Capítulo 4 - Isto vai doer

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"O que é que disseste?" Ele perguntou escapando das minhas mãos.

"Oh, tu ouviste-me bem."

O sorriso no rosto do Kyle rapidamente se transformou em pânico quando viu o punho do Luke ir em direção à sua cara.

Tudo aconteceu numa questão de segundos e quando consegui reagir já estavam os dois no chão, o Luke por cima do Kyle enquanto o soqueava novamente.

"Luke, para! Por favor!"

Apressei-me para chegar perto deles enquanto gritava ao Luke para que parasse, mas ele parecia não ouvir. Sabia que estava tudo a acontecer muito rápido, mas da minha perspectiva via tudo em câmara lenta.

Tentei agarrar no braço do Luke para que parasse, mas sem sucesso, ele apenas continuou, uma e outra vez.

"Hart, já chega!" Ouvi uma voz masculina gritar.

Os passos apressados do segurança do supermercado fizeram-se ouvir, ecoando no corredor e quando dei por mim, ele já os tinha separado.

"Isto não fica assim!" ameaçou o Kyle antes de virar costas e ir-se embora limpando o sangue que escorria do nariz com a parte de trás da mão.

O segurança ainda prendia o corpo do Luke, o que o impediu de ir atrás dele.

Os seus olhos, outrora verdes não mostravam nada além de escuridão. A sua respiração pesada, aos poucos e poucos, voltava ao normal enquanto se acalmava, o que me permitiu respirar fundo de alívio e acalmar-me também.

Por fim, o segurança soltou-o.

"Hart, o que te passou pela cabeça?" ele perguntou.

O Luke não disse nada, apenas se ouvia a sua respiração tornar-se mais leve enquanto o seu peito subia e baixava.

"Menina Skyler, leve-o para casa. E por favor, trate disso." O segurança pediu olhando para mim.  Preocupação estampada no seu rosto enquanto apontava para as mãos do Luke.

Até então, ele não estava ciente dos cortes  que tinha nos nós dos dedos pingando pequenas gotas de sangue para o chão. O nervosismo tomou conta de mim, e eu tremia por todos os lados. As lágrimas ameaçavam cair sobre o meu rosto. Respirei fundo e fechei os olhos reprimindo-as.

Acabámos por sair do supermercado de mãos vazias.

O Luke não abriu a boca durante o caminho até ao carro, mas eu decidi quebrar o silêncio que pairava no ar.

"Não devias ter feito isso, Luke."

Ele continuou calado, sem sequer olhar para mim.

O caminho até casa foi igualmente silencioso. O Luke não tirou os olhos da estrada até estacionar o carro.

Ao chegarmos a casa, ele apenas subiu as escadas em direção ao seu quarto sem dizer uma única palavra. Apesar de ainda estar visivelmente chateado, o que se notou na sua respiração durante o caminho, os seus passos eram tão silenciosos como o ruído que saía da sua boca.

Sentei-me por um momento no sofá e com os cotovelos pousados nas minhas pernas, enterrei o rosto nas minhas mãos respirando fundo.

Quando já estava mais calma, dirigi-me até à casa de banho comum no rés do chão e abri o armário retirando o kit de primeiros socorros que guardávamos lá.

Com os pés descalços sobre o chão, subi até ao quarto do Luke e bati à porta esperando uma resposta antes de entrar.

Não entrava neste quarto desde que fui para Santa Cruz. Antigamente era usado como o quarto de hóspedes, mas a única pessoa que cá dormia era o Luke, por isso faz todo o sentido que seja o seu desde que veio morar com o Nick.

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