Del'acour - Hannigram

[...] quando o tolo começa uma discussão, o que ele está pedindo é uma surra.

Na manhã seguinte, Freddy Lounds finalmente conseguiu encurralar Helena e Will em frente ao prédio do FBI, seu sorriso malicioso refletindo o prazer de finalmente ter a oportunidade de confrontá-los. Will, com seu habitual olhar de repulsa e cautela, observou com um certo fascínio como Helena mudava diante da presença de Lounds.

A morena parecia se transformar de forma quase imperceptível. Sua postura, geralmente relaxada e receptiva, endureceu. Seu rosto, sempre gentil e expressivo, tornou-se uma máscara de controle, uma muralha impenetrável contra as investidas agressivas da repórter.

Helena podia sentir a malícia que transbordava na voz de Freddy Lounds, cada pergunta estrategicamente elaborada para fazê-los cometer um deslize, um erro que ela pudesse usar em sua próxima manchete sensacionalista. Freddy queria um furo de reportagem, algo suculento que confirmasse sua narrativa de que a equipe era instável, perturbada e tendenciosa — uma bomba pronta para explodir a qualquer momento.

— Senhorita Del'acour, o público tem o direito de saber se essa investigação está realmente sendo conduzida por uma equipe equilibrada. Afinal, os rumores sobre o envolvimento emocional entre os agentes e... — Freddy não terminou a frase, mas o sorriso insinuante deixou clara a provocação.

Helena, no entanto, não se deixou abalar. Sua voz suave e precisa cortou o ar, respondendo antes que Will pudesse sequer esboçar uma reação. — Acredito que seu trabalho seja informar, senhorita Lounds, não especular. Nossa equipe está comprometida com a verdade e a justiça, e não com teorias sensacionalistas. Se quiser manter seu público bem informado, sugiro que comece a focar nos fatos.

Havia algo no tom controlado de Helena que exasperava Lounds. Era impossível para ela manter a narrativa de que a equipe era emocionalmente instável quando Helena, com sua calma e compostura implacáveis, não oferecia brecha alguma. Cada pergunta que Lounds lançava era devolvida com a mesma tranquilidade, como uma parede de mármore contra a qual suas palavras  ricocheteavam.

Will, observando tudo ao lado, sentia uma mistura de repulsa pela repórter e uma admiração crescente por Helena. Ela tinha uma habilidade impressionante de transformar a tensão em uma dança controlada, uma performance calculada onde ela, e não Lounds, comandava o ritmo.

Freddy, visivelmente frustrada, tentou mais uma vez, inclinando-se um pouco mais para Helena. — E quanto à sua proximidade com o doutor Lecter, senhorita Del'acour? Há quem diga que essa relação pessoal pode estar comprometendo o julgamento da equipe.

Helena não piscou. Seu sorriso foi sereno, quase indulgente, como se estivesse lidando com uma criança mal-comportada. — Doutor Lecter é um consultor de grande valor para o FBI. E, como em qualquer trabalho profissional, nosso relacionamento é baseado em respeito mútuo e dedicação ao caso. Se você tem alguma dúvida sobre isso, recomendo que revisite suas fontes.

A calma imperturbável de Helena parecia desarmar Freddy, que, por um breve momento, hesitou. Ela sabia que não conseguiria mais nada dali. Com um suspiro frustrado, ela finalmente recuou, o sorriso ácido ainda presente, mas sem a satisfação que esperava.

— Bom, se é assim que preferem... — disse Freddy, dando um passo para trás, mas não antes de lançar um último olhar para Will. — Mas todos sabem que a verdade sempre encontra uma maneira de sair, cedo ou tarde.

Com isso, ela se virou e se afastou, já planejando sua próxima investida. Will, ainda processando a troca, virou-se para Helena, seus olhos cheios de respeito.

— Impressionante, — ele murmurou, os cantos de sua boca curvando-se num meio sorriso. — Você realmente sabe como lidar com ela.

Helena deu de ombros, finalmente relaxando. — Eu diria que são apenas os nervos franceses, mas no fundo... acho que gosto de frustrá-la.