[...] o mundo não te conheceu; mas eu te conheci [...]

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- Essa é Helena Del'acour. Ela estará conosco a partir de agora.

Helena Del'acour era uma mulher alta, quase atingindo a estatura de Will Graham, com uma diferença de apenas alguns centímetros. Sua pele oliva, suave e radiante, contrastava com os cabelos que lembravam um rico mesclado de mel e chocolate, caindo em ondas sutis sobre os ombros. Vestia cores claras que pareciam quase etéreas sob a luz fluorescente da sala, e sua maquiagem leve realçava ainda mais a delicadeza de seus traços.
-Olá! - A voz dela era suave e doce, como o tilintar de sinos distantes, atraindo a atenção de todos na sala.

Olhos curiosos e avaliadores se fixaram nela, mas Will decidiu se abster de encarar os dela, temendo que o contato visual o levasse a explorar o abismo que poderia se esconder atrás daquela fachada serena. Ele se distraiu com a parede castanho avelã, suas texturas e sombras se tornando um refúgio para sua mente inquieta.

Algumas pessoas na sala responderam com sorrisos nervosos, e Will acenou em um gesto automático, suas mãos se movendo sem pensar. A postura de Helena mudou abruptamente, como se o peso da atenção a fizesse encolher-se.
Ela deu um passo atrás, procurando abrigo na figura de Jack, movendo-se em direção a Will de forma hesitante, o que o deixou ainda mais desconfortável.
O espaço entre eles parecia carregado de algo inexplicável.

-Will, Helena vai trabalhar diretamente com você. Ensine-a.

As palavras de Jack ressoaram na mente de Will, que se obrigou a olhar para ela, sua respiração ligeiramente acelerada. Ele mordeu a isca de Jack, um impulso quase instintivo de avaliar se ela possuía o que era necessário para suportar o peso do que estava por vir. 

Há dor, solidão, curiosidade, medo, mais curiosidade e interesse, uma leve admiração... Curiosidade novamente.

Ela desviou o olhar de Will, mas não pôde evitar ser engolida por sua curiosidade intensa. A atmosfera ao redor parecia vibrar com a tensão que se formava entre eles.
 Will finalmente compreendeu o peso daquela interação.

-Olá, senhorita Del'acour. - Ele falou com a maior suavidade que pôde, evitando estender a mão. Sabia que esse gesto simples poderia ser exaustivo para ela, dado o que ela era.

-Olá, Dr. Graham. - A resposta dela foi um eco suave, a fala carregada de uma elegância distinta que quase soava como uma melodia.

Era uma empata.
A compreensão desse fato quase o fez cambalear. Jack estava prestes a quebrar outra pobre alma em nome de seus casos, e Will sentiu um aperto no peito ao considerar o que isso significava para Helena.

A mulher, com um olhar que mesclava desconfiança e curiosidade, parecia quase contente, mas havia uma fragilidade em sua expressão.
 A doce Helena não conseguiria resistir ao maremoto que Jack traria consigo, uma tempestade de emoções e desafios que a cercaria.

Ela vestia uma blusa branca de seda que caía com graciosidade sobre suas formas, enquanto as calças cinza claro, de um tecido fluido, dançavam suavemente a cada movimento. Ela parecia imaculada, como se tivesse saído de um retrato, cada detalhe meticulosamente pensado.

-É uma honra conhecê-lo, Dr. Graham.

Will notou que ela não faria questão de tocá-lo; invadir seu espaço pessoal era como destruir o próprio, e Helena parecia relutante em ultrapassar essa barreira invisível.

Ele decidiu então oferecer a mão, um gesto simples, quase ritual.

Ela respondeu levantando a palma delicada, suas unhas afiadas e pintadas de nude brilhando sob a luz, longas e elegantes.

O breve contato estabeleceu algum tipo de acordo tácito entre eles.
Ela podia vê-lo, mas não o faria sem um convite, e a ideia de que o mundo dela estava prestes a se entrelaçar com o seu deixava Will tanto intrigado quanto apreensivo.

Pela primeira vez desde que Jack entrou em sua vida Will estava tranquilo com a nova pessoa.

-Will é um professor exigente, e eu sou um reitor mal-humorado. - Jack diz em tom de piada, e Will observa Helena enfiar uma mecha de cabelo atrás da orelha, um gesto nervoso que revelava sua vulnerabilidade.
-Nós vamos nos dar bem. - Ela responde com um tom espelhado, e Will percebe que esse é um mecanismo dela, uma forma de desviar a atenção de si mesma. A habilidade de ler Jack, de roubar um pouco de sua confiança e depois zombar dele, era uma grata surpresa.

