VIII

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Wildfire - Seafret

Callie pegou o último card que ainda não tinham lido e leu em voz alta:

- Coloquem os headphones, pressionem play e tentem manter contato visual - ambas ficaram surpresas com a instrução, mas sabiam que o rádio antigo e os fones na mesa não eram de enfeite.

Sorriram com algum nervosismo uma para a outra enquanto colocavam o acessório e então Arizona deu play na música.

Apesar de não terem tido dificuldade de manter contato visual durante toda a conversa, alguma coisa sobre esse momento tornou isso um pouco mais difícil.

Elas riram no início enquanto a música começava e tentavam se concentrar em ficar séria e encarar uma à outra. Brincavam sobre isso, para que parassem de rir senão não conseguiriam. E foi só depois de algumas longas respiradas fundas que conseguiram e o olhar baixo foi direcionado à outra no mesmo momento.

De alguma forma, Callie já tinha se acostumado a olhar para ela. Mas agora em silêncio era diferente. Era como se conseguisse ver ainda mais fundo dentro dos olhos azuis de Arizona. Era como mergulhar neles.

Conseguia ver muita coisa ali. Ela era muito transparente: via dor, muita dor. Mas também via todo o amor e afeto que ela descreveu ter crescido com. Viu quando o olhar dela transpareceu o sorriso triste que sua boca deu e só quis, pela milésima vez, abraçá-la.

Arizona, por outro lado, tentava desvendar o que os olhos de Callie diziam. Ela era muito sincera com as palavras, mas seus lindos olhos castanhos carregavam certo mistério, o que a loira não tinha notado antes e ficou extremamente intrigada quanto a isso.

Nesse primeiro momento elas estavam muito dentro de sua própria cabeça e apesar de estarem olhando dentro dos olhos uma da outra, não estavam se comunicando e sabiam disso. Mas sentindo o ápice da música chegando e notando esse afastamento, ambas deram uma piscada mais longa em busca dessa conexão, dessa comunicação. E ela veio.

Os corações deram uma disparada de nervoso e tudo mais misturado enquanto elas sentiam que eles estavam ligando-se lentamente. Era difícil explicar, mas um sorriso largo e ao mesmo tempo envergonhado, sincero e seguro tomou conta de seus rostos.

Talvez fosse a música, talvez fossem os flertes trocados ou as palavras ditas antes, mas alguma coisa estava acontecendo ali, só não tinham certeza do que.

Nunca ficaram encarando por tanto tempo e em silêncio uma pessoa antes, não mais estranha, era verdade, mas ainda assim, em muitos níveis, desconhecida. Apesar disso, sentiam-se próximas e a cada segundo essa proximidade aumentava e se tornava mais íntima.

Quando Arizona se deu conta disso, seu primeiro instinto foi querer desviar o olhar e fugir disso, mas simplesmente não conseguiu. Callie parecia ter o poder de prender sua atenção e ela se via cada vez mais querendo desvendar seus olhos.

A troca era intensa, profunda. Linda! Tinha pureza, mas também um ar de sedução. Tinha transparência, mas também mistério. Tinham respostas, mas também muitas perguntas. Tinha vontade de não sair mais dali, mas também vontade de sair correndo. Conseguia ser confusa e ao mesmo tempo muito real e verdadeira.

Seus corações acompanharam o ritmo da música durante todo o tempo. Começando tranquilo, enquanto estavam dentro de seus próprios pensamentos. Acelerando quando sentiram que estavam se conectando uma com a outra já no meio da música e, ao final, voltaram à tranquilidade.

Era difícil explicar, mas estavam confortáveis como estiveram desde o princípio, mesmo com toda a intimidade trocada nos últimos minutos. Seus corpos diziam o mesmo, escorados para frente na mesa, desde sempre, buscando cada vez mais proximidade. Nem elas compreendiam completamente o que se passava ali e precisariam de alguns dias para absorção.

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