Capítulo 18 - Um lugar de conforto

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As suas palavras atingiram-me como um raio numa noite de tempestade. Eu podia sentir a chuva cair sobre mim, literal e metaforicamente, enquanto olhava nos olhos do meu irmão. Era como se os seus olhos fossem a porta para a sua alma, uma que eu sempre consegui ler, mas naquele momento, estava fechada a sete chaves. Eu não conseguia ver através deles, não conseguia alcançá-lo. Sentia o meu corpo ficar dormente, e antes que começasse a ter outro ataque de pânico, implorei ao meu irmão que ficasse.

"Nick, por favor, não faças isso!"

Com a mesma mágoa no seu olhar, ele ignorou-me, levantou-se, deixando em exibição os seus joelhos lamacentos, e dirigiu-se para o carro. Sem olhar para trás, arrancou e saiu do lugar a alta velocidade, salpicando por todo o lado a água das poças que se formaram no alcatrão quando entraram em contacto com os pneus. As lágrimas enchiam os meus olhos enquanto via o carro dele desaparecer ao longe.

"Luke, por favor, vai atrás dele!" Implorei desviando o olhar dos seus olhos verdes, para o seu cabelo, e em seguida as suas roupas encharcadas.

"Não te vou deixar sozinha, teacup." Ele disse baixinho enquanto caminhava na minha direção e eu pude sentir a emoção nas suas palavras quando a sua voz falhou.

Na verdade, o Luke conviveu com o meu pai, mais tempo do que eu mesma convivi. Ele provavelmente pôde jogar à bola com ele e o Nick, ou ir ao cinema, ou a jogos de futebol. Provavelmente o meu pai levou-os à escola uma vez ou outra, ou levou-os a comer gelados ao pé da praia. Algo que eu nunca tive.

"Filha, eu..." Os meus pensamentos foram interrompidos pelas suas palavras cheias de arrependimento, mas eu não sabia como lidar com elas naquele momento.

"Por favor, podes entrar e esperar por mim? Eu preciso de algum tempo sozinha."

Nisto, agarrei num dos casacos pendurados no cabide à entrada de casa, que por acaso era do Nick, e saí, a correr, sem rumo. Deixando para trás o Luke e a pessoa que me tinha abandonado a mim e à minha família há vinte anos atrás.

P.O.V. Luke

A chuva forte caía sobre o para-brisas do meu carro, como se o céu também partilhasse a dor que envolvia aquele momento. Conduzia pelo que parecia há uma eternidade, enquanto olhava para a direita e para a esquerda à procura de um par de olhos azuis e cabelo loiro preso num coque despenteado e molhado.

Há pelo menos quinze minutos que conduzia pelas ruas de Palmdale, à procura dela em todos os lugares possíveis e imaginários. O meu coração afundava mais um bocadinho a cada minuto que passava sem a encontrar. 

A Senhora Jones...

"Chama-me Lily, Luke, por favor."

Ouvi a sua  voz doce na minha cabeça, como se estivesse sentada no carro ao meu lado e me pudesse ler os pensamentos, relembrando-me o quanto ela detestava ser chamada Senhora Jones. Não a posso culpar, não é? 

A Lily, mãe da Skyler e do Nick, era como uma segunda mãe para mim. As nossas famílias não se juntavam aos fins de semana para fazer churrascos, as nossas mães não estavam juntas no clube do livro ou saíam para beber café ou um copo de vinho. Mas eu passava mais tempo em casa do Nick do que na minha própria casa. Eu vi o cuidado que ela tinha tanto com a Skyler quanto o Nick, eu vi o amor que tinha por eles cada vez que os observava brincar de longe ou quando o Nick ajudava a irmã a fazer alguma coisa que ela não conseguia fazer sozinha. O amor e o orgulho que tinha neles eram inexplicáveis. E eu vi o vazio que deixou quando a doença a venceu. Durante semanas, depois do funeral, a Skyler saía de casa a meio da noite, a chorar e eu e o Nick procurávamos por ela, cada um no seu carro. Muitas vezes, em dias de chuva como este. Depois de alguns dias, tornou-se mais fácil encontrá-la, pois mais cedo ou mais tarde, ela ia sempre parar ao mesmo sítio.

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⏰ Última atualização: Oct 13, 2023 ⏰

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