Park Jongseong
Acho que eu faço mais faxina do que as próprias faxineiras dessa escola.
Acho que minha feição de tédio se tornou algo comum quando algum professor fala as palavras "Detenção depois da aula".
Eu estava sentado, do lado de fora da dispensa, porque o zelador estava procurando as chaves, acho que ele é meu único amigo adulto aqui.
- Qual foi o motivo dessa vez? - ele falou enquanto procurava a chave da dispensa em seu molho de chaves.
- Peguei a minha caneta que caiu no chão. - suspirei, encostando minhas costas na parede.
- Te deram detenção por isso? - ele arqueou a sombrancelha.
Apenas assenti e ele soltou um suspiro, parecendo estar chateado com as pessoas do próprio país.
As vezes eu penso, se eu, que tenho traços asiáticos já sou tratado assim, quem dirá alguém sem nenhum traço? Céus, a Coreia está perdida.
O zelador me entregou os meus melhores amigos — vulgo, materiais de limpeza — e caminhei até o refeitório.
Minha sala fez uma zona hoje na hora do intervalo, e adivinha, vai sobrar para o idiota aqui limpar toda essa sujeira. Nunca vi tanto molho pelas paredes ou hashis por todo lado.
Decido retirar os restos de comida primeiro do chão e passar um bom pano para ver se sai toda essa coisa vermelha alaranjada.
Só de pensar, sinto gostas de suor na minha testa, passo meu antebraço por elas e respiro fundo.
- Vamos a luta - falo baixo e comigo mesmo.
Pego um esfregão e começo a esfregar aquele chão sujo, com uma certa cara de nojo.
- Oi! - ouvi a voz de um garoto, que me pegou de surpresa, me fazendo assustar. - Desculpe! Não quis assusta-lo!
- Tudo bem - acabei sorrindo fraco. - Ah! Você é o Jungwon, não é?
- Sou sim! - falou feliz, mas logo fez uma feição confusa - Como me conhece?
- Vejo seu nome nos rankings da escola.
Seu olhar pareceu distraído depois da minha confissão, ele pareceu distante por alguns segundos e soltou um suspiro.
- Por que está aqui? - perguntei enquanto voltava a fazer meu trabalho.
- Fiquei de detenção, oras. - ele bufou baixo.
- Você? - falei espantado.
- Chegou um aluno novo, enfim, perdi meu posto de o queridinho dos professores e agora qualquer coisa que eu faça é errado. Meus pais vão me matar...
- Eu sei como é, mas, não está sozinho, relaxa. - dei um sorriso confortante a ele e lhe entreguei um esfregão reserva. - Não é tão ruim quanto parece, acredite.
Ele segurou o esfregão com um pouco de nojo, passando a limpar junto comigo.
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- Definitivamente é pior do que parece! - ele exclamou choroso enquanto terminamos de passar pano naquele chão que agora estava limpo e brilhando.
- Nunca pegou num esfregão? - perguntei rindo de sua expressão.
- Não... - resmungou. - Eu acho que nesse sentido, sempre fui mimado.
Deixamos os produtos e os objetos de limpeza na dispensa e começamos a nos dirigir até a saída da escola, para ficarmos sentados no banco perto do portão, já que a gente tinha que cumprir o horário da detenção. Passamos pela diretoria e vimos o olhar de desgosto da diretora olhando para Jungwon, ele pareceu triste com isso e encolheu os ombros.
Ele parecia alguém adorável, talvez não merecesse passar pela detenção.
Nos sentamos no banco e vi Jungwon encolher as pernas e as abraça-las, ficando em posição fetal,
- O que fez para estar na detenção? - perguntei um pouco curioso, afinal, o número um não tinha como ficar na detenção se ele era o perfeito que todos falavam.
- O aluno novo roubou minha prova e trocou os nomes. Quando eu descobri, fui até a sala dos professores para tentar inverter a situação, me pegaram no flagra e agora vim parar aqui. Agora todo mundo acha que eu tirei um nove e meio. - ele falou amargurado.
- Mas nove e meio é uma nota ótima? - falei espantado, como assim aquilo era uma nota ruim?
- Não para os meus pais. - ele pareceu ofendido com o que eu falei.
- Você ficou em primeiro em redação na semana passada, ficou em primeiro no concurso de contos ontem, teve as notas mais altas da escola até então e é o aluno do mês! Um nove e meio no meio de tantos dez é tão ruim assim?
- Gostaria de te dizer que não, mas é sim. - ele apoiou o queixo nos joelhos. - Não me importo em ficar em primeiro em redação ou ganhar o concurso de contos e nem de ser o aluno do mês, mas meus pais se importam.
- Está fazendo tudo isso porque é cobrado pelos pais? - franzi o cenho.
- Não quero mais falar sobre isso - ele virou o rosto, não olhando mais para mim.
Confesso que senti pena. Se ele é mesmo cobrado pelos pais, não consigo nem imaginar o tamanho da tristeza dele, deve ser algo horrível. Nem para tirar apenas notas boas, tem que ser sempre dez e o primeiro lugar em tudo.
O horário terminou e ouvi uma buzina do lado de fora do portão aberto, vi Jungwon se levantar e caminhar até a rua, decidi acompanhá-lo, já que eu iria embora mesmo.
Assim que coloquei os pés para fora da escola, dei de cara com uma Mercedes-Benz Classe E, nunca vi um tão de perto como eu estava vendo agora, era tão bonito que talvez minha boca esteja aberta.
Um homem saiu da porta de passageiro do carro com uma feição enfurecida, ele caminhou até o garoto mais novo que eu e segurou seu pulso.
- Acho muito bom o senhor ter uma explicação por ter tirado uma nota baixa e ter ficado na detenção! - ouvi sua voz grave e ríspida.
O pulso de Jungwon estava ficando vermelho de tanto que aquele homem o segurava com força, como se o garoto fosse um objeto.
- Desculpe, pai. - ele falou baixo e sua voz falhou, eu tive a certeza que ele queria chorar.
Sem mais enrolação, aquele homem abriu a porta de trás do carro e jogou o filho lá dentro, fechando a porta com uma força absurda. Ele se virou para mim e senti meu corpo se estremecer, seu olhar era sério e parecia que ia fuzilar minha cabeça.
- O que foi? - ele me questionou. - Anda, garoto! Saia daqui! - ele gesticulou com a mão.
Por instinto, girei meus calcanhares para o lado oposto dele, passando a caminhar, só ouvi a batida da porta do carro e o barulho do mesmo dando partida quando virei a esquina.
Pobre Jungwon.
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Ele Morreu | Jaywon
Fanfiction"Quando eu senti suas mãos geladas tocarem o meu rosto, ouvi suas últimas palavras e almejei que você sobrevivesse, mas foi em vão quando vi seus olhos se fecharem e seu último suspiro soltar pela sua boca". Yang Jungwon estava sempre no topo, nos e...