Epílogo

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Adrien apanhou a pequena caixa de veludo anil do local onde a havia escondido, no fundo do armário. Por segurança, abriu-a, satisfeito ao admirar seu conteúdo.

Ele ainda recordava a empolgação que sentira três meses atrás, ao contar a um rabugento Sr. Chevalier que finalmente tinha o anel perfeito, depois de muito procurar e pensar sobre. No fim, a resposta estava no começo de seu relacionamento com Marinette, e após alguns esboços próprios e uma visita a um designer de joias competente, ele finalmente poderia pedi-la em casamento.

O velho chegou a perguntar em tom tão humorado quanto sua rabugice costumeira permitia, se ele estava mesmo certo daquele passo, visto que eram muito novos, mas emudeceu no momento em que Adrien lhe apresentou o anel.

O mesmo que segurava agora, meses depois.

Uma joia de ouro rosê, que se retorcia no meio para formar folhas delicadas, as quais sustentavam um diamante com lapidação estilizada em drusas pontiagudas, que simulavam pétalas. Uma flor de lótus, que adornaria o anelar de Marinette assim que ele fizesse o pedido.

Naquela ocasião de meses antes, após uns segundos de silêncio e contemplação, o velho finalmente admitiu, satisfeito, que era o anel perfeito e que ele estava muito contente por seus protegidos, os quais tinha certeza que seriam extremamente felizes. Adrien bem tentou provocá-lo sobre o velho parecer emocionado, mas a voz enérgica de Marinette irrompeu naquele instante, sinalizando que ela havia chegado para o jantar, o que fez com que ele se atrapalhasse para esconder o anel no bolso, enquanto o jardineiro zombava abertamente.

O resto daquela tarde passou como um borrão.

Sr. Chevalier disse que descansaria em seu quarto até a hora do jantar, mas não sem antes se envolver em uma discussão divertida com Marinette, algo que acontecia praticamente todos os dias, por motivos completamente aleatórios.

A preparação da refeição seguiu normalmente, com Marinette tagarelando sobre como Audrey Bourgeois era uma chefe terrível e ela tinha que aguentá-la pelo bem de sua carreira no mundo da moda, e com ele pensando, ansioso, em muitas maneiras de fazer o pedido de casamento, sem ficar realmente satisfeito com qualquer uma delas.

Eles não demoraram realmente a perceber que havia algo errado, visto que o Sr. Chevalier era praticamente religioso com os horários das refeições, mas estava atrasado em descer para juntar-se a eles. Ainda lhe assombrava a lembrança do momento em que entraram no quarto do velho para conferir a situação. O tempo pareceu parar naquele instante, mas voou depois disso, tanto que ali estava ele, três meses mais tarde,  ainda sem oficializar seu noivado com Marinette e sem a menor ideia de quando poderia fazer isso.

Pois os dois ainda estavam em estágio de superação.

Varrendo as lembranças de sua mente, o rapaz fechou a caixinha e a enfiou no bolso, passando os olhos brevemente pelo quarto que chamou de seu nos últimos anos. Era elegante, embora antiquado como o resto da casa, com seu papel de parede padronizado em azul cerúleo e móveis em madeira maciça escura. O cômodo dispunha de portas duplas de vitrais coloridos que, se abrisse, lhe permitiriam  uma vista esplêndida do Jardin d'Eau sob a luz vespertina, a mesma com que o quarto principal, situado ao lado, contava. A paisagem que, provavelmente, havia sido a última contemplação do Sr. Chevalier deste mundo, uma vez que o encontraram sentado na varanda naquela tarde, embalado em um sono de paz.

Porém eterno.

Novamente, o rapaz afastou as lembranças e desceu para dar continuidade ao que vinha fazendo, a pausa para resgatar o anel sendo efetuada apenas para garantir que Marinette não o encontraria por acaso nos próximos dias.

Entrando na biblioteca, decidiu que prosseguiria com a limpeza da lareira e apanhou uma caixa de papelão desocupada, um pedaço de pano e pôs-se a trabalhar.

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