[...] tentação que não fosse comum aos homens.

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Helena ligou para Will assim que chegou em casa, o coração ainda pulsando com a adrenalina da noite. Tirou os sapatos e colocou as bolsas de comida sobre o balcão, a leveza daquelas pequenas ações contrastando com o peso da experiência que acabara de vivenciar. Ela hesitou por um momento, sentindo-se um pouco boba por fazer aquilo, mas não conseguiu evitar. A conexão que sentia com Will era forte e, de alguma forma, reconfortante.

— Will, boa noite, é Helena, Helena Del'acour, — disse ela, sua voz um pouco nervosa, mas decidida.

Do outro lado da linha, a resposta de Will foi imediata, suave e familiar, como um abrigo em meio à tempestade.

— Helena! Boa noite. O que aconteceu? Você parece... diferente.

A preocupação na voz dele fez seu coração acelerar um pouco mais. Ela se recostou contra a bancada da cozinha, deixando escapar um sorriso involuntário. Will sempre tinha esse efeito sobre ela; sua presença, mesmo que virtual, parecia capaz de dissipar as sombras que a perseguiam.

— Eu só... — ela hesitou, buscando as palavras certas. — Estava pensando sobre a cena de hoje e, bem, eu não consigo tirar da cabeça a sensação estranha que tive.

Havia um silêncio momentâneo do outro lado da linha, e Helena pode quase imaginar Will pensando. A imagem dele, com os olhos pensativos e a expressão concentrada, se formou em sua mente.

— A sensação de estar sendo observada? — ele perguntou, e ela percebeu que ele estava sintonizado com suas emoções, como sempre.

Ela assentiu, mesmo sabendo que ele não podia vê-la. — Exatamente. Foi como se algo ou alguém estivesse sempre por perto. Eu não sei... É só um instinto, mas me deixou inquieta.

— É compreensível, — Will respondeu, sua voz agora mais firme. — Depois do que você viu hoje, é natural sentir-se assim. A mente humana tem maneiras estranhas de processar o trauma.

Helena respirou fundo, aliviada por ele entender. — Eu tentei me distrair depois do trabalho, mas a sensação não desapareceu. E então liguei para você.

O silêncio se arrastou por um momento, e Helena podia quase sentir a expressão dele mudando, como se estivesse ponderando suas palavras com cuidado.

— Helena, eu estou aqui, — disse Will, a voz carregando um calor que a envolveu como um cobertor. — Você não está sozinha nessa. Se precisar, podemos nos encontrar amanhã para discutir tudo com calma.

Ela sorriu, sentindo-se um pouco mais leve. — Eu adoraria isso, Will.

A conversa prosseguiu, flutuando entre tópicos triviais e preocupações mais profundas, como um fio delicado que os unia. Enquanto falavam, Helena sentiu que a escuridão que a cercava começava a se dissipar, mesmo que temporariamente. O alívio de ter Will por perto, mesmo que através da linha telefônica, proporcionava um conforto que ela não sabia que precisava.

E enquanto isso, nas sombras da noite, Hannibal observava, uma sombra que não pertencia a este momento de leveza. E em sua mente, uma ideia começava a se formar, uma conexão que poderia tecer ainda mais a teia que o unia a Helena.
Ele foi embora, o motor do carro ressoando baixo na noite enquanto Helena permanecia alheia a quem a observou durante todo o caminho de volta.

Quinze dias depois, o Imitador agiu novamente. A cena de crime, grotesca e brutal, refletia as marcas do famoso Estripador de Chesapeake, mas algo estava fora de lugar. Era uma tentativa desesperada de replicar a precisão artística do verdadeiro assassino, mas carecia da elegância e dos detalhes sutis que tornavam o Estripador tão meticuloso em suas execuções. Em vez de uma obra-prima de horror, o que tinham diante de si era uma imitação sem alma, uma cópia quase tosca.

Del'acour - HannigramOnde histórias criam vida. Descubra agora