Parte 1

21 2 7
                                    

Não sei exatamente como às coisas chegaram a esse ponto, mas é frustrante passar por tudo isso sozinha e ainda ter que ignorar todos os mínimos detalhes. Creio que ninguém saiba o que aconteceu, deixe-me explicar melhor.

Como presente de aniversário, meu tio resolveu me levar para passar às férias na fazenda do seu amigo. Iríamos eu, ele e a minha tia. Foi me comunicado que também iriam mais dois amigos dele e suas respectivas famílias.

Meus pais não protestaram ao pedido, então, apenas arrumei minhas malas e esperei virem me pegar para viajamos. Era por volta das duas da tarde quando saímos, estava bem quente, mas tentei ignorar e focar apenas nas minhas tão merecidas férias.

Avisei em todas às minhas redes sociais que não seria tão presente, e no máximo postaria algumas fotos, já que eu amo registrar tudo e aquela ocasião exigia isso. Minha família sabia que a faculdade estava me desgastando muito e concordaram que eu precisava de um tempo para descansar.

Meu tio, muito solícito, uniu o útil ao agradável, por assim dizer. Aproveitou o convite do seu amigo e minha necessidade de descanso para planejar toda uma viagem. Pelo que entendi, passaríamos uma semana por lá, tempo o suficiente para eu restaurar minhas forças.

Três horas se passaram e já estávamos cruzando um enorme portão de madeira e seguindo por um caminho contornado por árvores devidamente podadas e logo à frente era possível enxergar uma casa imensa rodeada por varanda e também um campo verde com búfalos pastando. Deveria haver mais coisas, e eu almejava conhecer tudo que pudesse durante minha estadia.

Descemos do carro e fomos recebidos por três sorrisos acolhedores, sendo estes compostos pelo casal e uma garotinha, a qual pressupus ser sua filha. Cumprimentamos os anfitriões, que por sinal eram muito acolhedores e fomos direcionados aos nossos devidos quartos. Pela quantidade de cômodos, descobri que eu teria uma suíte só para mim.

Era linda, por sinal. Tinha uma cama de casal com cabeceira de madeira, um armário — também de madeira — com espaço o suficiente para colocar todas às minhas peças de roupa, uma pequena varanda que era separada do quarto por uma enorme porta de vidro e finas cortinas brancas, além de um pequeno banheiro com uma banheira em seu interior. Era mil vezes melhor do que eu esperava e aquilo me fez sorrir com uma felicidade tão genuína, que se registrado, seria uma obra de arte.

Após nos acomodarmos, olhei no relógio e era quase noite. Decidi descer e tirar umas fotos do campo com os búfalos, pois havia me encantado por eles. Por mais que a viagem tivesse sido longa, não me sentia cansada ou sonolenta. Antes de descer, mandei mensagem para os meus pais avisando que já havia chegado.

Avisei meus tios — que estavam na varanda conversando com os amigos enquanto esperavam às outras duas famílias chegarem — sobre minha saída. O local ficava em frente à casa, logo, eu não correria o risco de me perder.

Me foi aconselhado a não chegar perto dos animais, mas eu poderia ficar olhando de longe e tirar fotos. Fiquei escorada na cerca por longos minutos refletindo sobre tudo que havia acontecido comigo nos quase dois anos de faculdade. Pensei na mudança de cidade, na distância dos meus pais, na rotina cansativa e na dificuldade que era conciliar a vida acadêmica com a doméstica. Não haviam só dificuldades, claro. Muitas lembranças boas me vieram à mente, mas fui tirada dos meus pensamentos.

Meu celular começou a vibrar no bolso e li o nome do meu tio na tela. Ele havia pedido para eu voltar para casa e me preparar para o jantar. Alguns pernilongos já rodeavam meu corpo e corri mais rápido que consegui, a fim de espanta–los.

Já haviam mais carros e pessoas no local, então deduzi que todos haviam chegado. Respirei fundo e sorri, cumprimentei todos educadamente e quando estava prestes a subir para o meu quarto, ouvi uma voz familiar.

Disfarce Onde histórias criam vida. Descubra agora