Capítulo 7. O Verdadeiro Jardim Secreto

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De todas as vezes em que Marinette lutou para libertar um akumatizado, não foram poucas as que se sentiu tocada com a situação dos vilões que, no fim das contas, eram apenas vítimas de Hawk Moth. Isso se devia, em parte, ao fato de, boa parte das pessoas que conhecia - algumas realmente muito queridas -, já terem sido submetidas a desagradável experiência de manipulação.

Ainda assim, a garota não conseguiu evitar a sensação de desconforto, provavelmente, soma dos sentimentos de pena e culpa, ao ver a mulher que, dia após dia, empenhava-se do melhor maneira que podia para compartilhar o próprio conhecimento, como sua professora, sentada no asfalto, em estado deplorável.

Ao contrário da maior parte das vítimas, Caline Bustier não se sentiu desorientada a ponto de perguntar o que havia acontecido, ou o que estava fazendo ali. Tão logo liberta da influência do portador do Miraculous da Borboleta, ao deparar-se com a figura dos herois adolescentes, parados a sua frente, ela entendeu. E começou a chorar de vergonha.

Sequer teve coragem de dirigir a palavra ao noivo Maurice - ou melhor, ex-noivo, deveria se acostumar logo com isso - para pedir desculpas ou, mesmo tentar justificar uma situação que todos sabiam que ela não tinha culpa, antes de vê-lo se afastar, puxando a aprendiz Elizene para dentro da casa, recém restaurada. Apenas permaneceu sentada no chão, esforçando-se para fazer com que suas lágrimas e soluços cessassem, sob os olhares atentos e preocupados dos vigilantes parisienses.

Miserável, era como se sentia e a imagem que transmitia.

E Marinette se preocupava com isso, pois não queria que a professora - a qual tinha em alta estima, apesar de muito lhe pegar no pé em razão dos atrasos - tornasse a ser akumatizada.

- Me desculpem! - A mulher pediu, secando os olhos e as bochechas com as mangas de seu blazer. - Eu não devia estar preocupando vocês. - Declarou, rindo sem humor. - Vocês já tem muito com o que se preocupar. Podem ir. - Emendou, sorrindo.

- Nós realmente não podemos ficar muito... - Marinette, ainda sob o manto de Ladybug, comentou, vendo a primeira carga de seu Miraculous se esvair. - Mas também não queremos deixá-la nesse estado. - Completou.

- Eu vou ficar bem. - Srta. Bustier garantiu, colocando-se de pé. - Sabe, eu não falei que vocês tem muito com o que se preocupar da boca para fora. Eu sei que a adolescência é um período difícil. Eu sou professora, dou aula para pessoas da idade de vocês e sei como essa fase é complicada.

A mulher tomou fôlego, indicando que ainda não havia acabado. E embora os dois herois estivessem com certa pressa, não tiveram coragem de se mexer. Sentiam que, naquele momento, ela precisava desabafar.

- A minha turma... - Continuou, surpreendendo ambos os garotos, que viram-se incluídos na conversa, em suas identidades civis.  - É uma turma de jovens incríveis. Mas eu sei que todos eles enfrentam problemas que não deveriam enfrentar com tão pouca idade. É fácil perceber isso, uma vez que pelo menos noventa e cinco por cento deles foi akumatizado. - Explicou, vendo, sem entender, os adolescentes arregalarem os olhos, sob as máscaras.

- É uma porcentagem muito grande. - Ladybug justificou sem jeito, sem perceber que o parceiro de equipe estava na mesma situação.

- E preocupante. - Continuou Caline. - Sendo assim, é natural que eu me preocupe, não acham? - Perguntou, sem se surpreender ao ver os dois meneando a cabeça em concordância. - Mas Maurice, meu noi... - Começou, interrompendo-se ao perceber o que diria - Ex-noivo - Corrigiu-se - acha que eu me preocupo demais com meu alunos e meu trabalho, então sempre acabávamos brigando.  - Contou. - Da mesma forma acontecia com o diretor e os orientadores da escola. Eles acham que não devo me preocupar com os problemas pessoais dos alunos e simplesmente continuar fazendo aquilo que sou paga para fazer. - Concluiu.

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