Will decidiu que Helena valia o esforço de treinar. Havia algo nela que chamava sua atenção, uma curiosidade que despertava seu instinto de mentor.

Mais tarde, no consultório de Hannibal, Will menciona Helena, sua voz carregada de preocupação.
-Uma aprendiz? - A voz de Hannibal flui suavemente, pintada com um interesse quase sedutor.

-Sim... Jack vai apenas quebrar aquela garota. - Will diz, passando uma mão pelos cabelos enquanto caminha pelo consultório, seu olhar perdido nas sombras que dançavam nas paredes.
 -E você acha que ela é apta para ser sua pupila?

A menção de tutelar as habilidades de Helena provoca uma exasperação visível em Will. Seus passos travam e sua mão toca uma escultura no aparador, um gesto que revela sua inquietação. Hannibal observa, intrigado; ela parece ser interessante o suficiente para despertar o instinto protetor de Will.
-Ela é francesa... Ou parece. Seu sotaque é suave. - Will diz, mudando de assunto abruptamente, como se tentasse evitar o peso da responsabilidade. - Acredito que tenha passado muito tempo aqui.

Hannibal percebe no tom de voz de Will que ele realmente gostaria de treinar Helena, de mostrar a ela como se defender em um mundo perigoso. E isso a coloca no radar de Hannibal; a doce garota francesa de quem Will fala há quarenta minutos se torna um objeto de interesse.

Sem querer, levado pelas descrições vívidas de Will, Hannibal consegue vê-la: longos caracóis marrons caindo em cascata, olhos suaves como os de uma corça, vestida em roupas leves que acentuam sua graça. Ela era exatamente o que Will pedira aos céus, e isso despertou um ciúme sutil em Hannibal.

Will estava uma mistura de curiosidade, empolgação e preocupação, mas, acima de tudo, era a curiosidade que o dominava.

-Jack quer que ela me substitua.

-E você está preocupado com isso?

-Nós... Bem, eu me preocupo com ela. Eu sei o quanto custa, deslizar por essas mentes cobra um preço. - A última frase escapuliu de seus lábios, carregada de um peso emocional que apenas Hannibal poderia compreender.

Hannibal assentiu, observando Will com atenção. A garota e ele tinham trocado um punhado de palavras, trabalhado juntos silenciosamente durante a tarde, e mesmo assim, o homem parecia fascinado, quase encantado. Hannibal fez uma nota mental de que precisaria observar Del'acour mais de perto.

-Eu sei que o caso de Hobbs me deixou... incomodado. Mas ao ponto de ser substituído?

Essa era a grande questão, pairando no ar como uma névoa densa. A incerteza do futuro, a vulnerabilidade de Helena, e a crescente conexão entre eles tornavam a situação ainda mais complexa. 








Helena Del'acour deitou-se em sua cama, o metal dourado do anel girando folgadamente em seu dedo, como um lembrete sutil de sua nova realidade. Ela se aninhou nos lençóis de mil fios, o toque suave da seda envolvendo-a como um abraço, enquanto sua mente vagava para a tarde que acabara de passar. Will era um maremoto silencioso, uma tragédia prestes a acontecer, e ela sentia que estava à beira de algo grandioso e perigoso.

E, de maneira surpreendente, ela gostava disso. Havia o observado em silêncio durante toda a tarde, sua máscara doce firmemente posta, um contraste intrigante com a tempestade que parecia ferver sob a superfície. Will era um empata, puro e cru, e ela sabia que precisaria se mover com extrema cautela ao redor dele, como uma dançarina em uma corda bamba, equilibrando-se entre a atração e o medo.

As horas se estendiam interminavelmente enquanto ela rolava na cama, seus pensamentos uma confusão de emoções e curiosidade. A mente empata, acostumada a captar as nuances ao seu redor, se perguntava por que Jack escolheria substituir uma lâmina tão afiada quanto Will, quando ele claramente estava mais do que disposto a ajudar. O contraste a intrigava, uma pergunta sem resposta que a deixava inquieta.

Ela sentiu o próprio comichão de interesse crescer, se tornando quase impossível segurar, ela era ela, ele era ele e isso seguramente queimaria os dois.

Del'acour - HannigramOnde histórias criam vida. Descubra agora