto. Ela tinha o mesmo estilo de cabelo de quando a vi pela última vez, um cabelo azul e preto na altura dos ombros com uma trança. Ela estava vestindo seu macacão e sapatilhas de sempre. Corri imediatamente e dei-lhe um abraço. 

"Aqui está a minha pequenina. Como você está?" Ela perguntou e eu sorri para ela. 

"Estou bem. Lamento que sua visita seja em um momento assim."

Ela acenou com a cabeça "Eu sei, meu bem." Ela afastou o cabelo da minha testa e me deu aquele olhar triste, aquele em que você se sente mal por alguém e não sabe o que fazer para ajudar. 

"Vamos trazer seu amigo de volta!"

"Ótimo, vamos lá." Leif disse.

Tia Cristina assentiu e foi até minha mãe dando-lhe um abraço rápido. Percebi que ela não podia ver nenhum dos meninos porque não reconheceu nenhum deles. 

"Ok, Pequenina, você fica na frente da cama, Rebeca você fica ao lado e eu estarei bem aqui." Tia Cristina disse e quando me posicionei ela andou pelo quarto resmungando algo e acendendo cada uma das velas por vez. Percebi depois que ela terminou que era um pentagrama perfeito. 

Bizarro. 

Ela voltou até nós, pegou minha mão e pediu para eu pegar na mão da minha mãe. "Vou precisar do espírito que pertence a este corpo para pairar sobre ele."

"Cael." Eu disse quando ele não se mexeu "Vá pairar sobre seu corpo." Eu disse a ele e ele acenou com a cabeça antes de pairar. Seu espírito estava quase completamente transparente. 

"Então, o que vamos fazer é trazer nossas mãos para cima sobre nossas cabeças. Vou começar o hino e trazer nossos braços para baixo até que estejam nivelados com o corpo dele. Não parem de cantar. Daí podemos soltar nossas mãos. Espero que nossa energia funcione, mas precisamos de um plano reserva se isso não der certo."

"O que você quer dizer com um plano reserva?" Eu perguntei e ela deu de ombros. 

"Bem, se essa alma não puder ser conectada a este corpo, precisamos encontrar uma nova alma ou deixar o corpo morrer naturalmente. Uma vez que os médicos saibam que não há atividade cerebral, eles pedirão à família para retirá-lo do suporte de vida. Outra coisa, se isso não funcionar, a alma dele seguirá em frente." Ela explicou e eu olhei entre Cael e Leif, Cael fez o mesmo. 

"Leif... eu sei que não nos conhecemos há muito tempo, mas se isso não funcionar, quero que você assuma o controle do meu corpo. Você obviamente é forte o suficiente e não quero que meus pais passem por essa perda." Cael explicou, soando como uma despedida. 

"Você não precisa se sentir obrigado... mas se isso não funcionar, você pode ter uma segunda chance  de estar vivo e uma chance com Celine..." Cael falou. Sorri em meio às lágrimas para Cael e depois olhei para Leif. 

"Mas, Cael... isso significa que sua alma se foi. Para todos os efeitos, você estaria morto." Eu disse a ele nervosamente. 

Ele assentiu solenemente. "Eu sei... mas se eu puder poupar a dor dos meus pais de terem que enterrar seu único filho, eu o farei."

"Você tem certeza absoluta, Cael?" Tia Cristina perguntou e ele assentiu. 

"Vamos fazer isso."


O teu fantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora