O doutor Arruda aceitou a hipótese de Leo. O rapaz tinha mesmo boa cabeça para detetive, demonstrada outras vezes. Queria, porém, informações sobre Alexandre. O mensageiro precisava voltar ao hotel. Prontificou-se a levá-lo num carro policial, os dois no banco traseiro.
-Vocês papeavam muito?
-Boa-vida falava demais até com dor de dente. O homem mais alegre e falador que já vi. E se trazia a sanfona fazia a festa sozinho.
-Não teria vendido a sanfona?
-Posso apostar que não. Seria como vender a própria alma. Graças a ela ganhava algum dinheiro nos forrós, restaurantes e festas do bairro.
-Domingo estava preocupado, diferente dos outros dias? - quis saber o delegado.
Leo sacudiu a cabeça, impossibilitando qualquer dúvida.
-Só mostrava preocupação com a loteca. No sábado acertara duas zebras e fazia fé nos 13 pontos. Não que fosse um jogador. O que queria era viajar. Sabe que um dia fez uma ligação telefônica para Roma? E só pelo prazer de falar com uma terra distante. Parece até loucura, não?
O delegado precisava de informações mais quentes e práticas.
-Por acaso tinha inimigo?
-Se tinha, nunca se referiu a ele - respondeu Leo com ar saudoso.- Quem odiaria um sanfoneiro?
-Talvez outro sanfoneiro - respondeu doutor Arruda com um sorriso.
-Boa-vida não fazia muita concorrência aos outros. O delegado fez outra pergunta direta:
-A que horas saiu ontem de sua casa?
- Às quatro, logo após o almoço. Mais cedo que habitualmente. Estava com um pouco de pressa.
-Por quê?
-Tinha marcado um encontro.
-Isso interessa. Com quem?
-Não disse - respondeu Leo em tom lamentoso.
-Provalmente com o próprio assassino. - arrematou o delegado. - Chegamos ao hotel. Dê um abraço no seu primo Gino. E obrigado pelas informações. Nós vamos pegar o homem.
Leo entrou no hotel, dirigindo-se à porta. Quando foi guardar o folheto turísticos de Boa-Vida, num dos casulos de correspondência, notou pelo tato que havia algo mais rígido e solto entre suas páginas coloridas. O que era aquilo?
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Um cadáver ouve rádio
De TodoUma obra de Marcos Rey, pseudônimo de Edmundo Donato, publicado em 1983. O livro gira em torno de um misterioso assassinato em um prédio em construção. O homem assassinado era querido por todos, o que desperta a dúvida: que motivos teriam para mata...