A cada trecho da melodia o loiro se aproximou mais do paranaense, que em momento algum percebeu a "plateia". Quando o moreno terminou a canção, respirou fundo, contemplando aquela paisagem exuberante que tinha tanto orgulho. Quando um calafrio subiu por sua espinha percebeu que era hora de voltar, por mais que estivesse acostumado a passar horas ali, cantando e tocando, mesmo ficando cada vez mais molhado, ficar doente não estava no pacote. Paraná puxou uma das pernas para passá-la por cima do corrimão, mas não a levantou o suficiente, fazendo seu calcanhar bater no metal e todo seu corpo se desequilibrar. Com o violão em mãos e sem apoio, só restou ao moreno esperar o baque.
Mas ele não veio.
Seu corpo foi gentilmente segurado por duas mãos firmes e fortes, que o puxaram para cima, o colocando em pé.
— Bah, calma lá guri.
Ao levantar os olhos e encontrar Rio Grande do Sul diante de si, Paraná o empurrou com força, distanciando-se alguns passos.
— Mas que merda...?! – ele grunhiu com o coração acelerado, tanto pelo quase tombo, quanto pelo susto de vê-lo ali. – O quê... como você...
A expressão do moreno era um misto de surpresa, medo e raiva. Principalmente o último, pois ter aquele homem ali era a última coisa que ele queria. Rio Grande do Sul não queria admitir, mas o empurrão que recebeu causou uma fisgada em seu peito.
— Que porra tu tá fazendo aqui? – o paranaense ajeitou o violão nas costas e manteve uma distância "segura".
— Me diga você – o loiro deu de ombros, – quem foi que sumiu o feriado todo e deixou o pessoal de cabelo em pé?
— E desde quando você se importa? – Paraná apertou a alça do instrumento em seu peito, a frustração em seu rosto era clara.
— Aparentemente – Rio Grande torceu os lábios, – a partir do momento que eu sou o motivo disso.
O paranaense trincou os dentes. Tudo no rosto do maior transmitia orgulho e superioridade, o que fazia seu sangue ferver. Suas palavras ainda pareciam carregadas de deboche e por mais que ele não quisesse admitir, o machucavam. Mas ele também era orgulhoso. E estava cansado daquilo.
— Tu se acha muito importante né piá? – o menor riu irônico. – Não vi-
— Eu não acho nada – o loiro cortou o raciocínio do outro, irritado. – Tudo isso por causa de uma discussão e algumas verdades? É sério?! Tu tem quantos anos guri?!
A cada palavra proferida a mente do gaúcho gritava para que sua boca se calasse. Não, não era pra isso que ele estava ali. Já havia machucado o garoto o suficiente, estava ali para se reconciliarem e não piorar as coisas. Mas infelizmente seu maldito orgulho falava e agia primeiro.
— "Uma discussão e algumas verdades"... – Paraná repetiu com um pequeno e doloroso sorriso em seus lábios. – Apesar do atraso seus produtos de Páscoa chegaram aos devidos locais, não é?
— O quê...? – o maior franziu as sobrancelhas, confuso com a mudança repentina de assunto.
— Seus produtos de Páscoa – o moreno reforçou, – chegaram aos destinos apesar de tudo, né?
Rio Grande do Sul comprimiu os lábios. Sim, mesmo com toda aquela confusão com as BR's paranaenses, o problema foi resolvido rapidamente e seus produtos seguiram viagem sem mais problemas, o que resultou em um pequeno atraso, mas nada além disso.
— Tá – ele fez uma careta, – e daí?!
Paraná deixou os ombros caírem, os olhos se enchendo d'água.
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Evidências
Teen FictionNa região sul do Brasil, Paraná e Rio Grande do Sul vivem trocando farpas sobre quem trabalha mais e melhor. Porém, uma aposta entra em cena e ambos os estados são levados ao limite profissional, psicológico e principalmente emocional. Será que real...