ᰔ capítulo 2 ;

81 14 3
                                    

Yang Jungwon

Nada explica o tamanho da vergonha que estou sentindo.

Não sei se é vergonha por eu ter decepcionado meus pais ou se é porquê meu pai me jogou dentro do carro na frente de alguém que eu mal conhecia.

Meu pai não está olhando para mim, estou me sentindo um lixo por ter decepcionado ele, acho que nunca fiz isso antes.

- Nove e meio, Yang Jungwon. - ele falou com desgosto, senti meu estômago revirar depois disso. - Nunca na vida você tirou essa nota! Ainda acha bonito ficar na detenção por roubar a prova de um aluno, que vergonha!

Senti meus olhos lacrimejarem e cerrei os pulsos, minhas unhas curtas cravaram na palma da minha mão, sentindo elas marcarem minha pele. Meu pai falava aquelas palavras duras, cruéis, e eu nem podia abrir a boca para dizer o meu lado se eu não quiser levar uma surra na frente do motorista.

Assim que chegamos em casa, pude ver o olhar de decepção da minha mãe sobre mim, o que me fez correr para o andar de cima, entrei em meu quarto e bati a porta sem querer o que fez com que em cinco segundos eu ouvisse ela abrir e meu pai furioso veio em minha direção.

Meu rosto se virou pro lado, senti ele queimar. 

Meu próprio pai me bateu.

- Já não basta a vergonha que nos fez passar hoje? Me dê o seu celular. - ele estendeu a mão, mas eu estava travado, chorando, com medo. - Ande, Yang Jungwon! Me dê seu celular! - ele chacoalhou meus ombros.

Com as mãos trêmulas, tirei o objeto do bolso da minha calça e estendi a ele, que tomou da minha mão com força.

- Vai ficar sem ele, sem assistir televisão, sem seu videogame, seu computador também vai ser confiscado e claro, não vai mais falar como Sunoo, vou deixar a escola avisada. Vai sair dessa situação se ganhar o concurso de matemática que vai ter na próxima semana. - sem ao menos me der chance de falar, ele me deu as costas e caminhou até a porta. - Eu quero essa merda aqui aberta. - saiu.

Minhas pernas se cederam ao chão, caí no carpete macio do meu quarto e eu o molhava pelas lágrimas salgadas que caíam dos meus olhos.

Não sei por quanto tempo eu fiquei assim, mas eu já sentia falta dos raios solares passarem pelo vidro da minha janela. Ouvi o barulho do salto agulha de minha mãe e logo tratei de me recompor, enxugando meu rosto, tentando disfarçar a minha expressão de choro.

Vi sua silhueta parar de frente para meu quarto, então a encarei, esperando que ela me dissesse o motivo de sua vinda.

- Está na hora do jantar... - sua voz parecia insegura.

- Estou sem fome... - falei baixo enquanto me sentava na minha cama.

- Filho... Seu pai vai ficar bravo se descobrir que não comeu, vamos. - ela veio até mim.

Encarei seu rosto e engoli seco. Ela não estava com aquela mesma feição de decepcionada e nem triste. Ela parecia preocupada comigo.

- Pedi para a Thalia preparar seu prato favorito - ela colocou as mãos sobre meus fios, me fazendo ficar surpreso

- Não está chateada comigo? - perguntei perplexo.

- Filho... - ela suspirou. - Você é meu filho, mas eu preciso agir daquele jeito na frente do seu pai... - desviei os olhos dela, respirando fundo pelo nariz. - Mas, ele vai jantar e dormir fora hoje em um jantar de negócios em Busan e então decidi que eu gostaria de ter uma noite incrível com o meu filho!

- Tem certeza que não está chateada? - perguntei novamente.

Minha mãe era a pessoa com quem eu mais me importava e era a que eu mais amava no mundo todo. As vezes dói muito eu ver ela concordar com o meu pai, mas eu sei que ela não faz por mal.

Uma vez quando eu era criança, com uns quatro anos, eu devo ter feito alguma besteira que pessoas daquela idade fazem e meu pai iria me bater, mas ela entrou na frente e disse que se quisesse bater em mim, teria que bater nela, e ele a bateu.

Meus pais pensaram que eu fosse esquecer com o passar dos anos, já que nunca mais tocaram no assunto, mas eu nunca esqueço ele levantando aquele cinto para ela.

Decepcionar minha heroína seria um desgosto para mim mesmo, não sei nem se eu conseguiria encara-lá se ela confessasse estar magoada.

- Você é meu filho, não um número - ela deixou um beijo em minha testa. - Vamos comer antes que esfrie. Ela fez hambúrgueres de cheddar, e batatas fritas com cheddar e bacon, porque todos nessa casa sabem que você gosta. - ela sorriu.

Acabei sorrindo de volta e ela me puxou pelo braço até o andar de baixo.

Jantamos aquele jantar gorduroso que se meu pai visse aquilo, faria um discurso de que devemos comer comidas mais saudáveis.

Enquanto a gente comia, ficamos assistindo filmes na sala de cinema, maratonando sagas atrás de sagas.

Aquela tava sendo a melhor noite da minha vida depois de muito tempo e para ser sincero, eu facilmente viveria sem meu pai por perto, eu tô amando isso.

- Que horas são? - perguntei em meio de um bocejo.

- Duas da manhã, é melhor irmos dormir, te ajudo a esconder as olheiras amanhã sem seu pai perceber. - ela falou e então nos encaramos, começamos a rir logo depois.

É tão bom quando eu passo um tempo assim com alguém. Sinto que posso ser eu mesmo, o Jungwon feliz. Não o Jungwon atarefado, que vive com a cara nos livros, no computador pesquisando, ganhador de concursos, essa era uma versão de mim que eu nunca quis ser.

Afinal, qual é o sentido da vida se você não a vive?

Sei que estudar fará bem para o meu futuro. Quando eu era criança, descobri que tinha uma paixão por legos, logo meu pai associou aquilo como se eu quisesse seguir carreira como arquiteto, todo seu desejo só aumentou quando ao invés de jogar videogame de lutas ou histórias, eu preferia jogar jogos no estilo de construção, como Minecraft, The Sims e House Flipper.

Confesso que arquitetura é minha segunda opção e não deixa de ser algo que eu queira, mas eu sempre quis me matricular em uma academia de dança, ou até mesmo fazer uma faculdade. Esse sempre foi meu maior segredo.

Sempre dancei quando criança, além de jogar jogos de construção, mas acho que meu pai sempre ignorou este lado que eu apresentava e ligou apenas para aquilo que ele acreditava dar um futuro.

Dançando eu me sinto vivo, sinto que é meu único refúgio, onde posso me acalmar antes de fazer uma prova, ou depois de uma briga feia com o meu pai.

Um dos meus maiores sonhos era ter algum grupo para dançar comigo e fazer covers de K-pop. Houve uma época em que meu pai me levava para conhecer sua empresa e sempre passamos por um calçadão, onde sempre tinha algum grupo de pessoas fazendo covers por ali, eu admirava e queria aquela vida para mim.

Espero que amanhã meu pai não volte de sua viagem nervoso por não ter saído como planejado, ou por ter perdido investidores ou filiais.

Ele Morreu | JaywonOnde histórias criam vida. Descubra agora