[...]A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo.

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Jack estava sentado em seu escritório, envolto em uma penumbra suave, quando Helena irrompeu pela porta com um ar de urgência, como se cada segundo estivesse pesando sobre seus ombros. O contraste entre a sua presença despojada e a polidez que sempre a caracterizara era marcante; seu rosto, geralmente sereno e confiante, agora refletia uma mistura de preocupação e ansiedade.

Jack, que se encontrava imerso em uma pilha de documentos, ergueu os olhos e avaliou a jovem. O brilho nos seus olhos, normalmente tão claro, estava agora ofuscado pela tensão. Ele se inclinou para a frente na cadeira, sentindo o coração acelerar, intrigado com o que poderia ter abalado a calma habitual de Helena.

— Ah, Srta. Del'acour, ótimo! Eu precisava falar com você, antes irmos a cena de crime. — disse ele, tentando manter um tom tranquilo, embora a apreensão começasse a brotar em seu peito.

Helena, com as mãos ligeiramente trêmulas, puxou uma mecha de cabelo para trás da orelha, um gesto corriqueiro que evidenciava o tumulto em sua mente. Ela respirou fundo, como se estivesse tentando organizar os pensamentos para articular melhor as palavras.

— O Doutor Lecter, Will e eu chegamos a uma conclusão importante — revelou, a voz tremendo levemente.

Essas palavras pairaram no ar, fazendo Jack se endireitar na cadeira. Sua curiosidade foi imediatamente despertada; o que as três mentes mais perspicazes do condado haviam desenterrado juntas? Uma ideia, uma descoberta, uma pista que poderia mudar tudo. 

Helena hesitou por um instante, mas logo decidiu que não precisava da cadeira. Com um movimento, empurrou o móvel para o lado, liberando espaço e uma visão mais clara das fotos espalhadas sobre os papéis de Jack. As imagens grotescas, agora misturadas a relatórios e anotações, criavam uma colagem macabra que deixava pouco espaço para interpretações sutis. Cada fotografia contava uma história de horror, um eco sombrio do que havia acontecido.

— Temos um imitador — afirmou, a voz firme, apesar da tensão palpável. — Alguém sem apreço nenhum pela arte, tentando tomar o lugar do Estripador de Chesapeake.

As palavras dela ressoaram no escritório, cada sílaba carregada de urgência e gravidade. Jack, por um momento, ficou em silêncio, absorvendo a magnitude da revelação. Um imitador. A ideia se entranhava em sua mente, repleta de implicações. Ele olhou para as imagens, sentindo um nó se formar em seu estômago. Era como se a história estivesse se repetindo, mas agora com uma nova e perturbadora camada de crueldade.

— O que sabemos sobre ele? — questionou Jack, forçando-se a manter a voz estável, enquanto a adrenalina começava a pulsar em suas veias.

— Ele já matou antes, provavelmente não fez nada notório — continuou Helena, o olhar fixo nas imagens. — Ele se identificou com o Estripador e começou a usar o modus operandi dele... Mas nosso imitador não tem o requinte. Ele é bruto, desajeitado.

A expressão de Helena se distorceu em uma careta involuntária, como se o odor daquelas imagens grotescas estivesse invadindo o ar. Jack percebeu que, para ela, cada foto era uma ferida exposta, cada detalhe um lembrete do horror que enfrentavam.

— É como se um pintor de rua estivesse tentando recriar Botticelli com sharpies — completou, gesticulando com intensidade. A metáfora ressoou na mente de Jack, que imediatamente visualizou a cena. O contraste entre a beleza sublime da arte clássica e a crueza de um rascunho feito às pressas.

— Isso significa que ele está tentando se destacar, mesmo que de forma grotesca — ponderou Jack, seus pensamentos se alinhando. — Quer que sua obra seja notada, mesmo que não tenha o talento para isso.

Helena assentiu, o olhar agora mais penetrante.

— E isso é perigoso. Um criminoso que busca reconhecimento pode ser impulsivo, irracional. Ele quer provocar, desafiar. Cada passo que damos o aproxima de se expor ainda mais. 

Del'acour - HannigramOnde histórias criam vida. Descubra agora