Prólogo

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01.03.2034

𝑅𝑒𝒾𝓃𝑜 𝒹𝑒 𝒜𝓃𝒸𝒽𝒾𝑒

   Luxo era o que não faltava naquela manhã no palácio vermelho de Anchie. Encarregados corriam de um canto ao outro com decorações espalhafatosas, toalhas de tons creme e dourados e pratos de culinárias diversas, todos a caminho do salão principal onde o Rei Lee escolhia a dedo cada detalhe, afinal, era o vigésimo terceiro aniversário de seu filho mais querido, seu primogênito Lee Felix... Na verdade, o queridinho de todos, não podiam negar. Não por que ele era um doce ou a mais admirável das criaturas, mas sim porque era o príncipe, e desta forma, todos ao menos precisavam forçar sorrisos e simpatias ao jovem australiano de temperamento nada admirável.

   Afinal, quem o podia culpar? Os pais o haviam mimado de forma desproporcional, chegavam até a proibi-lo de fazer determinadas coisas por "não ser algo que um príncipe deveria fazer", limitando desde muito cedo o pequeno monarca à uma vida de privilégios e facilidades forçadas. Por fim, teve apenas que aceitar viver em regalias constantes durante vinte e três anos.

   Muitas vezes o irritava a quantidade de atenção que recebia, além da cobrança pesada para manter sua imagem de príncipe perfeito, cobiçado por qualquer dama ou cavalheiro do reino. Em resumo, era um mimado, que durante tanto tempo foi induzido a apenas aceitar seu lugar de perfeição, que apenas se deixou receber ordens, e enfim... se tornou o que é hoje, uma máscara amarga e mesquinha que só era lhe permitido tirar ao se trancar em seus aposentos durante as noites.

   Enquanto toda a movimentação acontecia nos andares inferiores, o jovem ainda se encontrava afundado em meio a travesseiros macios e lençóis de seda brancos, tinha a luz solar que entrava por poucas frestas nas cortinas, refletida em si e nos espelhos que estavam espalhados por seu grande quarto de decoração leve e refinada, seguindo o alto padrão da realeza.

- Alteza? - A voz baixa acanhada de uma das criadas pode ser ouvida pelo príncipe que apenas resmungou e girou na cama. - Desculpe acorda-lo, mas seu pai exige sua presença no salão principal.

- Eu mal posso dormir em paz, não é? - Ainda em meio a resmungos se desvencilhou dos tecidos que o aqueciam, saindo sem mais cerimônias da cama, vestido apenas por seu robe fino desenhado com pequenas pétalas de sakura, indo até o banheiro. - Você já pode sair. - Mal olhou para a jovem que ainda o encarava, envergonhada. O príncipe podia ser um tanto intragável, mas sua beleza e porte era de hipnotizar a qualquer um... Quem diria que por trás de um rosto delicado, músculos firmes e sorriso perfeito existiria uma personalidade tão detestável? Era o que os demais ao seu redor se questionavam constantemente.

- Perdão, alteza. Com sua licença. - Com uma reverência rápida a menina baixinha quase correu do cômodo arrancando um suspiro irritadiço do Lee; Odiava ser acordado, e acima de tudo, odiava ficar muito tempo na presença do pai.

   Não demorou muito no banho já pronto, sais em uma banheira morna, espuma e hidratantes alimentavam sua vaidade muito bem, precisava manter sua beleza de alguma forma, afinal. Também vestiu a roupa que lhe foi separado, a primeira camada formada por uma blusa colete preta carvão que fazia conjunto com uma calça de mesmo tecido, por cima um paletó de fundo preto com flores douradas que se espalhavam em todas as direções, e sapatos sociais pretos lustrosos, sem mais detalhes. Não estava com paciência para joias além de seu habitual anel de aço que havia ganhado de uma das únicas pessoas que o entendiam no mundo, sua avó, que infelizmente já havia perdido seus anos de vida para a idade a pouco menos de um ano; Felix não era bom em superar perdas, mas aquele anel o fazia sentir que tudo acabaria bem... De alguma maneira.

   Se analisou durante alguns segundos num dos espelhos e deu de ombros descendo rápido ao salão, recebendo reverências de empregados pelo caminho mas sem se dar o trabalho de responder alguém com mais que um leve gesto de mão e um bom dia quase inaudível. Queria apenas ouvir o monólogo diário do rei, talvez irrita-lo um pouco, e depois correr para se abrigar nos braços carinhosos de sua mãe, que a esse horário deveria estar em seu jardim, cuidando de suas flores.

O Príncipe e o Guerreiro - HyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora